Capítulo 5 - Vozes

94 17 0
                                    

Heller Dimitrescu

A iluminação da janela ao lado da cama me faz acordar com uma pequena dor nos olhos e aos poucos me levanto lutando contra a preguiça por ter dormido apenas três horas. 

Após me levantar, fico sentado na beira da cama. Olho para a escrivaninha ao lado da janela e vejo peças se roupas de couro pretas dobradas em cima da cadeira. Uma mochila vazia e uma espada na bainha pendurada no braço da cadeira. 

— Você ainda tinha vinte minutos para dormir. — Disse Daniela virando a página do seu livro. 

Olho para todas as irmãs presentes no quarto sentadas nas poltronas em frente a cama. Cassandra sentada no braço da poltrona acompanhando a história do livro junto a Daniela e Bela fixa seu olhar em mim. Olho por olho.

— Não se preocupe. Nossa mãe não nos deu permissão para tocar em você. — Disse Bela se levantando, pegando as roupas de couro em cima da cadeira e me entregando em minhas mãos. — Tem que se apressar, quanto mais rápido for, mais cedo voltará. 

Cassandra fecha seu livro com força fazendo um pequeno estalo. As irmãs saem juntas caminhando para fora do quarto e fechando a porta. 

Após eu me vestir, coloco a bainha junto com a espada na cintura, saío do quarto acompanhado das irmãs que me guiam até a saída nas masmorras abaixo do castelo. 

De frente a uma porta dupla pivotante, elas dissseram para eu abrir depois que elas saíssem da minha presença. 

Não deram motivo. Porém consigo imaginar que é o frio. 

— Vê se não morre, garoto. — Daniela apalpou meus ombros, Cassandra acenou para mim e Bela me apresentou um sorriso de canto antes de sairem transformadas por um enchame de insetos. 

Sozinho agora, abri a porta e o vento gelado passou por mim com velocidade. Graças as roupas de couro feita a mão, principalmente o sobretudo e as botas que me ajudam com a neve no solo. 

O frio não é tão efetivo como da última vez que estive fora, mas nem por isso deixa de ser um frio do inferno. 

Caminhando com o mapa em mãos, analiso os trajetos que tenho que seguir e suas possibilidades realistas. Mesmo que a Senhora Dimitrescu tenha anotado o caminho a ser seguido, há muitos Lobisomens... tenho quase certeza de que a Senhora Dimitrescu os chama de Licanos. 

Eles não são o único problema, tenho que tomar cuidado também com o frio e os ventos que vêm com ele. Para pegar uma hipotermia é fácil. 

Minha rota alternativa é pela floresta, mas pode demorar muito até chegar a fábrica, com sorte, minha chegada prevista seria no anoitecer. O lado bom de pegar a floresta é os troncos das árvores. Por mais que não me protegem do frio, podem me proteger dos ventos fortes. 

Por outro lado é o trajeto que a Senhora Dimitrescu fez passando no meio do vilarejo, é bem rápida comparado ao meu caminho, porém é bem provável que há muitos Licanos, mas eu consigo chegar ao castelo antes de anoitecer. seria uma grande quebra de tempo.
Mas eu tomo minha decisão.
É melhor eu ficar mais tempo fora do castelo do que morrer de hipotermia. Não fazem nem cinco minutos e já estou congelando, é melhor eu correr, quanto mais cedo melhor. 

.
.

A falta de Licanos que rondam a floresta me permitiu a passagem. Cheguei bem rápido, mas não imaginária que seria cercado depois de passar pela floresta. 

Acima das colinas olhando para muitos e muitos Licanos ao redor de um celeiro do lado da fábrica, assim como o mapa nas mãos representa a existência desse lugar. Certamente poderia ignorar e ir direto, mas eles estão no caminho. Logicamente estou um pouco cansado e parece que tenho muita... muita falta de confiança na Senhora Dimitrescu. 

Há mais de vinte Licanos aqui, isso significa que não haveria quase nenhum no Vilarejo e que eu poderia dar uma pequena volta para evitar este local. 

Eu sairia daqui se aquele dois Licanos imensos não estivessem bloqueando meu caminho na frente. Um segurando um grande machado de aço, vestindo apenas as calças e botas. O outro com um grande martelo vestindo um enorme sobretudo preto com o capuz peludo. 

Como se não bastasse, nas costas me impossibilitando de voltar, muitos Licanos bloqueando o caminho por onde acabei de passar minutos atrás.
"Não vai me dizer que tá com medo?" 

Posso tentar correr o máximo que posso, pegar os documentos na fábrica e sair da região, mas isso dependeria da sorte para sair vivo. Mas eu já não estou contando com a sorte aqui por ninguém me avistar ainda...? 

"Apenas deixe que o desespero tome conta de você..." 

Não dá pra negar, como vou sair daqui sem lutar? O frio tá ficando ainda mais intenso com o anoitecer, e com ele a escuridão. Vai piorar ainda mais as coisas. 

"Não me ignore... ou você deixa eu assumir esse corpo ou morre sendo devorado vivo."

Toco a bainha que segura a espada feita de aço. Olho para as roupas que estou vestindo de couro como também as botas e percebo o sol entre as núvens já no horizonte. 

"Vê se não morre" hein... apresento um sorriso de canto enquanto expiro o ar que saí como fumaça da boca. 

Vai depender do que vem agora, garotas. Pois já me avistaram... 

Rugidos são ouvidos, o som do martelo quebrando o solo rochoso e o machado de aço dos gigantes raspando o chão fazendo faíscas em forma de intimidação. A lua prestes a aparecer e com ela a escuridão. 

"Adoro ver esse seu lado animal, garoto. Nunca perdeu a graça."

Heller DimitrescuOnde histórias criam vida. Descubra agora