Holy Sin, Shuji Hanma

Paradoxos

Suri

Foi o som do copo de vidro se estourando no chão que me acordou.

Shuji deu um sobressalto da cama que me assustou e saiu correndo até a porta, agarrando a maçaneta com pressa e puxando. Olhei assustada para a cena enquanto meu coração batia forte. Por estar trancada e sem a chave na fechadura, ela não abriu e Shuji soltou um resmungo alto. Eu o chamei, mas ele não olhou, parecia apressado e prestes a derrubar a porta.

-SHUJI! -Chamei um pouco mais alto e seu olhar se voltou para mim. Ele estava com os olhos arregalados e um semblante assustado, como se tivesse acabado de acordar de um pesadelo. -O que foi? O que aconteceu? -Desci da cama rapidamente ao ver sua expressão facial e ele começou a olhar ao redor, como se tentasse se localizar.

-Suri? -Ele perguntou confuso e respirou soltando a maçaneta. Toquei seu peito e senti seu coração disparado e acelerado junto da respiração curta e rápida.

-Vem, senta aqui. -O puxei pelo punho e guiei até a cama. Peguei a garrafa de água que sempre deixava na mesa de cabeceira e ele tomou diversos goles de uma vez. -O que aconteceu? Você me deu um susto.

-Eu... eu só... -Ele engoliu em seco e olhou para os lados. O semblante de susto pareceu se tornar um semblante de vergonha, e eu não entendi o que estava acontecendo. Ele respirava mais fundo, tentando controlar os ânimos, mas ainda parecia um pouco abalado.

-Alguém quebrou um copo lá na cozinha, você se assustou com o barulho. -Dei um beijo em sua testa e ele me olhou de uma forma tão fofa e carinhosa que eu quase derreti. -Eu já venho, espera aqui.

Peguei as chaves na estante da televisão e destranquei a porta. Caminhei até a cozinha e encontrei Shiro catando os pedaços de vidro espalhados pelo chão.

-Coloca, eu vou pegar o chinelo. -Falei jogando as minhas pantufas para ela. Minha irmã tinha a mania de andar descalça pela casa e eu não queria que ela cortasse os pés. Peguei as pantufas dela no quarto e voltei para a cozinha.

-Por que você tava gritando? -Shiro perguntou quando me abaixei ao seu lado e começamos a pegar juntas os cacos de vidro. -Parecia que você ia arrombar a porta.

-Ah, eu... me assustei. -Falei a primeira coisa que veio na cabeça e decidi mudar de assunto antes que ela fizesse perguntas demais. -Como você conseguiu quebrar esse copo? -Falei ao ver o rosto do Mickey rachado em dois. Shiro adorava copos de personagens então ganhava muitos de presente.

-Eu fui pegar do escorredor de louça, mas ainda estava molhado. Escorregou da minha mão. -Ela suspirou e colocou o último caco grande na pá.

-Deixa que eu varro tudo. Traz o aspirador.

-Tá bom!

Ela foi até a sala buscar o robô aspirador enquanto eu colocava o vidro quebrado dentro de uma caixa de leite de papelão para não machucar os coletores de lixo. Em seguida, Shiro ligou o aparelho e ele começou a limpar os cacos minúsculos que não tinha como pegar com a mão.

-Cadê o papai e a mamãe? -Perguntei enquanto ela pegava os morangos congelados e colocava no liquidificador, batendo junto com leite e gelo.

-Eles saíram cedo, acho que foram no mercado. E o papai levou o Dante, eles dois estão inseparáveis. -Ela gargalhou e eu acompanhei. -Aí, Suri, até tinha esquecido, chegou um negócio aqui em casa pra você. Deixei lá no sofá.

Fui até o local e encontrei um buquê bonito de rosas brancas. Não eram minhas flores favoritas, mas estavam decoradas com um pouco de glitter e um papel cor de rosa bem clarinho, além de uma fita de cetim também branca. Peguei o bilhete e li com calma.