Bela Dimitrescu
— Eu te amo. — Disse eu. — É uma desculpa ruim para o que estou fazendo, mas é verdadeira. — Abaixei sua mão com cuidado, e coloquei a minha mão em seu rosto, acariciando-o. — Quero que fique seguro, é o meu desejo.
Seu olhar e sua expressão eram neutros; por tal forma de se apresentar ao ouvir minha declaração. Ele só ficou alí, parado. Me encarando paralisado.
— Não vai dizer nada? — Perguntei virando a cabeça para o lado, evitando contato visual.
— Estou confuso. — Disse Heller. Por um breve momento em silêncio, acrescentou algo a mais na fala. — Genuinamente confuso. — Meus lábios estremeceram ao forçar um sorriso, mas não transmitindo humor.
Heller tirou ambas as mãos que estavam em volta de minha cabeça, direcionei meu rosto e olhar à frente, em sua direção e percebo ambas as mãos já depositadas no bolso do sobretudo. Rápido se me permite dizer.
— Você tem idéia do que está falando? — Perguntou Heller e franzi minha testa, apresentando tamanha dúvida. — Eu não assusto você? — De imediato, virei o canto dos lábios para cima ao receber a pergunta em um tom brincalhão, mas, pude sentir a curiosidade e nervosismo em sua voz.
— Atualmente não. — O abrir de seu sorriso cintilou com o brilho da luz da janela, onde a neve caira suavemente no ar.
Eu me aproximei, tirando minhas costas da parede com a mão estendida em seu braço, cujo a tirei do bolso. Acompanhando os contornos de suas veias azuladas com a ponta dos dedos. Abri a palma da minha mão e passei-a suavemente pelos músculos de seu braço. Com a outra mão, virei sua palma para cima.
— Diga o que está pensando. — Perguntou Heller.
Levantei a cabeça e olhei em sua direção, mas não esperava receber um olhar me fintando, tal que de tão intensos que eram que eu de imediato franzi a testa por um único segundo e correpondi com o mesmo olhar. Percebendo o que estava fazendo, Heller virou seu pescoço para o lado, direcionando seu rosto para a porta em um movimento ofuscante de tão rápido e desconcertante. Isso me surpreendeu; meus dedos paralisaram em seu braço e na palma de sua mão.
— Me desculpe. — Sussurrou em um tom de voz melancólico.
Ao perceber tamanho silêncio que prevaleceu no local, decidi responder sua pergunta o mais rápido possível.
— Ironias. — Após minha resposta, direcionou novamente seu rosto em minha direção, carregando consigo um olhar de extrema curiosidade e dúvida. — Digo isso pois estou acariciando a mão da mesma pessoa que decepou a mão da minha mãe.
Seu olhar em minha direção mudou de curioso à um olhar semicerrado, semelhante à um olhar de arrependimento.
— Peço que não leve isso à sério. Sabe tão bem como eu que de fato não foi sua escolha e seu modo de pensar. — Olhei sua mão e rabisquei erraticamente, sem regularidade do que estava fazendo em sua pele; apenas desenhando com os dedos de forma aleatória. — Também queria não acreditar que esse seu lado realmente não pudésse ser real. E também não sentir medo.
— Não quero que sinta medo. — Disse de imediato com sua voz em um murmúrio suave.
— Não me refiro exatamente ao medo, embora isso certamente dê o que pensar. Eu diria que está mais para... — Levantei de novo meu olhar sobre ele, mas não esperava receber novamente ambos os olhos à centímetros do meu. — ... insegurança. — Terminei a fala em um sussurro.
Eu podia... não, devia. Devia ter me afastado o quanto antes, como se eu me assustasse com seu olhar afiado e sentir a ponta de ambos os narizes se tocarem pela aproximação inesperada por sua parte, mas não consegui me mover.
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Heller Dimitrescu
AdventureSob neves intermináveis que tocam o solo em todos os anos desde que um enorme castelo fora construído em frente ao nosso vilarejo. Nada e nem ninguém sabe o que aquelas paredes feitas de pedra guardam em seu interior. Luzes de velas sempre eram vist...