The Power of Good-Bye

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Emma abriu os olhos de uma vez e de repente a escuridão do quarto a trouxe de volta a realidade. Estava sonhando. Acordou sem muito compreender todas as imagens que seu subconsciente produziu naquele tempo que ela nem saberia dizer quanto durou.

Uma única coisa ela tinha certeza. Acendeu a luz da arandela acima da cama e conferiu as horas. Quatro e meia. Não muito cedo para voltar a dormir. Espreguiçou-se lentamente e sorriu. Foi, na verdade, um sonho bom, sentia isso ao respirar fundo antes de se levantar.

A certeza de Emma tinha uma única finalidade: precisava escrever e para isso precisava do piano. Saltou da cama rapidamente e amarrou o cabelo num rabo de cavalo. Lavou o rosto apressada e olhou-se no espelho sorrindo para si mesma com todas as ideias e frases e imagens ainda cristalinas na sua cabeça.

Saiu do quarto e caminhou até a sala de música. Acendeu um pequena luminária sobre o piano e apanhou um bloco de papel no móvel próximo. Por segundos olhou além da janela as luzes cintilantes que conseguia ver através da vegetação. Ainda estava escuro, mas logo o céu começaria a dar sinais de luz e com ela suas ideias seriam transcritas para o papel com ritmo, harmonia e um sentimento tão grandioso que ela não poderia perder tempo.

Alguns acordes tímidos. Ela dedilhava as teclas com paciência e concentração.

Sua respiração calma a deixava mais compenetrada no que precisava fazer.

Encontrou o tom confortável para sua própria voz e sorriu satisfeita.

- É isso! - exclamou repetindo o acorde mais algumas vezes e em sequência até que um ritmo foi se formando na sua cadência - ... Estou na frente de uma obra de arte... - murmurou aquela frase como se saísse de si como uma prece dita com vagar e tentando acomodar-se no ritmo que produzia com as teclas do piano - ... e não sei dizer porquê machuca tanto...

As duas mãos já ficavam mais soltas no instrumento e ela deixava-se mais à vontade para brincar mais um pouco com os acordes que se formavam na sua própria cabeça indo direto para aquela mistura de teclas pretas e brancas.

- Uma obra de arte... - repetiu em meio a um sorriso reconfortante. Era isso. A definição que precisava para expressar as imagens ainda cristalinas de uma mulher que ocupou seus sonhos durante aquela noite.

Deixou o piano e apanhou o bloco de papel para anotar uma letra que ainda parecia um amontoado de palavras sem sentido para sua voz, mas seu coração já sabia que rumo que a música tomaria.

Retornou ao piano depois de anotar mais umas duas ou três frases que repetiu em voz alta outras vezes até que conseguisse ter sentido dentro da sua harmonia.

- E não sei dizer o porquê machuca tanto... - pegou o mesmo ritmo de antes e colocou as palavras na música repetindo aquela frase com algumas entonações diferentes e tentando concluir o verso ainda torto. Fechou os olhos sem parar aquele exercício até que algumas palavras lhe escaparam - ... E não sei dizer o porquê machuca tanto estar apaixonada por uma obra-prima...

Como se tivesse levado um choque nos dedos, Emma afastou as mãos das teclas parando de tocar de imediato. Olhou ao redor como se estivesse sendo observada, mas era uma besteira! Estava sozinha e apenas ela tinha ouvido aquilo, a luz fraca da luminária a deixava exposta demais naquele ambiente, porém o céu já mudava de cor, o negro da noite dava passagem para o cinza azulado de um amanhecer que logo tomaria as cores quentes para si e o sol viria como a majestade da manhã.

Ela continuou sentada ao piano sem reação alguma. Pegou a caneta um tempo depois e anotou a última frase que lhe tirou o fôlego. Seus olhos já haviam deixado o brilho da empolgação e tornaram-se duvidosos da certeza que as palavras poderiam ter.

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