Capítulo 25

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Acordar após uma noite de sono iniciada depois de chorar durante algumas horas, levantar de sua cama, olhar seu olhos opacos no espelho e não gostar do que vê. Sentir algum conforto durante o banho, sempre havia gostado muito de água, ela a relaxava, a deixava leve. A temperatura quente e agradável da água que deixava sua pele avermelhada também amenizava suas dores, as desprendiam de seu corpo magrelo e as levavam embora pelo ralo.

— Garota. – um grito furioso soa do lado de fora da porta acompanhado de duas fortes batidas na porta de madeira de terceira. – O dia que você pagar a conta, você demora quanto tempo quiser. Enquanto estiver debaixo do meu teto...

— Eu já entendi, estou saindo. – sua voz soa como um grito de lamentação, como um pedido de trégua, mas quando se está no escuro uma bandeira branca é a mesma coisa que nada.

Estava terminando de tirar o shampoo de seu cabelo castanho e longo quando a temperatura da água mudou bruscamente. Haviam desligado a eletricidade do chuveiro novamente, para forçá-la a fazer o que foi dito na hora que foi dito. O inverno do começo de fevereiro castigava a cidade de Miami, não sabia ao certo quantos graus fazia, mas a noite anterior carregava a crueldade de dois negativos.

Ela terminou de tirar o shampoo de seu cabelo na água gelada que perfurava seus ossos. Suas pernas e braços apenas não tremiam mais que seu maxilar, que preenchia o silêncio gritante do cômodo com seu bater de dentes.

Após terminar, colocou um de seus braços para fora da cortina que dividia o banheiro apertado e alcançou sua toalha. A transpassou por seu ombro, enrolando seu corpo e imaginou que o calor gerado pelo tecido áspero vinha do abraço aconchegante e acolhedor de sua menina dos olhos. Ela esboçou um leve sorriso enquanto uma lágrima solitária caminhava por sua bochecha.

Terminou de se vestir no banheiro, para não dar mais chances ao frio. Caminhou até o seu quarto e fechou sua porta, passou o secador no cabelo. O mesmo secador que havia ganho de sua namorada após passar semanas reclamando do medo de uma explosão que sentia sempre que utilizava o seu antigo. Ela nunca teria condições de comprar um produto como aqueles, mas seu preço não era o que atribuía seu valor, mas a preocupação de sua garota. Ela não era acostumada a ter alguém atencioso como sua namorada e muito menos alguém que se esforçava para suprir suas necessidades como ela fazia. 

— Garota, – batidas fortes na porta acompanharam a voz estridente de sua mãe. – voce ganhou uma bolsa para se atrasar todos os dias? Você nunca dá valor a nada mesmo.

— Eu já estou quase pronta. – disse enquanto terminava sua maquiagem.

— Depressa, eu não tenho o dia todo. Vou me atrasar para o trabalho por sua culpa mais uma vez. – sua mãe continuou.

— Estou pronta. – disse enquanto pegava sua mochila e deixava o quarto.

— Você não vai comer nada?

— Não estou com fome. – respondeu enquanto caminhava até a sala. – Vamos.

— Você finalmente decidiu fazer uma dieta? Na sua idade eu era muito mais magra que você, o que estragou o meu corpo foi você. – disse enquanto pegava a chave do carro.

— O papai ainda está dormindo?

— Seu pai já foi para o trabalho. Você realmente acha que todos nessa família são como você?

— Eu só perguntei. – se justificou. – Você fez algo no cabelo?

As duas entraram no carro em silêncio. Aquela lata velha já estava nos últimos estágios que poderia, mas ela ainda funcionava e isso era o suficiente. A garota colocou o cinto de segurança e esperou que sua mãe ligasse o motor. A mulher começou a dirigir e a garota fechou os seus olhos, teria em média mais vinte minutos de sono até o colégio e gostaria de aproveitá-los.

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