O outro lado do amor

Capítulo 32 - Cristopher

Eu andava na minha sala em círculos e a qualquer momento eu sentia que iria abrir um buraco no chão. Tudo foi em vão!
Nada faria ela ceder. Nem súplicas, nem dinheiro e nem nada. Eu sou mesmo um imbecíl por não ter aproveitado quando tive a chance.
Mas será que valia a pena mesmo?
Eu não me recordo de ficar tão obcecado em uma mulher assim e para a minha desgraça tinha que ser logo ela. A minha mente estava agitada, eu não dormia direito e trabalhar estava difícil. Eu não conseguia me concentrar em absolutamente nada, e para piorar esse é um problema que não tem solução.

_Com licença, senhor Magalhães. - A nova secretária entra

_O que foi, aconteceu alguma coisa?

_Eu estou batendo há alguns minutos e como não obtive resposta, resolvi entrar.

_Eu estava um pouco distraído, por isso não devo ter ouvido.

_É sobre o caso do Senhor Silveira.

Ela termina de falar e vai embora, me deixando com um relatório para ler. Logo me veio a cabeça do nosso jantar no restaurante e de sua maldita idéia. O que estava ruim piorou mais ainda. Eu só consegui deixá-la com mais raiva e ganhar uma marca no rosto.
E talvez eu merecesse.
Suspiro profundamente e deixo os papéis de lado por alguns minutos. Esquecer era algo difícil, mas tentar resolver me parecia mais ainda. O que eu teria que fazer para conseguir tê-la para mim?
Você sabe muito bem o que precisa fazer, meu subconsciente diz. Era tão óbvio e ainda assim parecia um enigma. Passo a mão no rosto e solto uma longa respirada.

É melhor eu trabalhar que ganho mais.

Deixo esse assunto de lado e volto ao trabalho. Quando o meu expediente se encerra, eu dirijo até a minha casa.
Passo pelo lugar que nos vimos pela primeira vez.
Eu quase a tinha atropelado por estar na rua salvando um gato. Me recordo do quanto fui grosso com ela naquele dia, e depois no outro dia, no escritório, no seu antigo prédio...
Ela tinha muitas razões para me odiar. Desde que nos conhecemos a única coisa que eu tenho feito é tratá-la mal. Talvez eu merecesse a sua indiferença, ou merecesse algo pior. Coloco a cabeça sob o volante e pude reconhecer o quanto eu fui e sou babaca com ela. Ela nunca me fez nada, só quando se defende e é até justo. Mas agora isso não importa mais, não tem como apagar isso da memória dela. Piso no acelerador, mas sou guiado para outro lugar, um lugar que eu jamais pensei em voltar tão cedo.

_Estou indo. - Ouço a sua voz e começo a ficar nervoso - Cristopher?

_Eu posso entrar? - Pergunto temeroso

_Para quê você veio? - Arqueia a sobrancelha

_Eu preciso conversar com você. - Ele parece acreditar e deixa-me entrar

_O que você quer?

_Eu preciso da sua ajuda, Ricardo.

_É sobre a Aline?

Como ele sabia? será que ela falou?

_Como sabe disso? - Pergunto temendo a sua resposta

_Ela me contou. Aliás contou tudo sobre o que têm acontecido entre vocês.

_É sobre ela sim. Eu... - Ele me interrompe

_Se você veio aqui me pedir para convencê-la a ficar com você e realizar esse seus fetiches sujos, eu sugiro que saia imediatamente.

_Não é nada disso. Eu quero tentar consertar o mal que fiz à ela.

Ricardo me olha com os olhos cerrados, se levanta e senta-se novamente e eu começo a me questionar se ele ouviu, devido ao meu tom de voz baixo.

_Você está bêbado? - Questiona depois de alguns minutos me analisando

_Você sabe que eu não bebo.

_Ou eu ouvi errado ou você bateu a cabeça.

Eu sou tão ruim assim? É.
O meu subconsciente responde.

_Você ouviu corretamente Ricardo. Eu quero reparar os meus erros com ela.

_Você se sente atraído por ela?

_Não. Quer dizer, eu não sei... - Me levanto e me viro de costas - Eu não sei o que está acontecendo e por isso estou aqui. Você era meu único amigo, sempre foi inteligente e sabe lidar com as pessoas. Apesar dos seus pais serem como são, você é diferente.

_Eu escolhi ser diferente. Escolhi não absorver as coisas ruins aos quais eles me submetiam.

_Eu não tive essa determinação e veja só o que eu me transformei.

_Eu já o disse tantas vezes o quanto era errado as suas atitudes e você nunca se arrependeu.

_Eu não sei porquê, mas agora eu me sinto mal por isso. Eu me sinto um merda.

_Porque você é. - Me viro para ele - Mas não precisa ser para sempre esse merda.

_Eu não sei como voltar atrás e mudar o que fiz e disse.

_Quem disse que precisa voltar atrás?! Basta ter atitudes melhores a partir de agora.

_E se ela não...

_Faça isso por você e não por ela ou por outra pessoa.

_Eu não sei se eu consigo.

_Isso é um processo, Cristopher. Não é do dia para a noite. É uma reconstrução. Você pode procurar profissionais, reuniões, enfim...

_Talvez você tenha razão. - Levanto os olhos - Dá para entender porque ela gosta tanto de você.

_Ela é uma moça adorável. Tê-la aqui tem sido terapêutico para mim.

_E vocês não... - Ele revira os olhos

_É claro que não. Nós somos somente amigos.

_Está certo. Eu vou indo então. - Começo a caminhar

_Você gosta dela. Não é só tesão ou atração. - Ele afirma com total certeza

_Não. Eu não tenho esse tipo de sentimento por ela.

_Nos conhecemos desde crianças, Cristopher.
Você nunca se importou em agradar alguém, principalmente mulheres. Nunca deu importância a esse assunto. Sempre foi hostil e agora me pede ajuda para conquistar uma mulher.

_Eu não estou tentando conquistá-la.

_Eu é quem não estou. Admito que quando ela me contou ontem sobre vocês, eu fiquei surpreso. Não acreditava que você fosse se interessar por ela, à quem tanto desprezava.

_Você está sendo equivocado.

_Se isso não é gostar, eu não sei o que é.

_Eu só quero reparar meu erro.

_Porque está caidinho por ela, mas não admite.

_Você está blefando, Ricardo. - Ele ri novamente me deixando mais nervoso

_Ontem eu tive dúvidas, mas depois de ouví-lo falar, não tenho mais nenhuma. - Abro a porta - Se a magoar, eu quebro a sua cara de novo.

Saio de seu apartamento e desço pelas escadas, nem quis esperar o elevador.
Assim que chego na portaria, a vejo andando e fico ainda mais nervoso. Ela não podia me ver, então caminho rápido até o meu carro e saio dirigindo apressado.

Chego em casa e entro diretamente no banheiro, para tomar banho. Eu estava cansado. Deito em minha cama e pude ver que ela havia trocado os lençóis. Suspiro e começo a imaginá-la ali comigo, ao meu lado. Sacudo a cabeça e afasto esses pensamentos. Tentar melhorar como pessoa é uma coisa, mas gostar dela é outra. O Ricardo está ficando é maluco.
Ou talvez não...