O outro lado do amor

Capítulo 12 - Cristopher

Tudo corria tão bem que até meu humor havia melhorado. Enquanto tomava o café da manhã, lia algumas notícias e arquitetava o meu próximo passo. A empregada me dava umas olhadas mas eu não me importo. É bom que não se intromete na minha vida. Me levanto e olho pela janela, fazia muito frio lá fora, com certeza ela deveria estar sofrendo na rua.
Mas isso era pouco.
Eu quero que ela passe por coisas piores, muito piores. Essa minha obsessão estava me deixando louco, por algum motivo eu queria vê-la sofrer, por algum motivo eu a odeio mais e mais a cada dia. Eu nunca fui de ser rancoroso ou tão obcecado por alguém mas com ela era diferente, estava sendo uma surpresa até para mim. Não é algo como se eu me sentisse atraído por ela, pelo contrário, ela somente me desperta sentimentos ruins. Mas mesmo assim, eu não deveria estar ligado à ela por sentimento algum.

Manuseio a cabeça e afasto o que quer que seja a seu respeito, por agora. Eu tenho que focar um pouco no trabalho. Saio de casa e assim que chego no escritório me veio um vazio, aquele babaca do Ricardo me faz falta. Por mais que eu não fosse o melhor amigo do mundo, eu gostava dele. Foram anos de convivência e para do nada ele emburrar. Quando lembro que foi por causa dela, me sobe uma raiva, ele tinha me deixado para ficar ao lado daquela idiota, mas isso não ficaria barato, para ambos. A medida que o elevador ia subindo, eu suspirava irritado e ainda bem que estava vazio. Chego no meu andar e a nova secretária estava no seu posto. A analiso minuciosamente, ela era ruiva, estilosa e tinha uma boa aparência. Parecia ser a pessoa ideal, eu só espero que seja competente. Me aproximo e ela abre um sorriso desnecessário.

_Bom dia Senhor Magalhães. - Se levanta segurando a agenda

Não respondo, apenas faço um cumprimento com a cabeça e ela perde um pouco o sorriso.
Ninguém a avisou?
Entro na minha sala e começo a analisar os casos, essa semana seria cheia. O dia correu tranquilo, estava quase chegando no fim do expediente, quando ouço a porta e era a secretária, Diana.

_Com licença, Senhor Magalhães.

_O que aconteceu?

Mulheres...sempre tem algo para falar!

_Eu lhe trouxe este chocolate, soube que é o seu favorito. E como os casos são muitos, o senhor deve estar precisando relaxar. Chocolate é muito bom para isso. - Fico perplexo

Que ousadia dessa mulher!
Na hora me recordo da atitude semelhante daquela menina.

_Não me lembro de solicitar nenhum mimo.

Eu odeio bajulação!

_Eu pensei que... - A interrompi sem paciência

_Você não é paga para pensar. E sim para trabalhar.

_Desculpe-me senhor. Hoje é o meu primeiro dia, eu só quis agradá-lo. - Abaixa a cabeça e eu reviro os olhos

_Eu odeio surpresas e bajulação. Portanto se quer continuar neste emprego é bom pensar somente nos casos a analisar. - Me levanto

_O senhor tem toda razão, me perdoe a indelicadeza.

_Eu espero que tenha entendido mesmo. Isso aqui é um ambiente sério e não um parque de diversão para distribuir doces.

_Nunca mais irá se repetir senhor.

_Ótimo, agora saia.

Sinceramente, tem mulheres que me cansam e essa é uma. Passo a mão na têmpora e suspiro exausto.
Bem pelo menos a Aline não era assim...
O quê?!
Por que eu estou pensando nela?
Eu só posso estar ficando doido, não é possível...
A Diana cometeu uma única gafe, mas se mostrou atenciosa e eficiente. Eu não iria recrutar esse erro, eu poderia deixar passar. Mas que ela é sonsa, isso com certeza está explícito. Não respondeu as duras palavras, abaixou a cabeça e ainda tentou me bajular para garantir o emprego. E eu achei isso patético.
Eu não gosto de ser contrariado mas também não de medrosos.
E isso aquela menina não era, pelo contrário, ela tinha uma língua afiada até demais.
Mas porque diabos eu estava novamente pensando nela?

E o pior, a comparando com alguém tão diferente?
Era notório que a minha nova secretária era muito melhor que ela, Tinha classe. Nada que me encante, mas sem dúvidas era mais interessante e inteligente.
A Aline é só uma desclassificada, grosseira e sem educação. Não merece sequer que eu pronuncie seu nome e menos ainda compará-la a alguém fora de seu nível.
Me levanto e jogo os papéis da mesa no chão.
Por que eu ainda pensava nela?
Com certeza deve ser porquê ela é a única que não se atrai por você.
Meu subconsciente dizia insistentemente.

_Isso é idiotice da minha parte. Eu não devo desejar que ela sinta nada por mim.

Saio da minha sala e encontro a secretária se arrumando para ir embora.

_Volte na minha sala e arrume a bagunça.

A contragosto ela volta e eu entro no elevador. Haviam dois advogados conversando e o assunto era o Ricardo.

_Ricardo me ligou dizendo que estava no hospital com uma moça.

_Do jeito que ele é distraído, deve ter atropelado a moça.

_Desculpe-me interrompê-los. Mas o que aconteceu com o Ricardo?

Eles se entreolharam um tanto que surpresos, eu nunca havia falado um ''a'' a mais sem ser do trabalho.

_Não, Senhor Magalhães. O Ricardo está bem. Foi um susto, ele quase atropelou uma moça e a socorreu.
Ele me avisou porquê tínhamos um compromisso.

_Onde é o hospital?

_O hospital do centro.

O Ricardo é sensível, deve estar precisando de suporte. E por mais que não estivéssemos conversando, eu estou disposto a passar por cima do meu orgulho para estar ao seu lado. Caminho até a recepção e busco informações.

_Ela está no quarto, acompanhada do marido. O senhor é parente da vítima?

Marido?
Como assim o Ricardo tinha se casado?

_Tem certeza dessas informações? - Assente - Eu sou irmão do marido da moça.

_Pode ir visitá-la, mas não demore. - Pego o crachá e subo até o quarto

Entro e o vejo de costas, a moça parecia estar dormindo. Ele acariciava a sua mão e sussurava palavras totalmente inaudível. Me aproximo um pouco mais e me deparo com ela.
Ela novamente.
Eu não acredito, ela estava me perseguindo. Então, o Ricardo tinha quase atropelado essa criatura e agora estavam aqui, como um casal em filmes.
Saio transtornado, novamente eles estavam juntos. Aquela era a gota d'água e eu continuaria a minha vingança. Mas paz ela não teria nunca.