Cap. 74 - Se há a Despedida, há o Reencontro

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Alguma coisa ali não se encaixava. Ou ele não queria que se encaixasse. Se ele tivesse usado com seriedade as suas habilidades de espião, talvez tivesse descoberto sobre isso. Mas tudo que ele queria era stalkear a garota, muitas vezes agindo como um woyeur depravado.

Cassian desconfiava de que ela fosse um dos lendários Cães de Onigen. As poucas evidências que tiveram levavam a isso, mas ele não queria aceitar essa possibilidade. Era uma realidade terrível demais.

“As minhas pretensões passam longe disso, embora, claramente, a senhorita tenha algo contra a Corte Noturna, mas... não seria a primeira pessoa que não gosta de nós e, com certeza, não será a última. Estou interessado mesmo é na sua história.” –

Eis a oportunidade que ele esperava para coletar todas as informações que precisava, embora duvidasse muito de que Shēnxiù Qī contaria algo de importante. Ela continuará escondendo o jogo, escondendo a sua história.

Shēnxiù Qī recuou um passo. A história dela era longa demais, cruel demais e reveladora demais, caso ele fosse juntar os pontos. Ela não podia contar o seu passado.

Por que, diabos, ela teve que revelar algo que queria esquecer para sempre?!

“Não há nada a ser contado... escravos não têm passado, logo não têm uma história para contar.”

“Sempre foi escrava? O que veio antes disso?”

Azriel ergueu a mão direita. Mesmo relutante, deslizou com suavidade o polegar ao lado da cicatriz na face esquerda de Shēnxiù, sentindo leve eletricidade faiscar entre a pele dela e a sua mão.

Uma das quatro cicatrizes verticais que, por si só, contavam uma parte da história dela.

Seus dedos deslizaram para o ombro, invadindo timidamente o roupão de seda, sentindo a maciez da pele por baixo da alça fina da camisola, apesar das outras cicatrizes, estas mais graves.

E, se ele estivesse certo, se tudo não fosse apenas um delírio seu, ela teria cicatrizes ainda mais terríveis nas costas. A resposta estava tão próxima, estava ao alcance de suas mãos, mas, ainda assim, tão distante... se ele queria fazer as coisas acontecerem da forma certa, se ele queria que a revelação partisse dela, se ele queria que ela confiasse nele o suficiente para isso... ele precisava conduzi-la a esse caminho.

Mas de que forma, se tudo o que ele fazia era levado a efeito contrário?
Se ele só reforçava o medo e a repulsa que ela sentia pela Corte Noturna, por ele?!

E por que Rigel teria medo de sua própria gente, de sua... família?!

Shēnxiù Qī teve um leve tremor pelo toque, com a eletricidade faiscando por onde os dedos de Azriel deslizavam. Seu primeiro impulso foi o de se afastar, mas acabou cedendo até muito fácilmente, fechando os olhos para melhor sentir, pela primeira vez, o carinho do seu Companheiro... algo que ela pensou jamais acontecer entre eles.

Não quando ambos se hostilizavam mutuamente.

“Você não tem instinto assassino... pode ser um pouco impulsiva e brava às vezes, mas não a ponto de assassinar pessoas a sangue frio.” – Rigel jamais faria isso, ele tinha absoluta certeza. A natureza dela teria de ser destroçada e distorcida ao ponto da ruptura.

“Não diga o que não sabe, Azriel...” – Shēnxiù Qī queria se afastar dele, afastar-se dos carinhos dele, mas seu corpo traiçoeiro não a obedecia. “Eu fui domada e treinada para isso. Não tem nada a ver com instinto.”

“Domada?”

“Sim... assim como se faz com cães de verdade... através de violência e humilhação, se doma e se treina o animal para caçar e abater as presas. É isso que acontecia a todos os Cães de Onigen.”

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