Capítulo 53 - Confissões

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Bela Dimitrescu

Sem hipotermias, gripes ou sejam lá as doenças que os seres humanos podem acatar neste frio. O pátio do castelo era tão belo quanto a imagem que vía pelas janelas borradas e cobertas de uma intensa chuva de neve.

Sentia os olhos de Heller cravados em mim, como se fosse analisar um único desconforto que eu tivesse sendo a única razão para me tirar daqui em um único instante. Mas no frio, até eu pude perceber sua fraqueza, mas ele só então me deixou no chão quando estávamos debaixo de uma estrutura que se encontrava no meio do Jardim.

A neve agora caía lentamente até o solo. Uma vista linda, tirando um garoto de preto que não parava de me encarar com uma postura ereta, mas com um dos calcanhares atrás, pronto para dar um único impulso. Eu suspirei com um sorriso de canto.

— Estou bem. — Declarei saindo um pouco da estrutura e recebendo ao topo da cabeça e sobre meus ombros, a neve.

Tão bela quanto qualquer outra forma que eu poderia imaginar naquele momento. Eu dançava com vestido, as mãos segurando as vestes onde a neve caira. Eu estava rindo atoa, até que eu estremeci meus ombros abruptamente.

— Você está bem? — Perguntou Heller atrás de mim e me virei lentamente. Percebia que me abraçava com meus próprios braços, cruzando-os no peito.

Uma tentativa falha de me aquecer.

— Só estou com frio. — Ao término da minha fala, tirou seu sobretudo e colocou sobre mim.

Estava mais quente do que quando usei minutos atrás como cobertor. Ficou óbvio que ele forçou voluntariamente suas veias para conseguir tamanho calor.

— O que está achando? — Perguntou ele, se direcionando para detrás de mim e juntando as mãos em frente à minha barriga como um abraço.

— Posso jurar que isso não passa de um sonho. — Declarei com um sorriso mostrando os dentes. — Me responda uma coisa: aqui não é o céu, né?

Senti seu peito encher e se apertar nas minhas costas e um leve vento quente saindo de suas narinas após soltar o ar.

— Se aqui fosse o céu, por que eu estaria aqui?

— Pare. — Exigi de imeadito. — Não... — Terminei em um sussurro enquanto balançava a cabeça.

— ... — Um momento de silêncio prevaleceu. — Eu nem sempre fui assim. Me permita que eu seja nem que por 10 minutos. — Pediu ele com uma voz baixa, carregando tamanha melancolia.

— E o que desejaria por 10 minutos? — Perguntei franzindo o cenho, dúvidosa.

— Quero estar 10 minutos no paraíso antes que o diabo perceba que eu morri. — Sussurrou Heller.

Desfiz o abraço me soltando e virando para ele. Seus olhos estavam cravados acima da minha cabeça. Meus pensamentos foram interrompidos de forma agravante enquanto eu o vía degradado; sua fisionomia se franziu, carrancudo.

— Por que... está dizendo essas coisas? — Perguntei cada palavra lentamente.

— Porque uma vez você disse essas mesmas coisas. — Olhou para mim com um sorriso tímido. — Ou quase... — Semicerrou seus olhos tentando reprimir seus risos.

— Você é inacreditável... — Balancei a cabeça tentando esconder meu sorriso. — Então isso... nos torna iguais? Tipo... nesse sentido?

— Não. — Respondeu de imediato. — Você é muito mais do que isso. E eu disse isso alguns minutos atrás... — Deu os ombros.

Heller DimitrescuOnde histórias criam vida. Descubra agora