☆ RESSURRECTO ☆ Corte De Espadas E Ressurreição ☆

Cap. 90 - Flagrante

Shēnxiù Qī se preparou para afastar e repelir Azriel, para negar tudo com veemência. Ela não era Rigel e nunca mais seria. Rigel estava morta há mais de duzentos anos, especificamente quando ela fora mentalmente acorrentada a Onigen, aos 16 anos, sucumbindo à Domação.

Ali fora o fim daquela criança tola, o fim da princesinha da Corte Noturna.

Sua mão vacilou e deslizou do rosto de Azriel, que percebeu o esfriamento de Shēnxiù Qī. Viu as micros estrelas se apagarem dos olhos cerúleos, uma a uma, e a fortaleza da indiferença se reerguer, ofuscando o brilho natural.

Segurou-a pela mão, antes que se afastasse, antes que saísse de seu alcance. Não poderia deixá-la em defensiva contra ele, não poderia deixar ela se afastar e se esconder novamente. Entrelaçou seus dedos nos dela, não conseguindo desassociar suas próprias cicatrizes das de Shēnxiù Qī.
Nem ele esteve tão sozinho quanto ela ficou por muito, muito tempo. E essa constatação o dilacerou.

“A sua mágoa é justa e eu sei que a mereço...” – Azriel sussurrou, apertando a mão de Shēnxiù Qī contra o seu peito enquanto a prendia pela cintura, evitando que se afastasse ainda mais dele. “mas... me permita a chance... uma chance de reparar esse erro!”

Leve tremor passou por Shēnxiù Qī. A mão sobre o peito de Azriel aquecia. Por um pequeno espaço de tempo, se concentrou nas batidas poderosas do coração dele, que vibravam em seus dedos e subiam ao seu próprio coração.

Poderia confiar nele? Ele merecia a confiança dela? Ele merecia segunda chance?!

Medo e Desejo.

Principalmente com o Laço de Parceria pressionando a situação!

Ela não entendia muito bem qual o mecanismo dessa maldição. Em Xian, o povo não ficava preocupado com essas coisas, não era comum encontrar pessoas atadas pelo Laço. Quase todos que conhecia tinham relacionamentos escolhidos por afinidades e não por imposição do Destino, o deus maldito.

Graças ao Togiishi, ela não sofria tanto a ação do Laço, o que a favorecia em não tomar decisões estúpidas. Mas, quanto a Azriel? O quanto ele estava sendo afetado por essa maldição?

A resposta viria um instante a seguir.

Azriel puxou-a para junto de si, baixando a cabeça em direção ao rosto de Shēnxiù Qī, traçando beijos leves pela mandíbula dela, provocando o desejo e a ilusão que, sabia, não poderia se entregar. Se abrisse a guarda, se lhe desse permissão, seria a sua ruína.

“Estou ciente de toda complexidade que a envolve, Rigel...” – Azriel sussurrou ao ouvido de Shēnxiù Qī, fazendo-a se encolher pelo arrepio involuntário e odioso – corpo traiçoeiro! Ele riu ao perceber o efeito causado, erguendo a cabeça e descansando a testa sobre a dela. “... inclusive que o meu comportamento é extremamente inadequado... pelos poderes outorgados pelo Grão-senhor... você é minha Senhora e eu sou o seu servo e... eu a quero tanto... de outra forma!”

Shēnxiù Qī sequer teve tempo de processar todas as informações – que poderia usar a seu favor num futuro próximo! Azriel a tomou, roubando beijo e fôlego. E ela, para seu próprio horror, não quis se defender, não quis impedir!

E não queria que terminasse...

Um ruído alto, seguido de uma presença contundente, fez com que ambos se congelassem de medo, como fossem dois adolescentes pegos em flagrante.

Monge Lobsang Rampa estava parado ao lado do altar, as mãos envelhecidas fechadas em punho sobre o rosário de sândalo que sempre carregava. Atrás dele alguns monges e noviços indignados, outros se esforçando para conter a risada. O velho abade também se esforçava.