Capítulo 4

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Os saltos altos ecoavam pelo piso liso e tão bem lustrado que podia ser capaz de ver o próprio reflexo através dele. Lauren sabia que ela se aproximava assim que desta saira do elevador, se fazendo notar pelo poderoso e ritmado som feitos pelos seus sapatos pretos. Taque taque taque fazia Camila ao desfilar por sua zona de conforto. Tum tum tum, o coração de Lauren batia aflito no peito enquanto sua zona de guerra se aproximava.

Ela preencheu seus pulmões com o máximo de ar que poderia quando Camila parou diante de si, sabia que a mulher seria capaz de roubá-lo se tivesse a oportunidade. Engoliu a seco e finalmente ergueu os olhos para os castanhos da outra. A latina estava séria, rígida, não demostrou nenhuma expressão, apenas seguiu até a sua sala.

- Eu não pago você para ficar parada no corredor. - disse em frente a porta de madeira bem conservada de sua sala.

Lauren se deu ao luxo de fazer uma pequena careta antes de se adiantar para abrir a porta para a outra, que tinha as mãos ocupadas por uma pilha de papéis.

- Estive pensando sobre o caso em que você está. - Lauren disse ao fechar a porta atrás de si.

- Parabéns. - Camila colocou cuidadosamente a pilha de papéis do lado esquerdo de sua mesa e sentou na luxuosa cadeira - Agora se cale que preciso ler tudo isso.

- Como a justiça irá lidar com uma criança no júri? - Ignorou-a e prosseguiu com sua linha de raciocínio.

- Ela está para completar 16 anos, não é bem uma criança. - Camila respondeu levando sua mão esquerda até a pilha de papéis.

- Mas como evitar que saia de lá tão ferida? O seu papel é a acusação, será que ela conseguirá separar que está lá para acusar a mãe dela e não a ela?

- É difícil descobrir onde começa você e onde terminam os seus pais, mas creio que ela já tem essa noção. Não teria tomado uma atitude assim se já não soubesse que ela e sua mãe são pessoas diferentes. A única que está sendo julgada é a mãe, mas como se trata de um indivíduo em processo de formação serei o mais didática e compreensiva possível ao fazer as perguntas que colocarão a mãe dela atrás das grades pelo resto da vida. Sendo corretas ou não as atitudes de sua mãe, ainda assim foi a pessoa que a gerou e criou. É tão árduo o trabalho de desmistificar a ternura quando está misturada ao ódio.

- Deve ser tão difícil ter pais ferrados, não é? Como vai ser uma pessoa boa se seus maiores exemplos são seres desprezíveis como a mulher que mata crianças e deixa seus corpos no porão?

- O que você sabe sobre essa assassina? Já esteve com ela? Já leu os documentos do inquérito, teve acesso aos depoimentos ou provas? - cruzou os braços a frente do peito, interrompendo sua leitura para encarar Lauren.

- Não, mas eu sei o que ela fez. - firmou seu olhar convicto sobre a face macia e jovial de Camila.

- Especulação. - rebateu devolvendo o mesmo olhar intenso que lhe foi entregue. Uma de suas sobrancelhas se ergueu e ela se endireitou na cadeira, como se quisesse parecer um pouco maior do que realmente era.

- O que você sabe sobre essa mulher?

- Eu não tenho nenhum conhecimento concreto sobre ela. - Camila responde - Minha visão a cerca da assassina Peter Pan provavelmente seria diferente da visão de sua filha. Eu não tenho que julgar o caráter das pessoas, isso seria se envolver no caso mais do que seria saudável. Advogar não é abraçar uma causa como se sua vida dependesse aquilo, é colocar as peças do xadrez no tabuleiro e dar o xeque. De passionais bastam os demais, se quer trabalhar nessa área não deve amar nem odiar ninguém, pois ambos os sentimentos cegam. Não faça juízo de valor, faça uma análise com base no que você tem e o que é preciso.

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