Capítulo 31 - Aline

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Eu não conseguia assimilar se aquela pergunta era real ou projeção da minha mente. Fico alguns segundos quieta e olho para o homem em minha frente.
O senhor Magalhães não parecia estar blefando ou coisa parecida. Ele estava me fazendo uma proposta descabida. Sinto o meu estômago embrulhar e minha cabeça girar, que precisei respirar fundo para não ter um mal súbito.
Como ele tem coragem de me oferecer dinheiro em troca de ficar com ele?
Há um tempo atrás sequer suportava a minha presença e agora surge com essa proposta nojenta e sem cabimentos.
O que ele pensa que eu sou?

_Você pode pensar, eu irei para o escritório e a noite estarei aqui. - Suas palavras me tiram do transe

Sem pestanejar, eu sou tomada por uma súbita raiva e o acerto um tapa tão forte em seu rosto que o som era audível. O seu rosto vira para o outro lado e bagunça os seus cabelos.

_Você é nojento! - Ele vira o rosto

_Isso é um não? - Ele se levanta

_É óbvio que isso é um não. O que você acha que eu sou para me sujeitar a uma proposta inescrupulosa como essa?

_Alguém que precisa de dinheiro talvez...

_Eu preciso sim, mas não sou nenhuma vadia para obter por esses meios.

_Você não quer ao menos pensar?

_Eu não quero pensar em nada.

_Você está sendo burra.

_Burra eu fui quando quase me entreguei a você.

_Será que não vê como eu estou desesperado?! Veja o ponto que cheguei. Você acha mesmo que isso me agrada? Acha que eu já fiz proposta semelhante a outra? - Ele dá uma pausa - Não. Eu nunca precisei descer tão baixo assim.

_Nada irá me convencer de aceitar. Fique com o seu dinheiro e longe de mim.

_Você é uma teimosa dos infernos. - Xinga com raiva

_O senhor não irá querer se contaminar comigo... - Seus olhos ficam ainda mais escuros - Com a minha pele suja... Eu não serviria para te dar prazer.

_Não use as minhas palavras contra mim outra vez. - Ele me encara - Você está me deixando louco.

_Eu sugiro que procure outra para suprir a sua carência. - Ele me coloca sentada na mesa de centro

_Eu bem que gostaria, mas o meu corpo não me obedece.

Começo a me inclinar, e ele se abaixando, olhando dentro dos meus olhos e me encurralando. Os nossos corpos estavam muito próximos, eu conseguia ouvir a sua respiração.

_Se você não me deixar sair eu vou... - Ele me corta com uma raiva contida

_Você vai fazer o quê? Me dar outro tapa?! Saiba que eu estou torcendo para você fazer isso. É o que basta para perder o controle de vez.

_Se você ousar me tocar sem o meu consentimento, eu irei processá-lo. Você é advogado, sabe muito bem disso.

_Eu não vou fazer nada que você não queira, eu não sou assim. Jamais forçaria uma mulher. - Ele fecha os olhos brevemente - Mas adoraria que você quisesse...

_Quando eu queria você agiu como um idiota.

_Eu me arrependo por isso todos os dias.

_Lide com isso sozinho, agora saia de perto de mim.

_Então me diga... - Seus olhos estavam suplicantes - Diga que não sente o mesmo desejo por mim. Por mais que você tente disfarçar, que você negue, eu sei que você também me quer.

_Eu não quero você. Foi apenas um momento de fraqueza aquele dia, nada mais que isso.

_Você não percebe o meu desespero? Veja o ponto que eu cheguei. Poderia facilitar as coisas, o que eu preciso fazer para te ter?

Seu desespero era evidente, ele falava sem coerência e me deixava mais aflita ainda.

_Nada do que você faça poderá me fazer mudar de idéia, agora saia de perto de mim ou pedirei demissão e o processarei por assédio. - Ele se afasta

_Porra! Mulherzinha infeliz... - Xinga

Consigo ouvir a última parte mas não dei muita importância, ele que fique com a sua loucura.
Nunca foi tão difícil ser forte como têm sido quando ele está perto.
É tão ruim isso, uma parte minha quer e a outra só consegue se lembrar do quanto ele é insensível.
No fundo, ele só quer suprir a carência. Ele não me quer, ele só quer o prazer de me ter sob controle.
Volto para a minha residência e alguns minutos depois Ricardo entra.

_Você está um pouquinho pálida. Tem se sentido bem?

_Eu estou sim. Eu só estou cansada.

_Você mente muito mal, sabia? - Senta-se ao meu lado

_É o senhor Magalhães...

_Você encontrou com ele? Ele te fez alguma coisa?

_É sobre isso que eu queria falar... - Faço uma pausa dramática - Você se lembra que eu disse que havia sido indicada por uma agência para trabalhar em um apartamento em Copacabana?

_Você não vai me dizer que...

_Sim, é justamente para ele.

Começo a contar o que estava acontecendo, desde que cheguei. Não estávamos tendo tempo para conversar pois nossos horários não eram compatíveis.
De princípio, ele não queria que eu ficasse, mas consigo convencê-lo depois de contestar. Ele não se sentia no direito de se intrometer na minha vida pessoal mas conhecia o ex amigo como ninguém.

_Você sabe que ele não vai desistir, não é?!

_Eu sei, mas eu me sinto preparada para não ceder.

_Eu nunca pensei que o Cristopher fosse descer tão baixo assim.

_Ultimamente tenho esperado o pior dele.

_Da forma que ele sempre falava, muito me admira vê-lo de quatro para você.

_No fundo a raiva dele era só tesão reprimido.

_Eu acho que é mais do quê isso. Pelo tempo que convivemos, ele nunca foi tão fixado em uma mulher.

_Você acha que ele...

_Gosta de você? Isso eu tenho certeza há tempos, mas estou falando de um sentimento maior. - Ele dá uma pausa e se levanta - Eu acho que ele está apaixonado por você e não sabe como lidar com isso.

_Você está indo longe demais. No máximo é só o ego ferido dele.

_Talvez. Mas e você, como se sente com isso tudo?

_Como assim?

_Você disse que queria ficar com ele, pelo menos na primeira vez. Você também sente algo por ele, não é?

_É muito errado isso, né?! Depois de tudo que ele fez...

_Não se sinta culpada, nós não controlamos nossas emoções.

_Ele é ruim, é preconceituoso e eu o odeio. Eu eliminarei qualquer tipo de sentimento que eu tenha por ele.

_Quanto mais a gente esconde mais evidente fica...

Tomo um banho e me deito para o dia seguinte.
A proposta me veio em mente e eu começo a chorar.
Que tipo de pessoa ele achava que eu era?!
Limpo as lágrimas e prometo ser forte, e a não cair nas provocações dele e muito menos em suas súplicas. Ricardo estava certo, ele não merecia.
E eu faria questão de fingir que não sinto nada, até que esse sentimento suma de vez.

O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora