Capítulo 9

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O julgamento já durava três horas. Lauren não aguentava mais estar com os sapatos de Camila, seus dedos mínimos só não doíam mais que suas panturrilhas. Se não estivesse num ambiente tão formal cogitaria tirar os saltos para que seus pé pudessem respirar um pouco. A apreensão em seu peito também era um incômodo, será que Camila também se sentia assim? Era certo que ela detestava perder. Lauren não conseguia compreender os resultados tão bons em tantos anos de trabalho atingidos por Camila. Talvez esta só não desejasse perder porque não saberia como lidar com a perda. Lauren não conseguia imaginar qualquer situação na qual Camila não saísse por cima, Camila também detestaria cogitar tal hipótese.

A sala havia passado por transformações antes que a testemunha principal do processo entrasse. Uma espécie de biombo foi colocado para impedir o contato visual entre a ré e a testemunha, que no caso seria sua filha. Uma ação cautelosa que provavelmente a deixaria mais segura para prestar seu depoimento.

O juiz que ministrava o processo finalmente convocou a quarta e última testemunha do dia. O júri era composto de pessoas que agora demonstravam estar muito mais inquietas que anteriormente. Um encarregado atravessou a sala com uma almofada em sua mão, a colocou sobre a cadeira a qual estava sendo utilizada pelas testemunhas. Um gesto sutil que premeditava o que estava por vir. Ao ser anunciada por seu nome adquirido após a denúncia da mãe, Annie entrou na grande sala a passos custos e desajeitados. Seus olhos estavam caídos e sua cabeça não ousava se erguer para encarar os demais ali.

Com as roupas que trajada, a atual Milly parecia ser um pouco mais jovem. Lauren chutaria doze anos caso não soubesse sua idade real. Camila se manteve imóvel na promotoria. Os olhos de Lauren estudavam com atenção para tentar absorver o máximo que poderia daquela mulher. Os sapatos de Annie, ou melhor dizendo, Milly quebraram o silêncio mortal que o grande salão do tribunal havia adquirido. Camila fechou seus olhos por um pouco mais de um segundo e ergueu um pouco mais seu queixo. Era uma mulher tão forte, que aos olhos de Lauren se tornava uma espécie de divindade. Apenas quando Lauren estava a observando com certa distância, pois ao se aproximar de Camila, esta se tornava seu maior pesadelo.

Lauren percebeu que o fixo olhar em Camila foi descoberto quando os olhos da morena foram de encontro aos dela. Camila era linda, absolutamente linda. O contato visual se manteve por alguns instantes, a face de Camila continuava rígida, imóvel, como uma pintura. O coração de Lauren se agitou, seu sangue passou a circular mais depressa por suas veias. Talvez isso explicasse a sensação quente que seu corpo adquiriu, mas sem dúvida não saberia explicar também o revirar de estômago repentino durante aquele momento. Então, Lauren deu a ela o seu mais belo sorriso, ou o melhor que conseguiria lhe oferecer naquela situação. Os olhos de Camila mudaram de rumo, mas sua expressão continuava a mesma, intacta. A mulher ergueu o copo de água que se dispunha ali e deu um pequeno gole, desejava apenas molhar seus lábios.

Aposto apresentar a testemunha aos membros do júri popular e fazer com que a garota jurasse falar apenas a verdade, o juiz convocou a promotoria. Esta era a hora de Camila brilhar, a tão esperada hora de Camila brilhar. O sorriso de Lauren agora fazia morada em seus lábios enquanto observava a mulher caminhar em direção ao banco da testemunha ao embalo do ritmado som que seus saltos altos sempre faziam.

— Olá, Milly, eu sou Camila Cabello e farei algumas perguntas para você, tudo bem? – Camila disse em tom amigável.

— Sim.

— Certo. – Os lábios de Camila se curvaram num meio sorriso – Como era sua relação com sua mãe antes da denuncia feita por você?

— Eu acho que normal, ela me buscava na escola, fazia o jantar, coisas que mães normalmente fazem. – a garota começou com uma resposta um pouco tímida.

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