“Como está Ziyi?”
Foi a primeira coisa que Shēnxiù Qī disse ao entrar na casa em que estava hospedada com a princesa e a educadora.
Ela estava abatida, com olheiras se formando sob os olhos. Choo-Kheng escrevia as suas intermináveis anotações, tendo duas pilhas de livros e pergaminhos espalhados sobre a mesa baixa.
“Dormindo. Tive que dar a ela um hidrólio forte para acalmá-la. Não compreendo o comportamento exagerado dela.”
Shēnxiù Qī sentou-se sobre as pernas, no lado oposto da mesa em que Choo-Kheng estava, apoiando-se nos cotovelos.
“Talvez... ela esteja entrando na puberdade... e se ela possuir alguma semente de poder, assim como os irmãos mais velhos, então devemos estar preparadas para mais rompantes como esse, seguido de alguma manipulação de energias.”
“Também pensei nessa possibilidade. Farei o teste hormonal nela assim que possível. E tentarei detectar algum sinal de magia.”
Choo-Kheng descansou o pincel num godê raso de cerâmica e voltou sua atenção à Capitã, notando os traços de exaustão que marcavam o rosto bonito e solene.
“E como você está, Shēn? Demorou muito para fazer um simples relatório. Já é início da noite!”
A jovem suspirou fundo, endireitando os ombros, ficando ereta. Ela, realmente, estava exausta. Não apenas pela malcriação de Ziyi, mas pelo infeliz encontro com a Corte Noturna e tudo o que isso significava. E a beberagem com faebane que tomou pela manhã estava em seu efeito máximo naquela hora.
“Relatar o ocorrido ao Vice Rei e ao Escriba que levará o relatório ao Suserano não foi tão rápido assim, mas... resolvi caminhar um pouco pela Praça dos Templos... para espairecer.”
Sabendo que Shēnxiù Qī não responderia à pergunta referente a si, Choo-Kheng preferiu ignorar. Afinal, no momento, ela não precisava de nenhuma resposta quando o efeito do dia estava impresso no semblante de feérica mais jovem.
“E o que o Vice Rei achou disso tudo?”
“Ele riu.” Shēnxiù sorriu de tristeza, baixando os olhos para a mesa tomada de papéis. “Xuan achou que era exagero meu levar tão a sério o mau humor de Ziyi, que eu só estava buscando uma maneira de voltarmos para o Leste, sabendo ele que eu tinha feito de tudo para dissuadir o Rei de virmos a esse evento...”
“Bem típico... mas ainda assim conseguiu convencê-lo da gravidade do problema?”
“Não o convenci... mas consegui obrigá-lo a enviar o relatório a Yimou Zhang. É claro que tive que me submeter a alguma humilhação ao ouvir as opiniões de Xuan ao meu respeito... porém, o importante é que o fato foi relatado e amanhã teremos alguma posição do Suserano.”
Shēnxiù Qī levantou-se para ir ao quarto e pegar toalha e roupas limpas. Ela precisa urgente de um banho quente e reconfortante. Era uma pena que não houvesse uma banheira disponível, embora existisse uma piscina pública nas dependências do resort, mas lá ela não chegaria nem perto.
“Provavelmente, o Rei terá a mesma opinião do filho... eu sinto muito, Shēn. Você se dedica plenamente ao seu trabalho, mas não obtém o reconhecimento apropriado.”
“Isso é o de menos. Não me importo de qualquer forma.”
Os illyrianos caminharam por mais uns quinze minutos, até atingir o final da avenida do Polo Gastronômico.
O restaurante combinado era o último, uma imponente construção de quatro pavimentos, com telhados vermelhos em formato de trapézio, colunas douradas ornamentadas e esculturas de belas aves com longas plumas que lembravam pavões em voo.
A placa de madeira pintada em vermelho trazia os estranhos ideogramas do alfabeto tradicional de Xian em dourado reluzente, que refletia as luzes feéricas das centenas de lanternas espalhadas pela avenida e pelo varandão que contornava o prédio.
“Não dá para entender o que tá escrito, mas acho impossível errar pela descrição que Chan nos deu: final da rua, único prédio de quatro andares, telhados vermelhos e estátuas de pássaros.”
“Suzaku.” – Azriel corrigiu.
“É o quê?” – Cassian se virou, encontrando o Encantador de Sombras com um atípico semblante admirado, olhando com quase devoção a imponente construção.
“Suzaku, o Pássaro Vermelho e deidade do Reino Sul. Nas nossas lendas, pode ser equiparado com a Fênix.”
Cassian meneou a cabeça lentamente, torcendo os lábios para baixo. “Tem feito a lição de casa ao invés de ir brincar na rua durante as férias! Bom menino!”
“Ossos do ofício, General! Obter informações é o meu trabalho.”
“Que nada! Você que é um tarado mesmo! É o único de nós que ocupa todo o tempo livre com estudos! Pensei que em quinhentos anos você já teria lido todos os livros que existem! Ainda é fã de História e Filosofia?”
“E Geopolítica e Física também. E agora estou tentado a conhecer Astronomia e Astrofísica. Xian tem uma bibliografia extensa sobre esses assuntos. Nunca li os livros de Xian, então há muito para eu aprender ainda, e minha bagagem está começando a pesar.”
Cassian olhou novamente com assombro para o Mestre Espião, já subindo o varandão do restaurante.
“Você influenciou a pequena Rigel nisso, não foi? Lembro que Rhys reclamava de não saber quais títulos adequados deveria dar à irmã nas comemorações, pois a menina só queria livros de presente, fosse no Aniversário, Solstício ou Queda das Estrelas!”
O semblante de Azriel se iluminou em um misto de emoções, o que só deixou Cassian mais assombrado por tanta expressividade. O Encantador de Sombras sorriu melancólico.
“Ela era uma criança curiosa, sedenta por viver. Passamos muitas horas na biblioteca do Palácio. História e Filosofia sempre foram as matérias preferidas dela. E Geografia. Ela gostava de se debruçar nos mapas. Dizia que quando crescesse, nós iriamos voar o mundo inteiro, conhecendo todas as terras que existem...”
“Eu tenho certeza... de que vocês realmente fariam isso... Eu sinto muito, Az...”
“Eu sei...”
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☆ RESSURRECTO ☆ Corte De Espadas E Ressurreição ☆
FanfictionA IRMÃ de Rhysand está VIVA e o repudia com todas as forças! Por 200 anos, acreditou que ele planejara a morte dos próprios pais para tomar o poder sobre a Corte Noturna. Portanto, RIGEL fará de tudo, até se envenenar com Faebane, para se manter oc...