Rebel Heart

Who's that Girl

Boston é uma cidade que, quando visitada, as pessoas ficam fascinadas pela riqueza cultural e por quanto os seus moradores valorizam a arte e a cultura. Aquela cidade consegue capturar e exalar essa sensação de qualquer pessoa que passe por ela, seja a trabalho ou seja a passeio. Uma das cidades mais cosmopolitas dos Estados Unidos, a capital do estado de Massachusetts é um verdadeiro caldeirão cultural que pulsa arte por todos os lados, e que os seus orgulhosos moradores sentem prazer em compartilhar. Era como Emma sentia-se, ao menos, as impressões que deixava em suas primeiras entrevistas rapidamente garimpadas por Regina no primeiro contato com seus arquivos.

O histórico bairro de North End é o reduto dos imigrantes italianos. Lá estão os melhores restaurantes de massas, pizzarias e confeitarias italianas da cidade, por isso é tão especial para Emma. Sua descendência, ou melhor, uma pequena parte dela, é italiana e orgulhava-se disso, um povo bem forte e apaixonado. Regina encontrou numa pequena caixa de biscoitos antigos (um hábito antigo de guardar fotografias nessas caixas) fotografias de uma festa que ocorria nesse bairro em Boston e que ela própria conhecia devido à repercussão que tinha: a Festa de Santo Antônio com procissão, missa e barracas de comida. E o que causou mais risos na morena foi ver a "pequena patinha" vestida toda de branco para a sua primeira comunhão em uma daquelas festas e em outra fotografia com a boca suja de molho vermelho comendo um grande cachorro-quente. O apelido dado à Emma estava anotado no verso da foto com uma caligrafia toda redonda e Regina imaginou ser da mãe da menina.

Os pais de Emma eram bem bonitos. A foto de casamento num formato maior foi a primeira de um álbum de capa branca, volumoso que Regina encontrou ao abrir outra porta da estante à sua frente. Ela ia retirando aos poucos e tentava selecionar algumas coisas aleatórias para depois verificar com mais cuidado.

David e Ingrid. O casal Nolan.

Sorrisos fartos e felicidade de um dia de casamento perfeito como num conto de fadas. Parecia que a família era tradicionalmente católica com todos os preceitos e eventos que a religião exigia. A escritora imaginou se Emma ainda seguia por esse caminho depois de tanto tempo.

Ingrid, uma mulher muito bonita e, para a surpresa de Regina, era dela o talento de Emma. Algumas fotos da mulher mostravam-na como uma cantora apresentado-se no que parecia um pub, as fotos em preto e branco e já gastas pelo tempo separadas numa caixa de papel pardo já com as bordas corroídas.

Regina espreguiçou-se por uns instantes no meio de tantas lembranças alheias. Sua curiosidade pelas histórias daquelas fotografias e o que elas escondiam em suas imagens começou a ficar mais aguçada quando uma terceira personagem colocou-se entre o casal Nolan.

O nascimento da filha deixou aquele conto de fadas ainda mais mágico, pois Emma possuía muito dos traços físicos da mãe, seu dom para a música talvez, mas as fotos mais expressivas era quando a pequena estava no colo do pai, como seu um ímã conectasse os olhares dos dois criando um vínculo quase imperceptível e Regina conseguia perceber aquilo.

As folhas de suas anotações iam ganhando volume e a caneta trabalhava com voracidade cada vez que encontrava uma imagem que lhe chamava mais atenção. O batizado, os primeiros passos, o primeiro aniversário, um banho de mar e uma das mais clássicas que pais registram: Emma toda suja de chocolate, boca, bochechas, dedos até os cabelos.

Regina pesquisava nos arquivos pessoais da biblioteca da mansão durante toda a manhã. O que pareceu monótono no início tornou-se divertido encontrando todas essas fotografias antigas da família de Emma.

No seu aniversário de 6 anos ganhou um violão e daí começou, quem sabe, o próprio sonho da pequena patinha: ser uma cantora famosa.

Tentou entender e associar o nome Swan ao apelido que tinha quando criança, pequena patinha, talvez fazia algum sentido e era uma boa forma de homenagear a mãe.