Pela porta da frente

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Hanma

-Até amanhã na escola? -Suri perguntou ficando na pontinha dos pés e me dando um selinho rápido. Seu cheiro de morango exalava mais forte que o habitual, agraciando o meu olfato.

-Até, pitica. -Sorri e retribuí com um beijo na pontinha do nariz dela.

-Aí, rapaz, tenho uma coisa pra você. -Satoshi se aproximou e eu ajeitei a postura. Ele estendeu a mão e deixou na minha palma aberta uma pulseira toda preta de miçangas em bolinhas e uma cabeça do Darth Vader no centro.

-Obrigado. -Agradeci passando a pulseira pelo couro das luvas e ajeitando no meu punho.

-Agora eu tenho um parceiro de Star Wars. -Ele ergueu o braço e mostrou a pulseira igual que tinha no próprio braço. -Até a próxima, rapaz. Vai lá em casa pra gente jantar qualquer dia desses. Um fim de semana.

-Vou sim, senhor Shotoku. -Agradeci novamente com uma reverência e ele riu com a mão no meu ombro.

-Pode me chamar só de Satoshi, rapaz. -Ele me deu dois tapinhas e se despediu finalmente. -Cuidado na rua, parece que vai garoar.

-Pode deixar. -Quando olhei para o lado, o sorriso de Suri era tão largo que parecia chegar nas orelhas. Coloquei a mão na cabeça dela uma última vez e baguncei a franja. Ela apertou os olhos e riu feito boba. -Até amanhã, pitica.

-Até amanhã, amor! -Eles entraram no carro e eu fui caminhando pelo estacionamento. Vi o veículo da família partir e então respirei aliviado.

Eu estava feliz. Verdadeiramente feliz. Queria correr até minha moto enquanto dava risada alta, estava tão feliz que sentia vontade até de cantar. Eles realmente haviam gostado de mim e nada poderia estragar aquilo.

"E quando ele descobrir?" Minha mente tentou sabotar minha felicidade me recordando que eles ainda não sabiam das tatuagens, ou pior, da prisão. Mas eu senti, no fundo do meu coração, que se eles me conhecessem um pouco mais, eu poderia explicar para eles tudo o que me levou até a cadeia, se eles soubessem o real motivo pelo qual eu fui preso eles talvez realmente pudessem compreender. O que importava era que o primeiro passo eu tinha dado, e tinha sido um sucesso.

Caminhei assoviando feliz enquanto olhava para o céu do estacionamento ao ar livre. Com as mãos nos bolsos e a alma leve, eu segui para o meu veículo, onde o anjo caído enviado de lúcifer me aguardava.

-Rei, pelo amor de Deus, hoje não. -Falei suspirando e revirando os olhos ao vê-la próxima da minha moto fumando tranquila. Parei alguns passos mais longe para conseguir me conter.

-Você namora? Porra, achei que ia me contar.

-Pra que? Pra você ficar fazendo inferno igual fez na vida da Yuriko? -Perguntei irritado. Eu estava realmente muito feliz e a última coisa que eu queria eram os dramas da Rei.

-Tanto faz. -Ela bateu os dedos no cigarro fazendo parte da ponta queimada cair no chão. -Ela é bonita!

-Sim, ela é. Agora da licença. -A afastei para subir na moto, mas Rei agarrou na manga da minha blusa.

-Fala. Fala agora se você tem coragem! -Ela disse encarando meus olhos.

-Rei, para de causar, porra. Não me estressa. -Eu tentava manter a calma e a felicidade que me preenchia, não queria que isso fosse roubado por ela. Além disso, falar aquela frase tornaria o drama ainda maior, porque eu sabia que ela ia encher meu saco atrás de explicações.

-Você não consegue dizer, não é? Você prometeu que ia falar, mas não falou naquele dia. Disse que era pra eu entender, mas depois correu pra mim. Correu pra me proteger.

Holy Sin, Shuji HanmaOnde histórias criam vida. Descubra agora