Rei
-Puta merda... -Praguejei ao ver que estava sem cigarros. Tinha fumado em um fim de semana tudo o que deveria durar a semana completa. Eu já sentia minha garganta seca, implorando por um pouco de hidratação e descanso, mas meu cérebro não parava.
Continuei penteando o cabelo úmido na frente do espelho, desembaraçando as pontas cor de rosa enquanto notava o quão cansado meu semblante estava. Eu definitivamente não estava no melhor dos meus dias. Sem cigarros, sem amigos, sem o Hanma, e ainda por cima estava calor.
Se tinha uma coisa da natureza que eu odiava, essa coisa era o calor. Quer dizer, ele nem sempre foi um vilão na minha vida. Houve uma época em que eu gostava. Era na época em que as crianças se reuniam durante os aniversários, aproveitando as piscinas de plástico e os banhos de mangueira. É claro que só vivi esses momentos na casa dos outros, eu nunca tive uma festa de aniversário quando era criança, era no máximo um bolo que minha mãe comprava dois ou três dias depois, porque ela nunca sabia o dia certo do meu aniversário.
E a minha mãe... ela sempre esteve ocupada demais enchendo a cara de cachaça e se drogando pra conseguir se lembrar de colocar almoço para a própria filha, quem dirá para dar banho de mangueira no quintal. Então é, mesmo na época em que eu gostava do calor ainda sim era apenas em momentos específicos, nossa relação não era boa o tempo todo.
-Cadê...? Aqui! -Falei pegando o elástico de cabelo e apoiando na bancada da pia, resolvi fazer uma trança embutida para não precisar me preocupar com a aparência, embora deixar o cabelo todo no rosto fosse mais confortável, a porra do calor ainda iria me incomodar com aquele amontoado de fios no pescoço.
Suor, pressão baixa, hiperventilação, necessidade de beber água a cada dois minutos... tudo isso me incomodava no calor, mas nada era pior do que não ser possível usar calças compridas e camisas de flanela com o dobro do meu tamanho. Eu usava meia-calça por baixo da saia do uniforme da escola para esconder as cicatrizes, mas no calor era um inferno de tão quente, além disso, sem o casaco preto por cima eu não podia esconder os braços e aquilo me incomodava muito mais.
O maldito calor me obrigava a deixar minha pele à mostra, e na minha pele eu carregava marcas permanentes de momentos traumáticos da minha história, e eu odiava quando pessoas descobriam ou perguntavam sobre elas. Então cheguei a conclusão de que eu realmente odiava o calor, por uma dezena de motivos diferentes, mas ainda sim eu o odiava.
Além disso, depois de todas aquelas cicatrizes em linhas ou em bolinhas eu não tinha mais coragem de colocar um maiô ou um biquíni e tomar banho de mangueira no quintal com alguns amigos. A única coisa boa que o calor tinha também fora roubada de mim. Não me restava nada.
Insisti em colocar o moletom preto por cima do uniforme e peguei meu MP3 com os fones de ouvido. Highway to Hell do AC/DC tocava alto. Joguei a mochila marrom xadrez nas costas e fui para a escola.
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Quente! Porra estava quente pra caralho! Mesmo debaixo do ar condicionado gelado do refeitório continuava quente. Eu não tinha tirado o moletom e nem os fones de ouvido, só torcia para o período de aulas acabar logo. Não me importava de ficar sentada sozinha no intervalo desde que estivesse com meu caderno para desenhos e meus fones de ouvido.
-E aí, loira! Tá fazendo o que? -Kazutora me assustou puxando um dos fones do meu ouvido e se sentando na mesa bem na minha frente.
-Porra, Kazu, quase errei. -Reclamei vendo o traço torto que tinha feito no papel, mas consegui consertar.
-É um elefante? Tá ficando bonitão!
-Valeu. -Agradeci baixinho e apoiei o caderno no canto com o lápis marcando a página. -E aí, tá fazendo o que?
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Holy Sin, Shuji Hanma
Fanfiction[Fanfic] [Tokyo Revengers] [Shuji Hanma] [+18] Ela era um anjo. Uma garota tão gentil, adorável, amável e delicada. Cresceu num ambiente feliz e saudável, cercada de amor, boa educação e respeito. Ele foi criado no inferno. Brigas constantes, violê...