Cicatrizes

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Rei

Eu realmente precisava muito daquele emprego.

Passei o resto do período de trabalho vendo Suri passar pra lá e pra cá. As outras funcionárias já a conheciam perfeitamente e a paparicavam o tempo inteiro. Confesso que senti uma pontada de inveja naquele momento, por um instante eu me peguei pensando como seria ter minha mãe cuidando tão bem de mim.

Afastei os pensamentos e me concentrei completamente na cliente à minha frente. Terminava de lavar o cabelo e tirar o produto quando algo chamou minha atenção na entrada. Senti um frio na barriga quando vi Hanma parado e conversando com a garota sorridente. Não dava para escutar o que estavam falando, mas em determinado momento ela o virou, o deixando de costas para mim. Franzi o cenho sem entender, mas foi quando a garota ficou nas pontas dos pés e o beijou com os olhos bem abertos e me encarando que eu notei que ela estava marcando território.

-Moça, eu... -A cliente se manifestou e só então eu percebi que a água escorria um pouco para os olhos dela.

-Nossa, me desculpa! -Falei imediatamente e peguei uma toalha de reserva para que ela secasse o rosto. -Desculpa, eu ainda não estou acostumada com esse lavatório.

-Tudo bem. Sem problema. -Ela deu uma risadinha, mas ainda sim me senti mal.

Hanma saiu logo em seguida e Suri subiu as escadas para o lounge. Engoli em seco e continuei com a minha última cliente do dia.

Não demorei muito com os procedimentos, bastou secar e escovar o cabelo dela. Em cerca de trinta minutos ela estava prontíssima. Saiu agradecendo e elogiando meu trabalho para a minha chefe, o que me deixou com um feedback bastante positivo.

-Já deu seu horário, Rei. Pode ir embora. -Kiyoko falou enquanto eu terminava de arrumar a cadeira que estava usando.

-Claro, já estou indo. -Sorri e agradeci. Terminei de organizar todos os produtos e itens utilizados e higienizei o local, deixando tudo perfeito para a próxima pessoa que usaria ou para o dia seguinte.

Subi para o lounge sem demora e encontrei a versão em miniatura da Suri no sofá. Eu nem tinha notado quando a garota chegou, mas ela estava bastante concentrada assistindo televisão junto da irmã mais velha. Era notável que eram irmãs, nem precisava perguntar. A semelhança entre elas era absurda.

Fui para o vestiário e comecei a me trocar sem muita enrolação. Já estava com a roupa de ir para casa, faltando apenas as meias e os tênis quando Suri entrou. Olhei de soslaio, mas me mantive quieta.

-Licença. -Ela falou ao passar por mim e abriu o armário ao lado do meu. Encarei a garota de costas por alguns instantes e percebi que eu poderia pensar em mil ofensas, mas era impossível chamá-la de feia.

Entretanto, haviam outras formas de atacar, mesmo que em silêncio. Ergui um pouco as barras das calças e apoiei os pés no banco, desenrolando minhas meias devagar. Suri se virou e seus olhos foram parar diretamente nos meus tornozelos, vendo a palavra que ela conhecia tão bem tatuada na minha pele. Precisei conter meu sorriso ao ver o semblante de surpresa dela. Suri não ficou mais enrolando, apenas pegou a bolsa e deu uma última olhada no meu tornozelo, aparentemente buscando saber se eu também tinha a tatuagem no outro. Discretamente me virei fingindo que pegaria algo na bolsa e exibi o outro lado. Depois daquilo Suri saiu do vestiário e eu ri baixinho.

Parece que eu também já deixei minha marquinha nesse território.

Estava terminando de colocar meus tênis quando meu celular começou a tocar. O nome no display me deixou animadinha, de certa forma.

-Oi, Senju. -Falei colocando o aparelho na orelha e o apoiando entre a cabeça e o ombro para poder amarrar os cadarços.

-Vai estar ocupada amanhã? A gente bem que podia fazer uma festa do pijama essa noite, né? -Dei risada com a proposta. Estávamos numa segunda-feira, claro que eu teria compromissos no dia seguinte, mas Senju as vezes parecia morar no mundo da lua, por isso era tão divertida.

Holy Sin, Shuji HanmaOnde histórias criam vida. Descubra agora