Abro e fecho os olhos, com a forte luz que havia no ambiente. Minha cabeça doía e eu só conseguia pensar nos acontecimentos anteriores. Tudo estava dando errado na minha vida. Eu perdi o emprego, fui despejada, humilhada, o meu gatinho foi atropelado e morto. Tudo que há de ruim estava acontecendo comigo. Suspiro pesadamente e abro os olhos novamente. Eu estava em um lugar branco.
Será que eu tinha morrido?
Estou com roupas também brancas, deitada em uma cama e com um aparelho ao meu lado.
Que lugar é esse?
Tento recobrar a memória e a última coisa que me lembro é de quase ter sido atropelada e dele.
Ricardo...
Parece que ele ouve os meus pensamentos e entra pela porta._Você acordou... - Ele olhou-me com um olhar diferente
_Onde estou?
_Você está no hospital. Eu a trouxe para depois de encontrá-la na rua sem rumo e aos prantos.
Ele se afasta e se vira de costas para mim olhando pela janela. Eu estava confusa, precisava de mais informações mas as palavras me faltavam. Forço uma tosse para chamar sua atenção novamente e ele se vira com um olhar preocupado. Faço um gesto para que entenda que eu estava com sede e ele arregala os olhos assim que entende. Ele corre trazendo água para mim. E eu bebo toda a água, eu realmente estava com muita sede.
_Era óbvio que você deveria acordar com sede.
_O que aconteceu?
Ele parecia receoso, o seu olhar me transmitia uma imensa tristeza.
_Você desmaiou devido a excessiva carga de estresse. Quando eu te encontrei ontem você parecia fora de si. O que aconteceu para você chegar a esse ponto?
_Muitas coisas... - Abaixo a cabeça e uma lágrima desce - Eu vou morrer?
A sua expressão relaxa, ele manuseia a cabeça com um sorriso curto e segura o meu queixo.
_Não, você não irá morrer. - Relaxo os ombros
Seguro a sua mão e ele me olha de um jeito carinhoso como quem diz estou aqui.
_Desde que eu cruzei o caminho do Senhor Magalhães a minha vida têm sido um martírio. Ele me contratou e dia após dia me insultou, me demitiu e me tirou do escritório como um cão sarnento. Ele comprou o edifício onde eu morava só para ter o prazer de me expulsar. Então eu fui dormir na rua, na manhã seguinte o meu gato foi atropelado. Quando você me encontrou, eu estava rumo e desolada. Na verdade, ainda me encontro assim.
Ele não disse uma palavra sequer por alguns minutos, até que ele se levanta entristecido.
_Como o Cristopher pode ser tão ardiloso e perverso assim? - Passa a mão nos cabelos
_Não entendo como você não percebeu isso antes.
_Talvez só não quisesse enxergar. - Diz bastante receoso
_Vocês são amigos há muitos anos, isso é uma forte influência.
_Nada disso justifica. E é por isso que eu mantenho distância dele e literalmente me demiti.
Como assim?
_Como assim você se demitiu e se afastou dele?
_Eu não posso conviver com alguém tão idiota e longe dos meus ideais como ele.
_E o seu emprego?
_Isso é o de menos. Mas depois de tudo o que você disse, eu não poderia viver com um ser humano como ele.
A enfermeira entra no quarto e retira a agulha do meu braço. E disse que eu receberia alta. Novamente uma tristeza se acomodou de mim.
Para onde eu iria?
_Você sabe que as portas da minha casa estão abertas para você.
_Eu não quero incomodá-lo.
_É o mínimo que eu posso fazer por você.
_Eu não posso aceitar. Você quer ter sua privacidade e...
_Não seja orgulhosa. É um prazer te ajudar e você não incomodará em nada. Deixe-me ajudá-la, eu não quero que você durma na rua novamente, é muito perigoso.
_Está bem. - Sua felicidade era notória - Mas é só até eu conseguir me estabilizar.
_Sem problemas. Contanto que esteja segura, eu ficarei mais aliviado.
Como a comida do hospital e assisto televisão enquanto o Ricardo conversava no telefone.
Ele é um homem incrível. Pelo pouco tempo que convivemos eu já gostava muito dele. A sua companhia é agradável e seu carisma é contagiante._Eu pedi para a minha empregada arrumar o quarto para você.
_Obrigada. Você está sendo um anjo na minha vida.
_Você tem alguma roupa? Eu encontrei poucas roupas além das vestes sujas de sangue.
_Sim, estão na mochila que eu carregava. Mas como não a encontrei, acredito que ela tenha sumido.
_Eu irei pedir para trazerem uma roupa para você, daqui a pouco é a sua alta. E a propósito, o seu celular estava no bolso da sua calça. - Ele me entrega o celular
_Obrigada.
Ele ia falar algo, mas foi interrompido pelos homens que entraram no quarto, acompanhados da enfermeira.
_Aline Dias? - Confirmo com a cabeça - Você está presa!
O que? mas por quê?
_Por que ela está sendo presa? - Ricardo questiona indignado
_Você tem direito de se manter calada e contratar um advogado.
_Solte-a. Vocês não tem o direito de fazer isso.
_Mantenha a calma. Senão o senhor será preso também.
_De que crime estou sendo acusada?
_O Ceo Cristopher Magalhães a acusa de ter roubado a caneta de família valiosa em seu escritório no período em que a senhorita trabalhava no local.
_Eu não roubei nada. O senhor Magalhães está inventando isso.
As pessoas ao redor olhavam curiosas e mais uma vez eu estava sendo humilhada por culpa dele.
_Tudo o que falar poderá ser usado contra você.
Chegamos à portaria, ele me encaminha até a viatura e eu senti-me intimidada.
_Aline... - Ouço a voz de Ricardo um pouquinho distante - Ei? Por favor, me deixem falar com ela.
O vidro é fechado, impedindo o som de sua voz ser audível.
_Ricardo... - Lamento - Eu estou com medo...
O carro se afasta e eu abaixo a cabeça. O sentimento de angústia tomava o meu ser. Eu estava com a roupa do hospital, com quatro homens em um carro e era noite. Eu tinha medo, muito medo.
Chegamos à delegacia e entro em uma cela. Os políciais sequer quiseram ouvir. Eles apenas me declararam culpada sem sequer interrogar ou investigar.
Sento no chão e encolho as pernas. Esse inferno parecia não terminar nunca e eu estava cansada demais para tomar alguma atitude, então apenas abaixo a cabeça e choro, em silêncio.
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O outro lado do amor
RomanceNenhuma linha se cruza por acaso, certo? Cristopher Magalhães é o homem que encanta a qualquer mulher, aparentemente destemido e egocêntrico, e ao mesmo tempo frágil e intrigante. Aline Dias está fora de qualquer padrão, é sensível mas também dete...