Capítulo 25 - Conforto

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Heller Dimitrescu

Já fazia algum tempo desde que estamos aqui, talvez até mais de quatro horas sentados jogando Blackjack. Lady Dimitrescu é uma ótima jogadora, Donna por outro lado depende de sorte para termos algumas rodadas ganhas.

Terminamos o jogo, apenas eu com uma exaustão e cansaço enorme se residindo em meu corpo. Nem sequer descansei apropriadamente depois de ter trago Donna e Angie. Vencemos o jogo. Lady Dimitrescu nos trouxe a última vitória.

Cassandra deve à Donna, Bela com Lady Dimitrescu e Daniela à mim, deve-se fazer quaisquer coisas que outro desejar.

— Ah... — O suspiro frustrante com uma mão contra sua própria testa, Daniela me olha com um olhar agressivo. — E então?

O silêncio predominava a sala, sentia mais frio com o olhar intenso de Bela quase que me atravessando. Fixando meu olhar em direção à Daniela, comento o que eu não quero dela.

— Diga-me! — Levantou sua voz impaciente.

— Não me irrite com o assunto de Donna e Angie. — Decretei com um semblante calmo, mas a entonação de voz ameaçadora.

Mesmo que eu esteja na presença de Lady Dimitrescu, preciso firmar que isto já bastou. A infantilidade de Daniela chegou ao seu limite, Donna e Angie nem mesmo contaram o que aconteceu e Bela segue o ritmo sem enxergar a razão, apenas a emoção por sua querida irmã.

Saí do cômodo apenas pedindo licença à Lady Dimitrescu, onde a própria permitiu, mas com a condição de fazer companhia até seus aposentos. Antes de nos retirarmos, Lady Dimitrescu esclareceu que não queria nada vindo de Bela, apenas a agradeceu por terem se divertido juntas.

O sorriso encantador de Bela e com as mãos atrás de suas costas deixa visível o orgulho transparecer diante ao semblante.

Saímos pelos corredores em direção aos aposentos de Lady Dimitrescu. Vendo pelas janelas à fora, o dia está amanhecendo.

— Qual o motivo de estar brigado com Daniela? — Perguntou a própria dando-se liberdade ao acender seu cachimbo enquanto caminhamos lado à lado.

Pensativo por um breve momento, decido explicar resumidamente.

— Quando fui buscar Donna, a boneca veio intervir-me com suas brincadeiras de torturas. Avisei à ela que era responsável para traze-la junto comigo ás suas ordens e explicando a situação, contudo, não me deu ouvidos. — Continuei com meu olhar sempre a frente, queixo erguido e mãos depositadas no bolso. — Ela me cortou, me furou e me caçou pela casa. Cheguei ao limite e resolvi acabar com isso. Daniela não gostou muito do resultado e Donna, assim como Angie que, agora se mantiveram inseguras em minha presença.

Lady Dimitrescu após meu relato, dá suas gargalhadas que ecoam pelos corredores do andar superior.

— Isso sim é novidade. Porém não se preocupe tanto. — Disse e continuou ela. — Se fosse eu em seu lugar, eu a teria matado. Apenas, pelo simples fato de eu não me dar bem com criança. — Concluiu esboçando um sorriso em seu rosto.

Psicopatia ou sociopata. Independente o quanto pense, não consigo sequer imaginar o que ela faria naquela situação contra Angie, mas se fosse eu o caso, a pressão que ela colocara e, como Eveline disse, nos primeiros momentos em sua presença, meu corpo liberaria hormônios junto á adrenalina.

O T-vírus me prepara para uma possível luta ou até mesmo a fuga. No meu caso, se eu estivesse contra Lady Dimitrescu, certamente iria fugir, isso é claro... se eu conseguisse. Aqueles olhos dourados, não há dúvidas alguma de que se esconde um grande poder, algo que ninguém ousa enfrentar se não estiver preparado para morrer.

Enfim, chegamos em frente à porta de seus aposentos. Lady Dimitrescu abre-a, mas antes de adentrar, virou-se para mim.

— Vamos permanecer no castelo de agora em diante. — Seu tom de voz imperativo deixa claro que é uma ordem. — Não há mais nada a fazer fora do castelo. Porém, temos que ficar atentos. — Ressaltou Lady Dimitrescu agora adentrando em seu quarto.

Mesmo dizendo para ficar atentos, para mim não à nada para se preocupar. Temos Donna, Angie, as três irmãs e Lady Dimitrescu no castelo, fora os demais monstros no protegendo desde o calabouço e o exterior acima do mesmo.

Virei-me na intenção de voltar para meu quarto, logo ao lado. Meus passos foram cessados no exato momento que me virei e bati meu queixo na testa da loira. De imediato, recuei tranquilamente. Fiquei encarando-a enquanto a mesma olhava para o chão. Para mim a única razão dela estar aqui é para ver sua mãe. Decido sair do seu caminho me direcionando para o lado, mas Bela ainda permanece no lugar.

— Vai fazer um buraco se continuar encarando o chão desta forma. — Ao término de minha fala, Bela de cabisbaixo, algumas mechas de cabelo ocultavam quase que por completo seu rosto, mas ví uma pequena parte de seus lábios se curvando, esboçando um sorriso.

Segundos após a mesma ergue sua cabeça, direcionando seu olhar em minha direção. Consigo ver por completo seus lábios curvados, me apresentando um sorriso de canto.

— Palhaço. — Disse Bela.

— Há algo que eu possa fazer por você? — Perguntei olhando em sua direção, apenas aguardando sua resposta.

— Sim. — Respondeu ela. — Mas primeiro, vamos até a biblioteca. — Virou-se e fazia seu trajeto pelos corredores.

Logo atrás de Bela, a mesma andava com estilo, sem pressa. Ambas as mãos livres e braços balançando ao decorrer de sua caminhada que não dura muito até chegarmos em frente de ambas as portarias juntas da biblioteca. Bela abre uma delas e adentramos no cômodo cercados de milhares de livros nas estantes.

O bocejo é feito e meus olhos ficam lagrimejados pela insônia enquanto eu fechava a porta do comodo imenso. Direcionei meu olhar a Bela, observando-a, encontrando-se em cima do palco no centro da biblioteca.

Caminhando até ela, paro próximo à ela atrás de suas costas. Eu espero Bela dizer algo, afinal tem que haver um motivo para estar aqui junto à ela. A mesma virou-se e ficamos alguns centímetros um do outro, os olhos nunca fugindo.

— Me desculpe pelo o que aconteceu antes, eu só... eu só... — Bela fica de cabisbaixa e não encontra mais as palavras, mas já está claro sua intenção.

Coloquei a palma da minha mão em cima de sua cabeça fazendo com que Bela erguesse seu olhar à mim.

— Ao menos você se desculpou. — Apresento à ela um sorriso de canto com um olhar fixado aos seus. — Louvável de sua parte.

Enquanto recuava a mão, passando em seus cabelos lisos e loiros de cor vívida, coloquei de volta em meu bolso. Bela sentou-se no chão, virou seu rosto para o lado oposto de onde eu permanecia e estava a murmurar algo consigo mesma.

Suas pernas juntas e dobradas, com o calcanhar próximo a cintura e uma mão apoiando seu peso. Bela com uma de suas mãos livres dando tapas no chão e mostrando para sentar-me ao seu lado. Não penso muito e aceito o pedido.

Sentado de frente a Bela, a própria se direciona confortando suas costas em meu peito e colocando sua nuca ao lado do meu pescoço, cercada pelas minhas pernas e braços em ambos os lados.

A pele dela era quente, como também se parecia à uma porcelana branca e vibrante. Era tão transparente que eu conseguia ver suas veias pulsando sangue em seu pescoço. Acho que, da mesma forma que ela e os insetos no qual ela se torna, carrega uma quantia de sangue.

"Isso é óbvio, idiota."

— Cala a boca.

— Que?

— N-Não, não é nada. — Levantei as mãos e sacudi as palmas de um lado para o outro.

Maldita!

A face que Bela ainda demonstra ao ver no canto dos meus olhos, é serena. Parece até que está descansando, com seus seus olhos fechados, sinto sua respiração. Seu peito enchendo de ar e saindo pelas narinas quentes.

Eu sinto minha exaustão e cansaço, não consigo resistir a ficar mais de olhos abertos, e com isso, não há mais nada à fazer a não ser adormecer.

Heller DimitrescuOnde histórias criam vida. Descubra agora