Num quarto simples, desprovido de móveis além de duas camas estreitas e baixas e um armário embutido na parede, Príncipe Reike sentava em posição de lótus, com o livro aberto sobre as pernas e parado na mesma página desde que ele se instalou ali.
Outros livros e caderno estavam sobre o futon e uma pequena pilha se amontoava aos seus pés. O garoto estava contemplativo, absorto em observar as estrelas da Constelação de Órion, bastante visíveis naquela noite clara, com poucas nuvens.
Ele ainda tentava deglutir e compreender o que presenciou e o que descobriu sem querer. Sem esperar! Sem nunca, sequer, imaginar!
A porta corrediça foi afastada por um pé lupino descalço, dando passagem ao Capitão Fenrir que trazia em mãos uma grande bandeja com suporte, tendo tigelas de lamén com legumes fumegantes e uma cesta de frangos empanados, que ele depositou no chão entre as duas camas, sentando-se em sua própria cama.
Somente quando entregou uma tigela ao Príncipe Reike que Fenrir notou a apatia do menino. Ele estava introspectivo além do seu normal.
“Algum problema, Reike?”
O garoto olhou longamente para o tio, pegando a tigela com mãos vacilantes. Ele não tinha um pingo de fome.
“Você sabia, tio?” – Ousou perguntar, mesmo compreendendo que há coisa que não podem ser mencionadas nunca, lembrando-se da advertência grosseira que recebeu ao perguntar mais cedo.
Fenrir baixou sua tigela para as pernas cruzadas, tendo os pés apoiados no chão. Fechou os olhos por instantes, avaliando o quanto poderia dizer ao sobrinho.
“Não. Não isso.” – Respondeu simplesmente.
“Mas, o senhor... fez parecer que sabia muito bem quando mandou me calar.”
“Porque eu sei que algumas coisas não devem ser ditas em voz alta, menos ainda em locais públicos e no meio de estranhos.”
“Será que é verdade? Ou eu entendi errado... afinal, ela também não disse nada com todas as palavras... eu... apenas deduzi que... se ela foi um Shuryō Inu e... se ela libertou-se sozinha... ela foi mesmo um Cão de Caça?!” – Cada nova constatação parecia mais terrível que a outra e Reike sentiu-se enjoado com isso.
Embora Fenrir não se sentisse confortável com o assunto, alguma coisa precisava esclarecer ao sobrinho. Pois, por ter se tornado parte da cultura de Xian o ódio que envolvia a tudo relacionado ao Império de Ferro, definitivamente muitos que foram escravizados por Onigen não tinham culpa do que foram obrigados a fazer. Os Cães, em especial, não possuíam livre arbítrio. Sequer possuíam a própria alma!
“Reike... eu, assim como muitos da minha geração, fui aluno direto de Mestre Shēnxiù Qī. Ela nos ensinou tudo o que sabemos sobre armas e combate individual. Nos ensinou autodefesa a o Kenjutsu, a Arte da Espada. Naquela época, tudo o que sabíamos sobre ela, era ter sido a Comandante da Batalha Boshin. Somente depois de ter-me tornado adulto que eu soube sobre o passado dela como Shuryō Inu. Seu pai havia me contato. Apenas alguns figurões sabem sobre isso e aqueles com quem ela tem ligações de muito tempo, como General Logan.”
O jovem príncipe voltou à sua introspecção, avaliando as palavras de Fenrir, mas ainda não conseguindo decidir se isso abonava ou não Mestre Shēnxiù Qī, a quem ele tinha declarada admiração.
Mas, se fora ela mesma quem assassinou o Imperador Demônio, então...
“Ela deveria ser a Imperatriz de Xian...” – Murmurou, constatando o que parecia óbvio: se Shēnxiù Qī foi quem matou o Imperador Demônio, a coroa do império deveria ter caído sobre a cabeça dela e não de Huang Ti.
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☆ RESSURRECTO ☆ Corte De Espadas E Ressurreição ☆
FanficA IRMÃ de Rhysand está VIVA e o repudia com todas as forças! Por 200 anos, acreditou que ele planejara a morte dos próprios pais para tomar o poder sobre a Corte Noturna. Portanto, RIGEL fará de tudo, até se envenenar com Faebane, para se manter oc...