Hanma
-Ah, que se foda! -Falei amarrando a gravata de qualquer jeito, mesmo sabendo que Suri voltaria a me importunar por causa daquilo.
Tentei desamassar um pouco da roupa e saí do meu quarto, vendo meu padrasto sentado no sofá bebendo cerveja e comendo amendoins. O cheiro de lugar fechado e nada limpo parecia impregnado. Todos os estofados cheiravam a suor e salgadinho, as cortinas não tinham sido lavadas em muito tempo, e o tapete da sala já tinha desaparecido depois que o grude ficou impossível de tirar.
-Tá indo pra escola, é? -Ele perguntou com os cantos da boca sujos. Ele tinha uma enorme barriga de chope que dobrava sempre que ele se sentava, um bigode horrível que ele insistia em achar bonito e entradas profundas no cabelo, que ele tentava disfarçar penteando os fios pretos para o lado.
-Como se você se importasse. -Falei trancando a porta do meu quarto e atravessando o resto da casa.
-Escuta aqui, garoto. -Ele se levantou e foi até mim. Por mais que fosse mais baixo, não perdia a marra. O bafo de cerveja no meu rosto me dava enjoo. -Você sabe que eu não gosto dessa sua mania de ficar trancando o quarto. Tá escondendo o que?
-Tô só prevenindo pra ter certeza de que você não vai continuar me roubando. -Falei empurrando-o com o antebraço e abrindo caminho até a porta da frente.
-Você é um imprestável, seu merdinha! -Ele falou com a voz enrolada por causa da embriaguez e eu apenas sorri.
-Aprendi com meu padrasto. -Fechei a porta atrás de mim e saí de casa.
Subi na moto e dei partida o mais rápido possível, me afastando do bairro pulguento em que eu morava. Cresci naquele lugar, sentindo cheiro de cigarro, cerveja, escutando músicas obscenas e vendo prostitutas passarem por ali. Aquela sempre foi minha realidade e sempre foi normal pra mim.
Com treze anos comecei a fumar, e aos catorze já tinha tatuado as mãos. Minha mãe nunca foi presente do tipo que faz o jantar e espera a família toda pra comer. Suspeito que ela se casou com meu padrasto pra tentar ter uma vida boa, mas acabou caindo no conto do vigarista e agora precisa trabalhar pra sustentar os gostos dele.
Eu não tinha absolutamente nada de nobre ou de elegante. Fui um moleque criado nas ruas, sem limites e sem regras (e quebrando as poucas que existiam). Completamente diferente dela...
Assim que entrei na sala Suri já estava lá. Sentada na carteira à frente da minha. O cabelo preto liso e comprido chegava no meio das costas, e hoje estava adornado com uma bela presilha prateada na lateral. As roupas do uniforme sempre estavam perfeitamente arrumadas e passadas, ela tinha uma postura perfeita, as costas retas como as de uma bailarina, e um sorriso tão bonito que deixaria qualquer dentista encantado.
-Bom dia, Shuji! -Ela sorriu e acenou pra mim, me fazendo sentir um frio no estômago.
Ela era o completo oposto de todo tipo de garota que eu já tinha conhecido, todas tinham sido criadas mais ou menos como eu, e era notável a diferença. Dava pra ver de todas as formas que Suri tinha sido criada como uma princesa. Seu próprio nome carregava esse significado, e eu não podia deixar de reparar em cada detalhe.
-Hoje a gente vai fazer aquele trabalho de literatura, né? -Ela disse se virando para mim na carteira e apoiando o braço na minha mesa.
-Sim, a gente faz. -Respondi brevemente, sem tirar meu olhar das orbes extremamente escuras que ela tinha, era quase impossível separar a íris da pupila, a não ser que alguma luz estivesse apontada diretamente para os olhos dela.
-Quando as aulas acabarem, me encontra na biblioteca. Acho que vai ser melhor lá.
-Tá bom. -Respondi e ela olhou desapontada para minha gravata com um nó feito como se fosse um cadarço. -Eu tentei. -Desviei o olhar tentando não expressar meu desconforto com toda aquela situação, mas ela me surpreendeu esticando os dois braços para meu pescoço e desatando o tecido, refazendo o nó e a deixando perfeitamente arrumada em poucos segundos.
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Holy Sin, Shuji Hanma
Fanfiction[Fanfic] [Tokyo Revengers] [Shuji Hanma] [+18] Ela era um anjo. Uma garota tão gentil, adorável, amável e delicada. Cresceu num ambiente feliz e saudável, cercada de amor, boa educação e respeito. Ele foi criado no inferno. Brigas constantes, violê...