Capítulo 13 - Aline

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Abro e fecho os olhos, com a forte luz que havia no ambiente. Minha cabeça doía e eu só conseguia pensar nos acontecimentos anteriores. Tudo estava dando errado na minha vida. Eu perdi o emprego, fui despejada, humilhada, o meu gatinho foi atropelado e morto. Tudo que há de ruim estava acontecendo comigo. Suspiro pesadamente e abro os olhos novamente. Eu estava em um lugar branco.
Será que eu tinha morrido?
Estou com roupas também brancas, deitada em uma cama e com um aparelho ao meu lado.
Que lugar é esse?
Tento recobrar a memória e a última coisa que me lembro é de quase ter sido atropelada e dele.
Ricardo...
Parece que ele ouve os meus pensamentos e entra pela porta.

_Você acordou... - Ele olhou-me com um olhar diferente

_Onde estou?

_Você está no hospital. Eu a trouxe para depois de encontrá-la na rua sem rumo e aos prantos.

Ele se afasta e se vira de costas para mim olhando pela janela. Eu estava confusa, precisava de mais informações mas as palavras me faltavam. Forço uma tosse para chamar sua atenção novamente e ele se vira com um olhar preocupado. Faço um gesto para que entenda que eu estava com sede e ele arregala os olhos assim que entende. Ele corre trazendo água para mim. E eu bebo toda a água, eu realmente estava com muita sede.

_Era óbvio que você deveria acordar com sede.

_O que aconteceu?

Ele parecia receoso, o seu olhar me transmitia uma imensa tristeza.

_Você desmaiou devido a excessiva carga de estresse. Quando eu te encontrei ontem você parecia fora de si. O que aconteceu para você chegar a esse ponto?

_Muitas coisas... - Abaixo a cabeça e uma lágrima desce - Eu vou morrer?

A sua expressão relaxa, ele manuseia a cabeça com um sorriso curto e segura o meu queixo.

_Não, você não irá morrer. - Relaxo os ombros

Seguro a sua mão e ele me olha de um jeito carinhoso como quem diz estou aqui.

_Desde que eu cruzei o caminho do Senhor Magalhães a minha vida têm sido um martírio. Ele me contratou e dia após dia me insultou, me demitiu e me tirou do escritório como um cão sarnento. Ele comprou o edifício onde eu morava só para ter o prazer de me expulsar. Então eu fui dormir na rua, na manhã seguinte o meu gato foi atropelado. Quando você me encontrou, eu estava rumo e desolada. Na verdade, ainda me encontro assim.

Ele não disse uma palavra sequer por alguns minutos, até que ele se levanta entristecido.

_Como o Cristopher pode ser tão ardiloso e perverso assim? - Passa a mão nos cabelos

_Não entendo como você não percebeu isso antes.

_Talvez só não quisesse enxergar. - Diz bastante receoso

_Vocês são amigos há muitos anos, isso é uma forte influência.

_Nada disso justifica. E é por isso que eu mantenho distância dele e literalmente me demiti.

Como assim?

_Como assim você se demitiu e se afastou dele?

_Eu não posso conviver com alguém tão idiota e longe dos meus ideais como ele.

_E o seu emprego?

_Isso é o de menos. Mas depois de tudo o que você disse, eu não poderia viver com um ser humano como ele.

A enfermeira entra no quarto e retira a agulha do meu braço. E disse que eu receberia alta. Novamente uma tristeza se acomodou de mim.

Para onde eu iria?

_Você sabe que as portas da minha casa estão abertas para você.

_Eu não quero incomodá-lo.

_É o mínimo que eu posso fazer por você.

_Eu não posso aceitar. Você quer ter sua privacidade e...

_Não seja orgulhosa. É um prazer te ajudar e você não incomodará em nada. Deixe-me ajudá-la, eu não quero que você durma na rua novamente, é muito perigoso.

_Está bem. - Sua felicidade era notória - Mas é só até eu conseguir me estabilizar.

_Sem problemas. Contanto que esteja segura, eu ficarei mais aliviado.

Como a comida do hospital e assisto televisão enquanto o Ricardo conversava no telefone.
Ele é um homem incrível. Pelo pouco tempo que convivemos eu já gostava muito dele. A sua companhia é agradável e seu carisma é contagiante.

_Eu pedi para a minha empregada arrumar o quarto para você.

_Obrigada. Você está sendo um anjo na minha vida.

_Você tem alguma roupa? Eu encontrei poucas roupas além das vestes sujas de sangue.

_Sim, estão na mochila que eu carregava. Mas como não a encontrei, acredito que ela tenha sumido.

_Eu irei pedir para trazerem uma roupa para você, daqui a pouco é a sua alta. E a propósito, o seu celular estava no bolso da sua calça. - Ele me entrega o celular

_Obrigada.

Ele ia falar algo, mas foi interrompido pelos homens que entraram no quarto, acompanhados da enfermeira.

_Aline Dias? - Confirmo com a cabeça - Você está presa!

O que? mas por quê?

_Por que ela está sendo presa? - Ricardo questiona indignado

_Você tem direito de se manter calada e contratar um advogado.

_Solte-a. Vocês não tem o direito de fazer isso.

_Mantenha a calma. Senão o senhor será preso também.

_De que crime estou sendo acusada?

_O Ceo Cristopher Magalhães a acusa de ter roubado a caneta de família valiosa em seu escritório no período em que a senhorita trabalhava no local.

_Eu não roubei nada. O senhor Magalhães está inventando isso.

As pessoas ao redor olhavam curiosas e mais uma vez eu estava sendo humilhada por culpa dele.

_Tudo o que falar poderá ser usado contra você.

Chegamos à portaria, ele me encaminha até a viatura e eu senti-me intimidada.

_Aline... - Ouço a voz de Ricardo um pouquinho distante - Ei? Por favor, me deixem falar com ela.

O vidro é fechado, impedindo o som de sua voz ser audível.

_Ricardo... - Lamento - Eu estou com medo...

O carro se afasta e eu abaixo a cabeça. O sentimento de angústia tomava o meu ser. Eu estava com a roupa do hospital, com quatro homens em um carro e era noite. Eu tinha medo, muito medo.
Chegamos à delegacia e entro em uma cela. Os políciais sequer quiseram ouvir. Eles apenas me declararam culpada sem sequer interrogar ou investigar.
Sento no chão e encolho as pernas. Esse inferno parecia não terminar nunca e eu estava cansada demais para tomar alguma atitude, então apenas abaixo a cabeça e choro, em silêncio.



O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora