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MAYA

Depois da nossa tentativa falha de transar, Vinnie e eu tivemos de nos vestir e sair do quarto com os meus melhores amigos. Mesmo eles tendo nos atrapalhado, Vincent preferiu ainda sim ficar comigo. Essa semana ele passou todos os dias no meu apartamento e ficou pelo menos duas horas comigo para saber se eu estava realmente bem, ele me contou que Amelie voltou para Nova York depois de Aspen e que ele já foi visitar ela. Ela realmente está numa clínica de reabilitação.

Essa semana eu me toquei de uma coisa: Meu pai não iria gostar de me ver triste, quando eu era criança e chorava por alguma coisa, ele sempre me fazia rir quando podia. Ele odiava me ver chorar, então eu decidi que não poderia mais chorar por causa de sua morte. O funeral foi no dia seguinte depois que ele morreu, minha mãe organizou tudo. Sei que ela também sabia das condições do meu pai, afinal, eles fizeram um cruzeiro juntos. No dia que se seguiu, o meu pai foi cremado, minha mãe e eu jogamos suas cinzas da ponte do Brooklyn, como ele disse que queria.

"A morte de Leonard Vitale e a passada de poder." Foi o que a mídia falou a semana inteira. "Leonard Vitale foi um dos homens mais bem sucedidos de Nova York com seu império de cassinos. Nascido e crescido em Nova York, à beira de seus 47 anos, Leonard morreu nesse domingo (2) devido a um câncer de pâncreas, deixando para trás sua esposa, Katarina, e sua filha de apenas 20 anos, Maya. Maya irá assumir o controle da empresa e terá ajuda do sócio, Maxim Coleman, pai da atriz e cantora Zendaya Coleman." Isso veio da New York Times, ninguém além do advogado da família e Maxim sabem que eu já tinha o controle da empresa mesmo antes de meu pai morrer.

A neve começou a cair em Nova York hoje e eu resolvi voltar ao escritório. Eu tive emoções demais por duas semanas e eu acho que já está na hora de superar isso e focar no meu trabalho. Vincent parece estar quase se apaixonando por mim mas sei que vai demorar um pouco até ele admitir mas eu estou sendo fraca e tola, estou caindo em suas conversas e gostando de seus beijos e sorrisos. Ou ele está sendo verdadeiro comigo ou ele é mais inteligente do que eu e está manipulando tudo isso, eu não posso subestimá-lo.

Porém, eu gosto dele. Gosto dele pela forma que age, ou finge agir, comigo. Gosto como nossos corpos entram em sintonia na cama, gosto quando ele me chama de princesa, mesmo sendo raras as vezes, gosto quando ele se importa comigo como ele fez quando me ajudou a vomitar na balada e ficou cuidando de mim até chegarmos no hospital e também quando meu pai morreu. Ele, literalmente, me deu banho e escovou os meus dentes, escovou o meu cabelo e me vestiu em roupas limpas. E isso, pra mim, é um sinal de fraqueza pela minha parte porquê se ele se apaixonar por mim eu vou ficar com pena de quebrar seu coração.

Mas eu fico pensando, e se tudo isso for coisa planejada da parte dele? E se ele realmente foi mais esperto que eu e me manipulou para chegar onde estamos? Ele pode ter usado o caso da Amelie ou a morte do meu pai como meios de chegar até a parte mais vulnerável de mim. Se ele tiver me manipulando, no final dessa brincadeira eu lhe darei os parabéns. Não são muitas pessoas que conseguem ter a capacidade para isso.

Caminho até a sala ao meu escritório na sede, ainda não tenho coragem de ver o escritório para o qual meu pai havia se mudado e esvaziá-lo. Cumprimentei algumas pessoas na chegada, elas me disseram "meus pêsames" ou "sinto muito pelo seu pai". Cumprimentei Jake assim que cheguei na porta da minha sala, perguntei como ia sua família e ele disse que ele e seu marido planejavam adotar mais uma criança para fazer companhia a Makayla, sua filha de 4 anos. Eu falei que achava uma ótima ideia.

Quando eu entro no escritório, lembro de quando meu pai me trazia para o trabalho e bricava comigo de vários jogos usando o baralho. Ele me ensinou a jogar blackjack, me ensinou a jogar poker, buraco, pifpaf e vários outros jogos. Ele me ensinou a blefar e saber como jogar da forma certa, a reconhecer jogadas e blefes de outras pessoas. Me sento na cadeira e tenho a visão que ele tinha. Abro minha gaveta para pegar uma caneta e começar a trabalhar mas vejo uma coisa que talvez meu pai tenha deixado aqui enquanto eu estava fora de Nova York. Retiro meu livro favorito que meu pai lia para mim quando eu era pequena, A Bela e a Fera, e abro o pequeno e fino livro, me deparando com um papel que não deveria estar aqui. Um papel branco dobrado em duas partes, eu franzo o cenho e o pego em minhas mãos, o abrindo em seguida e lendo.

- Que porra é essa...?

VINNIE

Melinda está em meu escritório e estamos no meio de um debate sobre o paradóxo de Epicuro quando Maya entra pela porta. Eu preciso falar para o recepcionista me avisar sempre alguém que eu conheça entre no prédio.

- Você sabia dessa merda? - ela coloca um papel sobre minha mesa e eu a olho confusa. Pra quê tranta fúria do nada?

- Eu acho melhor deixar vocês conversarem. - Melinda se levanta mas Maya faz um sinal com a mão e ela volta a se sentar.

- Você fica também, afinal, você também pode saber disso. - ela fala. Nunca a vi falar nesse tom com Melinda, ou seja, ela está realmente com raiva de alguma coisa.

Pego o papel e o abro. "Oi, Maya. Se você estiver lendo isso talvez eu esteja vivo ou talvez não, mas preciso te contar uma coisa. Você sabe que faz anos que o pai de Vincent, Patrick, tenta comprar nossas ações ou fazer parcerias entre as nossas empresas e você sabe muito bem que eu sempre neguei e não era por causa dos negócios mas sim porquê tem uma história por trás.

Patrick e eu nos conhecemos há 35 anos, desde que eu tinha 11 e ele 14. Nós viramos amigos depois de eu o conhecê-lo num acampamento de verão, era seu terceiro ano lá e o meu primeiro. Acabamos na mesma cabana e viramos amigos. Patrick não tinha muito dinheiro na época, sua família não tinha 1/4 do que tem hoje mas ele era ambicioso, é até hoje. Patrick e eu levamos nossa amizade para fora do acampamento pois ele também morava em Nova York, mas diferente de mim, Patrick morava no Bronx.

Ficamos tão próximos que viramos melhores amigos mas chegou uma fase que sua família mal conseguia se sustentar. Seus pais pediram aos meus que cuidassem de Patrick pois ele era um garoto brilhante, meus pais também acreditaram nisso. Por uns dois anos isso foi bom, Patrick e eu podíamos nos ver todos os dias e arrumamos um amigo novo, Maxim. Maxim era da escola dele, dois anos mais novo que Patrick, e então começamos a andar juntos. Porém, chegou um ponto em que Patrick não quis mais nada.

Ele não queria saber sobre a escola, não queria saber de mim e Maxim, não queria saber dos meus pais, não queria mais nada que os meus pais poderiam oferecer para ele, desde uma educação em uma faculdade renomada caso ele passasse, até um trabalho em um dos cassinos. Meu pai queria fazer com que Patrick tivesse uma parte da empresa para ele mas Patrick negou qualquer coisa que viesse dele. Assim que chegou o verão de seus 18 anos, Patrick se mudou para Los Angeles com o dinheiro que juntou fazendo bicos e trabalhos de verão.

Há 11 anos atrás, Patrick Hacker voltou para Nova York e quando soube o quanto o império dos nossos cassinos haviam crescido ele se arrependeu e disse que queria retomar o que deixou aqui em Nova York mas eu lhe disse que ele se atrasou mais de 20 anos para isso. Seu avô já havia morrido naquela época porquê estava na hora errada e no lugar errado no dia 11 de setembro de 2001. Até hoje Patrick tenta fazer negócios com nossa família e eu sei que Vincent está tentando o mesmo com você, essa história não é de agora. Eu só peço que tenha cuidado, minha filha."

- Você sabia disso, Vincent? Sabia que meu pai e o seu tinham uma história? - a morena cruza os braços enquanto Melinda pega o papel de minha mão para ler.

- Eu juro para você que eu não sabia de nada, Maya. Eu sei que meu pai não aceita um não e achei que estivesse fazendo tudo isso por todo esse tempo de birra. - eu me levanto de minha cadeira.

- Essa história de namoro então não teve influência do seu pai. Ou teve? - a morena passa a mão pelos cabelos escuros. Merda, ela sabe. Ela sabe e está tão na cara que eu não posso negar. - Uau.

Por que ela está chateada? Isso não era um jogo de sentimentos? Não era ela a garota que estava me manipulando até a um tempo atrás? Isso é um contrato e quem ganhar, ganhou. Não importa se eu estou me apaixonando por ela e não vou contar isso pra ela.

Espera. Que pensamento foi esse? Eu estou realmente me apaixonando por ela?

𝐌𝐈𝐋𝐋𝐈𝐎𝐍 𝐃𝐎𝐋𝐋𝐀𝐑𝐒  ღ  𝘷𝘪𝘯𝘯𝘪𝘦 𝘩𝘢𝘤𝘬𝘦𝘳Onde histórias criam vida. Descubra agora