O pecado viciante

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Hanma

Sexta-feira. Dia de educação física, e também dia em que eu mais ficava incomodado durante todo o período de aulas.

Primeiro porque a única pessoa que eu realmente conhecia era Suri, e ela não estava comigo. Segundo porque a maioria dos caras fazia questão de não falar comigo e me olhar torto, me dando vontade de brigar. E terceiro porque eu não tinha como esconder minhas mãos.

-Vamos fazer uma pequena corrida pra aquecer e depois vamos jogar basquete. -O professor falou.

-Fudeu. -Sussurrei ao lembrar que era fumante. Correr definitivamente não era meu foco, mesmo sabendo que eu não estava num estágio horrível, ainda sim, já eram anos no convívio com o cigarro. Três deles sendo de uso diário.

Estava tentando parar, por isso vivia chupando pirulito pra tentar equilibrar o vício, mas não estava fácil. A vontade de tragar a fumaça falava mais alto em grande parte das vezes.

Entretanto, a corrida não foi de todo ruim. Apesar de terminar com os pulmões quase saindo pra fora do corpo, eu estava bem, tinha conseguido me sair melhor que o esperado, e agora estávamos todos na quadra esperando para começar o jogo. Nos alongávamos e eu falava apenas aqui e ali, assuntos bem triviais e indiferentes. Ninguém realmente tinha interesse em conversar comigo.

-Meninas, preparem o... -a professora falou entrando na quadra e sendo seguida pela fileira de garotas da minha sala. -Ah, os garotos estão aqui, vamos ter que ir para a outra quadra. Esperem aqui, por favor, tenho que buscar as chaves da outra porta.

As garotas começaram a se espalhar e todos voltaram a conversar em grupo. A maior parte dos caras ficava empolgado de vê-las com camiseta branca justa e shorts curtos de ginástica, deixando uma boa parte das coxas à mostra.

-Shuji! -Suri surgiu por entre as pessoas, acenando enquanto caminhava ao lado de um garoto que eu já tinha visto outras vezes, mas não o conhecia. -Esse aqui é o Ichiro. Ichiro, esse é o Shuji! -Ela sorriu ao nos apresentar.

-Fala aí! -Apertei sua mão e ele sorriu. Parecia estranhamente amigável, o que era muito raro naquela escola.

-E ai, tudo bem? -Ele era quase tão alto quanto eu, bem magro e usava óculos. Suri ficava parecendo uma anã de jardim entre nós dois.

-Me falaram que a aula de hoje de vocês é basquete, aí eu lembrei que o Ichiro jogava muito! E eu também sei que você joga bem. -Ela sorriu e colocou a mão na minha cintura involuntariamente, mas logo tirou ao perceber que todos em volta poderiam ver. -Enfim, façam uma dupla e detonem!

Suri saiu correndo logo em seguida, quase pulando enquanto se juntava mais uma vez com as amigas e seguia a professora para a própria aula.

-Ela parece que tem bateria social infinita, né? -Ichiro perguntou rindo e se alongando. Tinha um corpo magro e comprido, mas parecia atlético. O cabelo era loiro e bem curto, quase raspado, o que também era uma raridade naquele colégio.

-Completamente diferente de mim. -Comentei rindo baixinho.

-Acho que nunca te vi conversando com ninguém além dela. Tipo, conversando de verdade, sabe?

-A mina que conhece todo mundo da escola e o cara que só conhece ela. -Ri com a comparação que meu cérebro fez automaticamente e Ichiro também.

-Equilíbrio. Mas aí, por que tu não fala com a galera?

-Transferido depois do início das aulas, claramente não sou de família rica, e... -levantei as mãos, mostrando as tatuagens. -Claramente um delinquente. Ou pelo menos é o que todo mundo acha.

Holy Sin, Shuji HanmaOnde histórias criam vida. Descubra agora