Prólogo

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Um ano antes...

Era como estar sendo rasgado de dentro para fora; minhas veias se assemelhavam a labaredas de fogo, e a dor em cada centímetro do meu corpo era lancinante. Eu podia ouvir meus ossos rangendo a cada movimento feito por mim, conseguia sentir meu sangue secando a cada minuto que eu passava sem me alimentar, porque eu estava no limite, e ninguém poderia me parar quando chegasse a hora.

Foram dez pessoas ontem, e trezentas dois dias atrás; eu quebrei uma regra, uma lei absoluta, e se a fome não me matasse, outra pessoa me condenaria à morte. Eu não me importava, a dor que me consumia por dentro, ameaçava me estilhaçar, embora eu já estivesse destruído.

Tudo era diferente agora, as cidades, o mundo, tão distinto de sete séculos atrás, e eu perdi tudo isso. Cada porcaria moderna que embaralhava meu cérebro, e que não fazia ideia do que eram, porque o mundo agora já não era mais o mesmo, e nem eu era.

Arrastando meus pés pelo chão terroso do bosque, senti um cheiro familiar em meio a escuridão e o silêncio daquele lugar, conforme eu caminhava há mais de duas horas, buscando qualquer tipo de alimento que acabasse com a minha sede incessante. Meus sentidos se aguçaram, me guiando até onde estava uma garota, deitada sobre uma máquina estranha que eu descobri se chamar carro. Ela encarava o céu, tranquila e alheia à minha presença, talvez nem mesmo se permitindo pensar nos perigos que a espreitava.

Eu caminhei silenciosamente até ela, sentindo o aroma doce de sua essência invadir meu espaço pessoal; cada átomo do meu corpo se agitou, e de repente eu não pensava em mais nada. Apenas naquilo, naquela fonte de vida que se acumulava dentro de suas veias — e eu a queria, imediatamente.

Como se sentisse a minha presença, a garota virou a cabeça, olhando-me com o cenho franzido em confusão, antes de saltar do carro, e se colocar de pé no chão, me estudando cautelosamente.

— Quem é você? — Questionou, acusatória, mas não senti nenhum medo emanando dela, o que era surpreendente.

Pendi a cabeça para o lado, analisando-a em silêncio. Era uma garota jovem, provavelmente na casa dos dezesseis anos; pele pálida como o luar e cabelos castanho-escuros na altura dos ombros. Não conseguia ver seus olhos, mas deduzi serem da mesma cor dos fios ondulados, agitados pela brisa gélida. Fiquei fascinado, de repente, hipnotizado por aquela pequena criatura — não era sempre que eu parava para observar as minhas refeições, mas ela...

— É perigoso andar por aqui à noite — Alertei, semicerrando os olhos — Sozinha — Acrescentei, talvez houvesse alguma insinuação de uma ameaça em meu tom de voz.

— Você é policial, por acaso? — Arqueou uma sobrancelha, sarcástica.

Pisquei, impressionado com a língua afiada que possuía, e a coragem de usá-la sem nem imaginar com quem estava falando.

— Sou só alguém que já viveu o bastante — Comentei, dando de ombros — Não deveria ficar aqui à essa hora — Insinuei novamente.

— Eu gosto do que não me convém — Emitiu, os lábios se curvando em um sorriso irônico.

— Você é dessas? — Ela franziu o cenho — Das que quebram as regras — Esclareci.

A garota exalou, emitindo um riso nasal logo depois. Continuei encarando, incapaz de desviar meu olhar.

— É uma regra garotas não poderem sair à noite sozinhas? — Inquiriu, debochando — Eu sei me cuidar sozinha.

Dark Wish (Série Dark #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora