Capítulo 27

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Lucy estava inquieta naquela noite, não era comum que perdesse noites de sono, mas o fantasma que a atormentava sempre que o dia 19 de fevereiro se aproximava já a rodeava. Sugava suas energias, sua vitalidade, a fazia ter um pouco menos de vontade de qualquer coisa. Faltavam apenas quatro dias para que a morte de Verônica completasse mais um ano.

Lucy estava angustiada como sempre ficava, pensativa. Não poderia de maneira alguma tirar de sua mente que teve um papel decisivo no suicídio de sua ex namorada. As duas haviam terminando horas antes. Se ela soubesse que Verônica tomaria uma medida como aquela, jamais a deixaria. Na verdade, o objetivo de Lúcia nunca foi abandonar a namorada de fato, gostaria apenas de impor limites a ela. Queria deixar muito claro que a perderia caso continuassem agindo daquela maneira. Terminar com Verônica foi uma das coisas mais difíceis que a garota já havia feito. Amava sua namorada, ensaiava uma conciliação quando soube da notícia. Lucy não acreditou, simplesmente não consegui acreditar. Como assim Verônica estava morta? Não poderia ser possível. Verônica era a pessoa mais cheia de vida que conhecia, era extrovertida e entusiasmada. Como ela poderia estar morta?

Lúcia jamais havia passado pelo luto. A princípio, não consegui ao certo assimilar que sua namorada havia falecido, talvez por sua falta de bagagem, não sabia ao certo o que aquilo significava. Pensava que a qualquer momento receberia alguma mensagem ou ligação de Verônica, que a veria passar pelos correios do colégio cedo ou tarde, mas isso não aconteceu. Jamais veria sua namorada novamente, afinal, ela estava morta.

A cada ano que se passava, Lúcia sofria um pouco mais a medida que sua memória apagava as feições de Verônica. Tinha que se esforçar bastante para se lembrar como era seu rosto, o som da sua voz, a textura de sua pele, o gosto de seu beijo, seus trejeitos e seus pequenos e quase imperceptíveis triunfos. Naquela época, Lucy estava muito atenta a cada mísero e inofensivo detalhe de sua namorada, tinha cada um deles tatuado em sua memória, mas após o ocorrido, a dor foi desbotando gradualmente suas lembranças. A dor engoliu todas as lembranças vívidas que ainda lhe restara, a dor se tornou a maior e mais genuína e nobre recordação de sua relação com Verônica. Então, ela a guardou na parte mais oculta de si, onde habitam os seus medos mais profundos e os seus sonhos mais ecléticos, para que nunca deixasse essa dor escapar, para que nunca permitir que Verônica morresse por inteiro. 

— Oi, meu amor. – Lauren disse ao entrar no quarto, Lúcia secou suas lágrimas rapidamente para se virar para conversar com a outra. – Estou pensando em começar a fazer o jantar daqui a pouco, mas precisarei de alguns ingredientes que nós não temos aqui. Então, eu fiz uma listinha e queria perguntar se você pode ir ao mercado buscar enquanto eu começo a fazer as coisas por aqui.

— Claro que sim.

— Eu te enviei a lista por mensagem.

— Você me enviou a lista antes de saber se eu iria aceitar ou não? Que garota confiante. – Lúcia zombou.

— Você nunca consegue dizer não para mim.

— Certo. Palmito, pimenta do reino, vinho, creme de leite, azeitona preta e linguiça toscana. A linguiça, a gente pode usar a sua. – Lucy zombou após terminar de ler a lista em voz alta.

— Muito engraçado.

— Ops, esqueci que a sua linguiça está reservada para Camila. – Lucy zombou novamente. Não parava de fazer brincadeiras que envolvessem Camila desde que sua namorada a contou o episódio do vibrador e do que havia feito no banheiro após o ocorrido.

— Muito engraçadinha. – Lauren revirou seus olhos.

— Qual é? Eu estou errada? Se Camila abaixar a guarda, ela vira um empanado. – Lucy gargalhou. – Eu já estou indo, vou só tomar um banho antes. – disse antes de se levantar e seguir para o banheiro.

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