Empíreo

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Hanma

Após fechar a oficina, sorri ao perceber que ainda tinha luz do sol.

Eu ainda tinha meu antigo emprego que Satoshi me arrumou, aparentemente, o dono da oficina realmente não se importava com o passado dos funcionários, e queria poder dar oportunidades para as pessoas que foram prejudicadas. Bom... eu só tinha a agradecer. Ele confiava em mim o suficiente a ponto de me deixar cuidando sozinho da oficina quando ele saía, e eu sempre dava o meu melhor para organizar tudo. Era bom!

Antes de subir na moto para ir embora, caminhei até o outro lado da rua e entrei no mercadinho que eu já tinha me tornado cliente fiel.

— Boa noite, senhor Hanma — disse a atendente, sorrindo e acenando.

— Boa noite, senhorita — respondi em retorno, caminhando até o fundo do mercado e indo atrás do que eu precisava.

Fui até a sessão de frutas e peguei a bandeja com os morangos mais vermelhos e suculentos que encontrei. Suri amava morangos, e eu sempre levava para ela. Fui até o caixa e a atendente passou minhas compras.

— Acho que o senhor é o cliente mais fiel do setor de frutas — ela riu, passando a caixinha no aparelho de preço enquanto eu pegava a carteira.

— Aparentemente, é impossível enjoar de morangos — eu ri, pagando e pegando minha sacola. — Boa noite!

— Boa noite!

Saí do local e fui até minha moto. Sentei e coloquei o capacete. Já estava acostumado a carregar a sacola no braço, mas não podia negar que eu não via a hora do meu carro chegar logo. Fiquei pensando na vida enquanto pilotava a caminho de casa.

Depois de ser preso injustamente, o Estado me indenizou e pagou uma quantia bem gorda de dinheiro. Eu, Kazutora e Yuriko recebemos valores semelhantes, cada um com seus próprios critérios. Eu guardei a maior parte do dinheiro e usei apenas uma parte para comprar um carro (já que agora minha família tinha crescido) e ajeitar algumas coisas no meu apartamento.

Kazutora, aparentemente, tinha se emancipado dos pais. A vida dele era um inferno naquela casa, e mesmo depois de defender a mãe tantas vezes, ainda sim ele teve que lidar com agressões físicas e verbais vindas dela. Ele hesitou no começo, mas priorizou a si mesmo e se emancipou na justiça. Morava sozinho, mas perto de todos nós. O dinheiro o ajudava bastante no dia a dia e ele conseguia manter os estudos sem grandes prejuízos.

Yuriko aproveitou para ir embora. Não ouvi falar muito dela, mas sei que ela e o irmão juntaram as coisas e deixaram a casa. Não sei se pela vergonha ou unicamente porque ninguém acreditaria mais nas mentiras dela, mas ela foi.

Era inevitável ficar lembrando de todas essas coisas. Mesmo que o tempo tivesse passado, ainda parecia muito recente. Vez ou outra eu ainda acordava assustado, pensando que estava na cela, mas bastava virar para o lado e ver Suri adormecida que meu coração se acalmava.

Estacionei na frente do prédio e entrei, cumprimentei o porteiro e subi até o andar da minha mãe. Bati à porta e pude escutar a bagunça do lado de dentro da casa.

— Não me escutaram — sussurrei ao ouvir a música infantil muito alta. Girei a maçaneta com cuidado e a porta abriu. Eles dois tinham o costume de esquecer a porta destrancada.

Eu entendia minha mãe. Era bom saber que podíamos sair e deixar as portas destrancadas sem medo.

— Boa noite? — Chamei, mas mesmo assim não me ouviram.

Quando entrei na sala, comecei a rir e entendi o porquê.

Sakura estava deitada na cadeirinha em cima do sofá. A música infantil tocava na televisão, passando o clipe sem parar. Minha mãe e Tatsuo dançavam juntos para a neném, fazendo todo tipo de palhaçada que apenas avós eram capazes de fazer.

Holy Sin, Shuji HanmaOnde histórias criam vida. Descubra agora