Capítulo 35 - Desconfiança I

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Bela Dimitrescu
Uma semana depois

Nosso querido roteiro arrumou as janelas para que possamos ficar rondando no castelo novamente, mas por entre os corredores sinto apenas uma vasta solidão. Mesmo antes de Heller ter vindo oculpar mais um espaço neste castelo, eu tinha a companhia de minhas irmãs, porém nem isso... no agora elas se isolaram em seus quartos.

O Capitão: Chris, desapareceu assim que a nossa mãe retornou para o salão dos quatro e seus subordinados soterrados em meio a neve lá fora. Miranda também se foi, para onde é algo que não sabemos. O último contato que tivemos com... bom, com todos foi naquele dia em que Heller matou os três lordes, como disse que faria.

Eu me encontro no meio da biblioteca acima dos degraus que há no centro, pensando naquele dia... naquele maldito dia! O lugar onde passo mais tempo, como também, passava mais tempo com Heller. Eu não consigo odiar as pessoas por não ter um sentimento que posso receber delas, mas Heller... ele...

— Hic~. — Por que ele fez isso? Mesmo com aquele motivo... isso não deveria ter acontecido! Não desta forma... que droga!

As lágrimas que caem dos olhos, que escorrem nas minhas bochechas e se dessipam no chão em silêncio, enquanto aperto meus lábios por ser tão... tão impotente! Nem mesmo a droga do livro eu pude usar.

Eu acreditava que eu poderia mudar, ter alguém pra conversar, ter alguém que eu possa...!

— Bela. — A voz da minha mãe atrás de mim e olhando a minha frente, sua grande sombra estampada no chão. Virei meu pescoço para ela e a própria me viu neste estado deplorante. — Venha comigo. — Ordenou ela. Em segundos tentando reagir para me levantar, eu a sigo pelos corredores.

De cabisbaixo, sigo minha mãe para onde quer que vá. Não olho para frente de maneira alguma, as minhas pernas se movem sem nem mesmo eu querer. Minha auto-estima, meu ânimo está quebrado.

— Entre. — O tom da minha mãe não transparecia nenhuma emoção, apenas relevante. O tanto de carne que ela comeu, seu fator regenerativo lhe concedeu uma nova mão?

Mas isso nem mesmo pode explicar o impossível que estou vendo a minha frente. A boneca Angie chorando no colo de Donna, Heisenberg agradecendo minha mãe com dificuldade em se expressar tal gratidão e minhas irmãs abraçando ambos.

Em resumo: Donna e Heisenberg respirando... e vivos.

— Está se perguntando... "como?" — Com um sorriso largo da minha mãe, ele prossegue com sua explicação. — O sangue de Heller concede o fator de cura, isso vímos em primeira mão mas... não é só isso.

Antes da minha mãe prosseguir com a explicação, Donna balança a palma da sua mão no ar em minha direção, me cumprimento de longe. Eu a respondo fazendo o mesmo gesto.

— Após o mutamiceto invadir a célula hospedeira, o próprio é capaz de reescrever o DNA do hospedeiro e até mesmo criar seu próprio tecido muscular, cérebro e sistema nervoso. — Com a explicação da minha mãe se formando, o silêncio de todos ouvindo suas palavras é o que prevalece no ambiente. — A grande quantia de multiplicação exagerada das células do mutamiceto, os hospedeiros infectados desenvolvem habilidades regenerativas sem contar com outras derivadas, em suma... o sangue que corre nas veias de Heller reforça tal habilidade, podendo facilmente curar ferimentos graves, recuperar membros decepados e até mesmo sobreviver à perda de grandes volumes de sangue e órgãos vitais.

O sangue de Heller... minha mãe deve ter tirado uma grande quantia do seu organismo para poder fazer tais atos por Donna e Heisenberg. E falando do mesmo, o sangue do Heller ainda percorre por entre minhas veias mesmo durante todo esse tempo.

— Como sabia disso? — Perguntei não transparecendo nada em meu semblante. Nem uma pitada de alegria, raiva ou tristeza. Estou simplesmente neutra.

— O sangue de Heller ainda percorria em meus vazos sanguíneos. A cura exagerada após ter minha mão decepada denunciou o fato de que sim, fazer a ressurreição de Donna e Heisenberg não era nada impossível. — Decretou com um sorriso de canto, mas não ví sequer uma satisfação transparecendo.

Então sua mão não foi restaurada após ingerir carne, e sim do próprio sangue de Heller...

— Eu não sei exatamente o que Heller tem em seu organismo, mas é algo poderoso, não tenho dúvidas disso. — Decretou nossa mãe e retornei meu olhar a minha frente, vendo Daniela abraçando Donna e Angie. Cassandra ao lado de Heisenberg, parecem até amigos pelo vínculo que mostram.

Eu... eu acho que deveria estar feliz com isso. Mas sequer demonstrei um sorriso após sair da presença de todos com a cabeça baixa. Fui até a grande escadaria do Salão dos Quatro depois do Saguão Principal. Me sentei em meio ao centro dos degraus e alí fiquei, pensativa.

Heller sabia que éramos monstros e como tal, a nossa personificação é algo que não pode ser mudado por uma pessoa ou até mesmo pela ordem de vossa mãe. A lei da sobrevivência existe e está alí. Matar para sobreviver. Ele sabia disso. A ordem de alguém superior ao aceitar um trabalho de proteger um frasco não seria razão suficiente para Heller surtar e procurar matar a todos, mesmo que o recipiente guardava uma criança.

O que ele ganha com isso?
O que ele ganharia em troca?
O que ele espera ganhar após ajudar?

A razão de ter feito tudo isso e, se existe motivo, não seria algo suficiente para decretar para sí mesmo. É a mesma coisa que ter que matar uma pessoa sem motivo ou razão alguma, dado que é praticamente impossível.

É impossível Heller ter feito isso sem um julgamento concreto. É impossível. Eu me recuso a acreditar que ele tenha feito tudo isso sem uma razão, uma razão na qual não era pela criança no frasco ou pelo homem, Ethan que invadiu nosso castelo e, em suma, ainda deu um tiro em sua cabeça e... e oferecer ajuda ao próprio!?

Que merda é essa!?

Não tem sentido
Isso não tem sentido.
Não há sentido.
Não vejo sentido!

— WHAA! — Gritei... gritei colocando a mão na cabeça e com ambas as mãos em ambos os lados puxando os cabelos.

Eu preciso de uma explicação, eu preciso de algo... qualquer coisa que me dê ao menos uma pista. Uma única pista possa ser suficiente para elaborar uma hipótese ou até mesmo uma tese. Eu preciso de uma explicação vindo do próprio Heller, mas como eu faço para ele vir até aqui depois de tudo àquilo?

Espe- Espera...

— O livro. — Sussurrrei.

Posso trazer ele aqui com o livro, certo? Só que há um porém. As palavras que descrever no livro não será seguido exatamente, logo, se eu escrever que, Heller venha até o castelo, do lado de fora seria o bastante para a ordem ser finalizada. Contudo preciso ser mais específica, ordenar que Heller pise no Saguão Principal será o bastante para mantê-lo dentros dessas paredes. De preferência sem que ele arrombe um buraco na parede para que o frio possa entrar.

Na biblioteca avisto o livro em questão de segundos, pouco resíduo de pó permanecente em sua capa feita de couro. Ao abri-lo, derrepente uma veia inflando minha têmpora por tal raiva é apresentada. Não perdi meu tempo tentando pensar os motivos, pois quero uma explicação bem convincente da minha mãe.

Por quê está descrito na página do livro que Heller deveria matar os três lordes e mais...

— Que merda de caligrafia é essa?

Heller DimitrescuOnde histórias criam vida. Descubra agora