Capítulo 50

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Lauren passou parte de seu dia apática, não conseguiu prestar atenção em nenhuma de suas aulas. Manteve sua cabeça baixa enquanto sua mente confabulava tantos cenários caóticos que seu raciocínio normalmente veloz se sentiu cansado. Contou os minutos para que pudesse deixar a faculdade, foi apenas para assinar a lista de presença. Talvez se arrependesse de todo aquele descaso com sua formação, mas em seu estado atual não conseguiria focar sua atenção em algo que não fosse o convite feito por Dinah. Sabia que a culpa não era dela, estava apenas repassando uma mensagem que lhe foi dada. Contudo, esse fato não impedia que Lauren estivesse furiosa.

Deixou a faculdade com um peso muito maior que sua mochila sob os ombros, precisava de algo que a alegrasse. Essa era a forma como suportava tudo o que guardava em si. Distrações banais, um vídeo engraçado no YouTube, um bom livro, alguma sobremesa apetitosa. Qualquer coisa que a fizesse se lembrar que ainda existiam coisas no mundo que pudessem fazê-la sorrir. O estado paradoxal da vida é buscar incansavelmente a felicidade enquanto a tristeza caminha ao seu lado para onde quer que você vá. Os demônios de Lauren encaravam seus olhos verdes a cada instante, mas ela preferia manter sua atenção no horizonte infinito onde o sol sempre nascia forte e cintilante aquecendo seu coração miserável enquanto queimava seu rosto pálido. Afinal, tudo tem um preço, o que te mantém vivo também te mata, como a água que apesar de ser a essência de toda a existência humana, destrói impiedosamente tudo o que vê em sua frente quando se encontra em caos.

O caos, que conceito formidável, a violência gratuita me agrada tanto quanto a bondade gratuita. Mais um paradoxo do existencialismo humano. Para que exista o bom é necessário que exista o mau, mas quem define qual dos dois extremos é o correto? E diferente do que você possa pensar, o caos e a maldade não estão na mesma caixa. O caos é aleatório, não prevê consequências e não racionaliza sobre suas vítimas. Penso que talvez seja isso que o difere da maldade, pois esta é uma criação humana, enquanto o caos é um fenômeno da natureza.

No meu ver não é difícil que esses dois estados tão extremos ocupem o mesmo espaço. Qual é o limite de maldade e bondade que  podem coexistir em um mesmo coração? O que define se alguém é bom ou mau? Você provavelmente responderia que as atitudes de um indivíduo determinam o que ele é de fato. Então entramos em mais um estado paradoxal, o importa de fato são suas atitudes ou sua boa fé ao fazê-las? A existência precede a existência ou é ao contrário? Você é bom ou você é mau? Se isso depende apenas da perspectiva adotada, como eu poderia criar um bom vilão se não existe mais vilania em nosso tempo? Como eu poderia criar um bom vilão se meus heróis são indignos da bondade e da benevolência? O que define quem é mocinho no fim das contas? Tenho especulado muito sobre essa questão, afinal, o favoritismo nasce da identificação de cada um de vocês.

O resumo da história é que apesar de existir muita bondade no peito caótico de Lauren, a maldade estava ali, amarrada e amordaçada por todos seus princípios morais. O que aconteceria se ela conseguisse se soltar algum dia? Lauren temia por suas atitudes, temia por perder as pessoas que a amavam caso perdesse sua postura. Temia por tantas coisas que não existiam dedos para enumerar cada um desses cenários catastróficos. Deixaria de ser a menina dos olhos de muitos caso se entregasse a todo o ódio que lhe apertava o peito?

Ela precisou se sentar um pouco enquanto admirava o sol para chorar, desfrutar de sua solidão e do aspecto miserável de sua existência. Queria conseguir seguir em frente e simplesmente esquecer o que haviam feito com ela, mas o demônio em seu ombro sussurrava para que pagasse na mesma moeda. Perdoar é tão difícil, deixar ir é tão difícil porque as dores que te causaram sempre vão te acompanhar. O perdão é uma palavra vazia, ele não existe de fato, tenho convicção ao afirmar isso.

Após chorar, ela secou suas lágrimas e se reergueu, embora sua moral sempre estivesse no chão, pisoteada juntamente com sua autoestima. Subiu em sua moto e pilotou como sempre pilotava, julgando ser mais rápida que toda a maldade que pudesse persegui-la, mais veloz que os lobos que lhe rasgavam o coração.

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