A IRMÃ de Rhysand está VIVA e o repudia com todas as forças! Por 200 anos, acreditou que ele planejara a morte dos próprios pais para tomar o poder sobre a Corte Noturna.
Portanto, RIGEL fará de tudo, até se envenenar com Faebane, para se manter oc...
Havia uma lembrança maldita que jamais se apagou das memórias de Rigel, um único episódio do qual ela não conseguia superar em hipótese nenhuma: a morte de sua mãe.
Ainda ouvia os gritos de dor e desespero dela enquanto era submetida pelos demônios da Corte Primaveril. Os gritos de sua mãe ainda atravessavam a sua cabeça, enquanto as asas dela eram serradas com lentidão, e os braços eram quebrados enquanto ela lutava em vão para se libertar.
E, somente depois de adulta, Rigel, já então sem um nome e com um passado tenebroso, entendeu o que mais havia acontecido, que escapava da sua compreensão até então. O amigo de Rhysand tapou seus olhos e ouvidos, a afastando da imundície e perversidade que faziam contra sua mãe, mas não o suficiente para que ela não ouvisse completamente.
Tamlin a afastara da cena, levando-a para dentro da floresta, aproveitando-se da distração dos irmãos e do pai enquanto torturavam e estupravam a mulher. Mas, mesmo com seus ouvidos tampados e a distância, os gritos de sua mãe ecoaram em seus ouvidos, gravando-se em sua alma para sempre.
Michelle Choo-Kheng, de alguma forma, preencheu o vazio e amenizou essa dor ao longo de duzentos anos, mesmo quando Rigel não mais existia e um escravo hebetado era tudo o que a jovem Princesa da Corte Noturna havia se tornado.
Portanto, beirando à raia da irracionalidade, despertando o instinto primitivo de proteção pura e selvagem, qualquer ameaça contra a sua mãe adotiva era das poucas coisas que Shēnxiù Qī não conseguia controlar em seus impulsos de atacar e defender.
Assim ela agira contra a Corte Noturna no fatídico baile.
Assim ela agia contra a prepotência e desvario de Saito Hajime.
Shēnxiù Qī compreendeu completamente o que ouviu da boca do Comandante da Guarda Urbana, mesmo usando o idioma áspero do Reino Oeste. E ele mal proferiu sua última palavra quando a Capitã puxou ruidosamente a espada da bainha desgastada de couro, e o silvo do metal da lâmina contra o metal da parte interna foi alto e agoniante – uma sentença de morte!
A espada desceu em um arco, acertando Hajime no ombro direito, cortando na diagonal até o quadril esquerdo. A força do golpe não apenas quebrou parte da armadura que o Comandante usava, como o lançou em metros de distância, fazendo-o rolar de costas pela ponte em arco, parando apenas quando bateu contra o calçamento em pedra da outra extremidade da ponte.
Mesmo com as contenções magísticas, embora sem o efeito do Faebane que não era ingerido há três dias, o poder de Shēnxiù Qī faiscava pelas pontas de seus dedos, tentando escapar como serpentes jogadas no fogo. A energia do Éter estalava entorno da feérica, e um raio em forma de foice ainda a circundava, mostrando o exato trajeto feito pelo golpe da espada.
Um vazio vermelho preencheu sua cabeça e ela não enxergava nada além do estúpido grão-feérico caído à sua frente, ao longe. Seus passos lentos, como de um predador se preparando para o ataque, foram detidos apenas pelos rumores distantes que vinham às suas costas, só despertando de fato quando ouviu Choo-Kheng gritar o seu nome pela terceira vez.
Os três jovens guardas urbanos correram ponte acima, com as armas em ristes e prontos para o ataque. Eles não reconheciam a Capitã e tudo o que viam era uma ameaça trajada nas vestes dos lendários Cães de Caça, os Shuryō Inu, que eles aprenderam a odiar durante os estudos e treinos na academia militar.
Azriel, embora a confusão de sensações e sentimentos que o ameaçavam afogar, se posicionou em defensiva à Shēnxiù Qī, mas sequer foi capaz de dar três passos, interrompendo-se pela reação imediata de sua Companheira.
Os guardas avançaram apenas poucos metros quando Shēnxiù Qī se voltou para eles, golpeando o ar com a espada, formando um arco de pura energia etérica que foi o suficiente para os três rapazes serem jogados para longe como se pegos por um chicote de vento.
Fenrir agarrou Ziyi e Heike em seus braços, saltando para longe antes que fossem atingidos pelos guardas arremessados. Os três vinham no encalço para descobrir o que estava acontecendo e mal haviam pisado na ponte quando presenciaram o princípio de combate.
Choo-Kheng se colocou diante de Shēnxiù Qī, segurando-a pelos braços, tentando desesperadamente apascentar a feérica antes que ela cometesse um erro grave. Entendera o que Saito Hajime dissera. Sabia quais as reações de Shēnxiù Qī. E temia que ela acabasse matando a todos por ali.
As contenções de seus feitiços eram fortes, mas não seriam capazes de deter o poder de Shēnxiù Qī se ela ficasse descontrolada.
"Shēn, por favor, por favor, pare! Hajime está apenas blefando, blefando!"
Um calafrio percorreu a espinha dorsal de Choo-Kheng, fazendo-a estremecer da cabeça aos pés, quando Shēnxiù Qī baixou a vista para o seu rosto. A feérica que havia se tornado uma exímia Capitã e Mestre de Armas não estava mais ali, nem a jovem introvertida e silenciosa, que gostava de passar as horas vagas em meio a livros e estudos.
Os olhos de Shēnxiù Qī estavam vidrados e escuros, mal se podiam enxergar as escleróticas brancas. Era como se todo o globo ocular houvesse sido tomado por um abismo negro salpicado de minúsculas estrelas. A jovem havia caído na auto oclusão e o que ali estava era uma personalidade psicopata e obscura, era o próprio Cão Número Nove reencarnado.
A mesma apreensão foi sentida por Azriel, com o seu estômago afundando quando Shēnxiù Qī subiu os olhos para ele. Era como olhar para um fosso profundo, em que toda a luz era tragada pela escuridão.
Aquele ínfimo instante da troca de olhares entre eles foi o suficiente para Azriel vacilar em sua certeza... aquela pessoa ali jamais poderia ser Rigel... jamais poderia ser a sua menina, o seu Pequeno Sol!
Shēnxiù Qī voltou-se para Choo-Kheng, que se afastara em um passo, só então notando as vestimentas negras do Cão de Caça que a jovem vestia.
No dialeto de Hagakure, Shēnxiù Qī proferiu a sua sentença contra aquela a quem considerava uma mãe e verdadeira amiga.
["Yeoh, você me traiu."]
Como se uma mão invisível esmagasse o seu coração, Choo-Kheng se afastou com os olhos rasos d'água. Desde o começo ela sabia que estava traindo Shēnxiù Qī, intrometendo-se numa particularidade que ela fazia questão de manter oculta. Tudo o que queria era saber sobre a vida pregressa da jovem feérica que recebeu em seus cuidados quando ainda era apenas uma criança. E julgava que a garota merecia ter de volta a vida que lhe fora roubada.
Queria entender o repúdio dela à própria família. Mas agora, naquele exato momento, percebeu o grave erro que cometia... Ela havia julgado e condenado a menina que conhecia há séculos, dando total credibilidade aos estranhos que ela apenas conhecia por histórias... e pela péssima fama.
Ela havia desdenhado e desacreditado o drama e a tragédia vividos por Shēnxiù Qī em sua infância. Somente a feérica sabia o que havia se passado e cabia a ela o justo julgamento.
Ela apenas não queria que sua família a descobrisse viva. E nem essa vontade Choo-Kheng respeitou!
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