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— MIN YOONGI! - Ouvi o doce canto da sereia, ou o grito estridente de minha mãe, como preferirem, me chamar. Era verão, um sol chato e que me queimava. Nada mais justo do que um resfreco e frutas geladas na sombra, lendo um bom livro, alguém discorda? 

Preguiçosamente fui me levantando de meu oásis particular e me dirgindo até a entrada dos fundos de nossa casa, dava direto na cozinha e meu pai estava rindo sozinho enquanto tomava um suco.

Passei por ele, subi as escadas e encontrei minha mãe em meu quarto, sentada em minha cama com uma cara irritada e meio suada...

— E aí. — cumprimentei a beldade, esta que me olhou com azedume.

— Você está sem arrumar esse quarto desde que chegamos, Yoongi! A mala ainda fica em cima da cama com roupas dentro, como consegue dormir desse jeito? Calçados atirados, roupas sem dobrar, roupeiro cheio e livros espalhados! Eu começo a sentir falta de você o dia todo no celular, sem fazer bagunça e quieto. Agora é só gasto com livraria, bagunça e gritos! — Fiquei quieto, sabendo que minha mãe ainda não tinha terminado de falar e nem era bom que ouvisse minha voz. — Você tem agido diferente, meu filho, anda apático, não sai mais... eu não sei o que fazer. Estou sendo sincera, desde que.. — Meu corpo entrou em alerta, não queria ouvir nada daquilo. Interrompi minha mãe.

— Vou arrumar! Juro! Hoje mesmo, não saio daqui sem esse ser o cômodo mais cheiroso da casa. — Joguei meu livro na cama, sentindo muito pelas frutas que estavam sendo deixadas aos insetos lá fora. De qualquer modo, decidido, fui gentilmente empurrando minha mãe para fora do meu quarto enquanto minhas mãos ainda não tremiam. Era meu novo jeito de ser. Assim que ela saiu, sorri e fechei a porta, encostando minhas costas ali e suspirando.

Desde que eu fui passar um tempo com meu tio e conheci Taehyung. Era isso que ela ia dizer. Eu não sabia exatamente quanto tempo havia se passado desde...aquilo. Não sabia. Não queria parar e contar. Não queria saber. 

O uso do meu celular perdeu sentido porque as pessoas ali não eram mais relevantes, elas precisavam mesmo saber quais eram minhas atualizações do dia ou minha última frustração com qualquer coisa inútil? Eu estava sendo fútil, mas foi uma fase que não me satisfazia mais. Não fazia mais parte de mim. Aqueles que queriam me ver poderiam vir até minha casa, não? O fato foi que ninguém veio... nenhum dos meus amigos que eu falava todo dia. No lugar disso tudo, comecei a ler uns livros velhos que haviam pela casa, logo, fui me interessando e comprando outros quase todo final de semana. Minha mesada tinha que ir para algum lugar mesmo.

Mas... o principal motivo para largar o celular foi para combater a insaciável vontade de ligar pro meu tio e perguntar de Taehyung. Quer dizer, eu falava com meu tio, mas apenas o necessário e quando ele ligava para minha mãe. 

Como diria Edward Cullen sobre sangue: "comparo isso a viver de tofu e leite de soja... não sacia completamente a fome, mas nos mantém fortes". A vontade de voltar atrás era grande, mas eu consegui amenizar como pude. Ela só sempre estava lá em medidas diferentes.

Perdido em minha própria mente e cometendo o erro de pensar demais nas lembranças e na saudade que eu sentia, senti algo quente escorrer por minha bochecha vermelha devido à alta temperatura.

— Droga de caipira fracassado. — Xinguei e resolvi realmente arrumar minhas coisas, começando pelos sapatos, todos alinhados em minha sapateira. Depois, as roupas. As sujas foram jogadas em um canto e seriam levadas para a máquina logo em seguida, mas as limpas foram dobradas com cuidado e colocadas em meu armário repleto de outras roupas sem uso. A mala foi para baixo de minha cama rapidamente, como se fosse um bicho nojento. Todos os papéis e livros jogados foram guardados em gavetas e estantes pelo quarto, a mesa de estudos foi limpa, a cama teve lençóis novos e até o tapete foi aspirado. O chão foi limpo, mas e eu? Ainda era uma megera. 

Será que era isso? Eu era assim e nunca mudaria? Mudar era progresso ou...? 

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TAEHYUNG'S POV

Todo mundo era... vazio. Eu mais do que todos. Ficar remoendo a tristeza e até conseguindo se achar pior que alguém em algo já era um tipo de arrogância, mas não conseguia sair disso. Haviam dias melhores do que outros, isso certamente era verdade... mas no final deles... era a mesma coisa.

O que tinha acontecido, no final das contas? Tive muito tempo para refletir sobre isso. Aquele moleque simplesmente havia bagunçado minha vida e brincado com meus sentimentos, saído daqui sem remorço algum depois de levar meu coração junto. As coisas poderiam ter ido rápido demais, mas não é como se quiséssemos desacelerar na época. 

Vivi dias sinceros com Yoongi, me diverti com ele e aquele jeito confuso que ia de alguém divertido até uma pessoa totalmente impossível de lidar. Eu gostava das duas. 

Minha mãe voltara a morar comigo após um tempo, reduzindo seu tempo em seu negócio devido a uma dor insistente no corpo. Durante a noite eu era resposável pelo lugar, trabalho extra, grana extra, tudo ia bem. Todos os dias em que ela acordava mal e com dor, sem querer comer e vomitando quando comia, eu sentia que o tempo realmente estava passando para todos. Não queria dizer que ela estava morrendo ou algo do tipo, mas que ficar mais vulnerável e fraco é algo natural... 

Quem iria cuidar de mim?

Eu não tinha uma boa renda, uma boa casa, uma pessoa especial ou um seguro de vida.  Num piscar de olhos, queria muito mais do que onde eu morava poderia me oferecer. Queria testar meu potencial, mudar de ares, provar minha competência e até estudar algo. Pensando dessa maneira e com muito entusiamo, foi assim que consegui um encaminhamento para filial vendedora de máquinas agrícolas. O dono era meu amigo, sabia de uma vaga de vendedor na cidade e só quis retribuir um favor. Era uma chance, não era? Eu sempre poderia voltar, não podia?  No fundo, eu não queria voltar pelo menos por um tempo.

Mesmo assim, tive uma ligação com a loja filial, falando com uma daquelas pessoas responsáveis por contratar. Se eu passasse por ali... poderia conseguir uma entrevista.

Foi assim, entusiasmado pela possibilidade de ser chamado para a entrevista, antes mesmo de receber a resposta, que minha mãe teve a pior crise de dor já vista por mim. Sua fala era impossibilitada por gemidos extensos e suas mãos apertavam a barriga sem parar.

Yoonsu, o tio de... Bom, Yoonsu, meu ainda chefe, prontamente nos levou até o pequeno hospital da região, mas não havia muito o que fazer. Deveria ser encaminhada para algo maior, como a cidade grande. Apressado, com medo, nervoso e frustrado, fiz uma pequena mala para mim e minha mãe, rezando para que fôssemos bem atendidos e que as coisas por lá não fossem tão complicadas. Não tinha muito dinheiro, conhecidos ou até Yoonsu, que não pôde nos acompanhar na ambulância. 

Ele me deu um número para ligar caso precisasse de ajuda com algo, pois iria apenas resolver algumas pendências da propriedade e seguiria até nós. Isso me deixava aliviado. Eu precisava segurar a onda por pelo menos uns dois dias.

— Eu consigo. — Resmunguei em uma cadeira desconfortável de hospital, esperando alguma notícia sobre minha mãe. Estava sujo, talvez fedido, estressado e decepcionado. Sem poder fazer nada naquele prédio enorme e bem iluminado, algo que quase nunca havia visto. Pensei em Yoongi.

Senti minha garganta arder e mirei minhas mãos meio ásperas, fechando-as com vergonha. Talvez eu não pertencesse àquela cidade. Pessoas podem ficar animadas com sonhos e depois voltar a realidade, não? Por um momento desejei que ele pudesse me encontrar no meio de tanta gente e tantos lugares, desejei poder vê-lo talvez de longe e sorrindo com os amigos. Desejei só... algum milagre que me ajudasse. 

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OI

como prometido, aqui está.
A parte do Edward era piada, sou ruim  com elas mas  tentei.
Próximo sábado tem mais:)

Beijos e abraços

Amor RuralOnde histórias criam vida. Descubra agora