Bela Dimitrescu
Dei-me a liberdade de trazer um livro da biblioteca junto a mim em meu quarto. Sentada em uma das duas poltronas que fica na ponta da mesa retangular, sendo preenchida em sua lateral os sofás, sobre a própria se encontrava uma xícara de chá, porém substituindo tal líquido por sangue.
Meu quarto se encontrava em silêncio, a quietude começou a parecer um tanto satisfatória à mim. O som de choro da criança não era mais ouvida nesta tarde, e por mais que ela está do outro lado do castelo, seus choros e berros são sim ouvidos por todos nós. E não, não vêmos isso como um problema, afinal é apenas uma criança. Tal que, diferente da vaca na qual Heller trouxe alguns dias atrás estava realmente me deixando com nervos, até que Daniela desnutriu ela por completo pegando todo seu leite.
Seria engraçado se o que víssemos na mesa não fosse a primeira vez. Mas o transparecer do espanto cravado nos rostos de Heller e Heisenberg ao ver Daniela comendo uma vaca inteira foi sim impagável. Além dos próprios fazerem o sinal da cruz enquanto viam aquela cena.
Sou despertada pela porta que bate ao fundo alta, atrás de mim. Eu movi os ombros, pouco me assustando pelo som.
Não sei o que Daniela disse à ela na última vez em que os ví juntos, mas desde então Heller agora procura fazer barulho, indicando então sua presença naquele local. As vezes é bom, mas assustar de graça em certos momentos, não.
Ao olhar de onde o barulho víera, lá estava ele de pé. Os ombros do sobretudo preto que pegara de seu pai naquela batalha estavam manchadas pela chuva de neve que já havia virado em seu estado líquido. De seu cabelo, pingavas as gotas no chão e seu peito se movia junto aos ombros pela respiração instável.
— Por que está com essa aparência? — Trovejei com um tom impaciente na voz.
— Sua mãe me pediu para buscar algumas ervas medicinais. — Suspirei cabisbaixa. Eu não quero confrontar minha mãe, mas enviá-lo apenas para buscar ervas é um exagero que, mesmo Heller estando na minha frente com o sobretudo e cabelos molhados não é motivo suficiente para me convencer, afinal, temos o comerciante. — Ao que parece, para a criança. — Terminou sua fala.
"Para a criança" hã...?
Realmente o leite de vaca não é adequado se comparado ao leite materno. Se isso progredir, as ervas medicinais não terão efeito em uma segunda vez. Minha mãe sabe disso.
O que seria mais apropriado para substituir o leite materno, mas sem maleficiar a saúde da criança?
Porém a criança apresentou sintomas de não ter um leite materno presente em seu organismo e seria esse o motivo de enviar Heller para buscar as ervas? Se esse for o caso, a probabilidade de vir a óbito ou ficar a beira da morte seria enorme. Tal que se não começar a ingerir o leite materno essa semana, sua morte será inevitável.
— Conheço essa expressão. — Tirou Heller dos meus pensamentos. — Compartilhe a preocupação comigo. — Mais como se fosse uma ordem do que um pedido.
— E por que eu faria isso? — Fechei o livro delicadamente antes de direcionar o olhar para frente, pegando a xícara de chá bebendo o sangue que continha nela.
— Se me dizer o que a preocupa, eu posso pensar em algo e talvez dar a você uma idéia, tese ou seja lá o que vier na cabeça para ajudá-la.
— Duas cabeças melhor do que uma?
— Eu... eu não diria isso. Pelo menos não por parte de mim. — Meus risos baixos tomam conta do local, e só depois percebi tamanha sombra a minha frente.
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Heller Dimitrescu
ПриключенияSob neves intermináveis que tocam o solo em todos os anos desde que um enorme castelo fora construído em frente ao nosso vilarejo. Nada e nem ninguém sabe o que aquelas paredes feitas de pedra guardam em seu interior. Luzes de velas sempre eram vist...