Capítulo 41 - Desejos I

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Bela Dimitrescu

Naquele dia que Heller ficou demasiado, fiquei tão... tão liviada por ter dado tudo certo. E ao decorrer dos dias, o castelo ficou mais vivido, como também mais agitado. Heller e Heisenberg criando uma conexão um tanto estranha, ainda mais com os quartos um do lado do outro. Tem dias que ambos acordam juntos, o que para ser sincero, é um pouco difícil de digerir o início de uma manhã tranquila.

E claro, hoje não foi diferente. Ambos saíram de seus quartos, Heller com o cabelo tão desarrumado que parece que uma corrente elétrica passou por seu corpo, enquanto isso o rosto de Heisenberg depois de acordar apareceu estar todo vermelho e arranhado.

— Que cara de cu com cãibra é essa? — Bocejou Heller olhando para Heisenberg.

— Não sabia que o corte de cabelo Black Power tava na moda. — Retrucou Heisenberg.

Fiquei na frente de Heller e Donna à frente de Heisenberg. Última vez que deixamos ambos juntos sozinhos, acabaram que quebrando alguns ossos do corpo um do outro. A regeneração pelo sangue de Heller estar circulando nos vazos sanguíneos de Heisenberg nos deixa um pouco seguros até certo ponto. Mas nem por isso podemos deixá-los sozinhos depois do que aconteceu.

Conseguimos um quarto para Ethan e sua filha, mas visto que a criança precisava de uma alimentação saudável, o que para seu corpo em fase de crescimento era fundamental. O leite era algo preocupante, já que leite materno era algo em falta. Heller cogitou de uma de nós dessemos leite à criança. Não sei se a perda de memória afetou ele por esquecer que estamos mortas, mas o soco de Daniela que entortou seu maxilar não é algo que ele esquecerá por um longo tempo.

O leite materno não é apenas um alimento. Ele tem uma função protetora importante, pois reduz a probabilidade de seu bebê ter diarreia, gastroenterite, infecção de ouvido, resfriados, gripes e candidíase. Além de diminuir para a metade o risco de síndrome de morte súbita infantil. Bom... é o que é descrito nos livros da biblioteca, Ethan deu uma boa leitura atrás de algo que não pudesse expor sua filha ao mínimo de perigo possível. Pois o leite materno contém um tipo de ferro que é altamente absorvido pelo intestino do bebê, além de conter vitamina B12 e ácido fólico, cujo são importantes para a produção dos glóbulos vermelhos, onde os próprios são responsáveis pelo transporte de oxigênio no sangue.

Isso foi um grande problema até descobrirmos o mofo presente no organismo da criança, onde as preocupações foram diminuídas, mas de forma alguma foi eliminada a possibilidade de ter o risco que traga malefícios a sua saúde.

Heller também cismou por estar apenas comendo carne humana, então por alguns dias ele saía para caçar animais. Moreau que foi ressucitado também foi por vezes a procura de peixes junto à Heller, e nesse meio tempo leite de vaca que, por milagre ainda estavam vivas e PIOR... o próprio Heller trouxe uma vaca nas costas para o castelo um dia. Foi algo que a criança realmente precisava, mas não pensei que seria tão engraçado vê-lo ter feito este tipo de coisa.

Em questão do assunto da carne, eu diria que estava estava sendo um pouco fresco. Deixou claro que comer uma única coisa durante toda semana realmente é enjoativo, por excessão de nós Dimitrescus, onde realmente ingerir carne e sangue não é algo discutível. Não é diferente com nossa mãe, pois devido à doença sanguínea hereditária, ingerir carne e sangue regularmente é para manter a regeneração. Uma refeição desbalanceada é provável que resulte em mutações descontroladas.

Mas como Heller que saiu pra caçar meio mundo lá fora, dúvido que fiquemos sem carne, sangue, muitos peixes e claro... leite por um longo tempo.

O medo de Donna e Angie sobre Heller desapareceu completamente. Um vínculo de amizade foi construído, mas o oposto foi com Daniela, eu acho. Heisenberg e minha irmã parece uma dupla para ridicularizar Heller, enquanto Cassandra fica ao lado dele. Parecem crianças por esses ponto de vista, mas o sorriso de canto que nossa mãe demonstra em quase todos os momento deixa claro que esses momentos é realmente engraçado que, antes era raro de se ver neste castelo.

— Você só conseguiu carne e peixe durante as semanas? — Perguntou Heinseberg, decepcionado com o que estava vendo.

— Se preocupa não, posso pegar alguns ratos para você no calabouço do castelo. — Disse Heller apontando a ponta da faca em direção à Heisenberg do outro lado da mesa. — Se quiser eu mesmo faço. Novo cardápio: Filé de rato. — Deixou a faca de lado enquanto falava e mostrou ambas as palmas das mãos a frente de Heisenberg.

Daniela que até o momento estava apoiando Heisenberg, porém nem mesmo ela se conteve com o comentário de Heller.

Visto que todos teminaram de comer, nossa mãe saiu de nossa presença pedindo a licença. Ethan foi cuidar de sua filha, e outros foram fazer suas tarefas ou até mesmo matar o tempo. Desde aquele dia mau conversei com Heller, além de assuntos relevantes que era conversado entre todos na mesa.

— Ei, Heller, Bela. — Chamou Cassandra e Daniela em uma só voz. — Venham aqui! — Disseram elas com um grande entusiasmo.

Mas antes de Heller se juntar a nós, o próprio se deu a liberdade de tirar tudo que havia sobre a mesa. Também disse que iria nos encontrar na biblioteca, pois Duque que teria outra história para contar. Sabe-se lá como ele conseguiu sair do lugar e PIOR... subir as escadas.

Ele ao menos consegue andar?

— Chegamos. — Declarou Daniela após ultrapassarmos a porta que inclusive já estava aberta.

Uma mesa retangular presente na biblioteca e o único livro com capa e contra-capa feita de couro se encontrando em cima da própria. O livro que controla Heller. Desde aquele dia, não devolvemos para as prateleiras ou sequer tocamos no livro. Até porquê nunca tivemos esse direito.

Todos sentados junto ao Duque no chão. Não queria ser diferente, mas sentar no chão não me parece nada encantador. Saindo dos pensamentos com batidas de portas que ecoam no cômodo, Heller acabara de chegar na biblioteca. O próprio se senta na cadeira que se encontrava ao meu lado em frente a mesa retangular. Era noite, apenas as velas estavam acesas iluminando muito pouco apesar de ter candelabros no cômodo.

A sala estava escurecida, pouca presença da luz emitida pelas velas fracas. Eu senti com clareza que Heller estava sentado a menos de dois centímetros de mim. Fiquei pasma, mas inquieta com a eletricidade que passava pelo meu corpo para que eu pudesse pelo menos ter o controle da minha consciência. Quase dominada por um forte impulso, inclusive enorme de estender minha mão e tocá-lo. Cruzei os braços firmemente no peito, os punhos por entre eles bem cerrados e apertados, uma forma onde eu pudesse otimizar tal vontade de afagar seu rosto naquela quase escuridão.

Duque acabara de terminar sua história onde não pude ouvir sequer palavras para prestar a atenção. Daniela e Cassandra ficaram um tanto incômodadas pelo escuro que a biblioteca estava e decidiram iluminar ainda mais o local, tal que a biblioteca tinha luz suficiente que parece ter colocado lâmpadas em partes do cômodo.

Quando colocaram a vela a frente de mim e Heller para não nos deixar no completo escuro, meus olhos, por vontade própria foram atraídos em sua direção. Sorri timidamente ao notar que sua postura era idêntica à minha, os punhos cobertos por seus braços musculosos, cujo estavam cruzados a frente de seu peito e olhando-me de lado. Heller também sorriu, curvando seus lábios de um só lado. Virei meu rosto antes que começasse a ficar envergonhada e deixar ele perceber tal reação.

A hora parecia cumprida, eu não conseguia pensar na outra história que Duque estava começando. Nem mesmo sabia o gênero. Tentei relaxar, ficar mais calma, mas sem sucesso. Aquela corrente elétrica que fluía pelo meu corpo me deixava atiçada. Vezes que eu me permitia dar uma olhada rápida de relance em sua direção, percebi que o próprio apresentava uma face de dor, onde parecia também procurar se acalmar. O imenso desejo de tocá-lo não diminuía de forma alguma, até que apertava meus punhos com mais força, onde no processo meus dedos doeram do esforço e no agora, eu apresentava estar com uma face de dor, coincidentemente igual à de Heller.

Soltei um suspiro quando Duque havia acabado com suas histórias. Ambas as irmãs, Heinseberg, Donna e Angie se juntaram a nós sentando-se a mesa. Estiquei meus braços acima da cabeça, flexionando os dedos enrijecidos, prendendo a respiração com os peitos erguidos e elevados, curvando as costas para trás. Expirei fortemente, gemendo internamente com o prazer por ter me espreguiçado. Heller riu ao meu lado e depois voltou a fintar seu olhar sobre a mesa em sua frente.

— Por pouco... — Sussurrou ele, suspirando disfarçadamente.

Heller DimitrescuOnde histórias criam vida. Descubra agora