Por dentro e por fora

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Kiyoko

Dia dezesseis de outubro. Nunca vou me esquecer dessa data, pois foi o dia em que ouvi as palavras que mais aliviaram meu coração naquele ano:

Kiyoko, eu encontrei o Hanma — Rei falou, do outro lado da ligação.

Eu lembro de ter chorado bastante, sentindo tanto alívio como se ele fosse meu próprio filho. Mesmo não sendo tão próxima assim dele, somente uma mãe entende a dor de ter um filho sumido, e eu podia sentir a dor de Minako, assim como também podia sentir o alívio.

Ele tem algumas coisas pra resolver ainda e pediu pra não contar pra Suri, pode ser? — Rei falou depois de mais algum tempo de ligação.

— Tudo bem, eu respeito completamente o tempo dele, mas... acho que o Satoshi vai querer encontrar com ele antes — respondi, fungando o nariz e limpando com um lenço de papel.

Eu vou falar com o Shuji.

Ela ficou em silêncio por algum tempo, provavelmente tinha mutado o telefone para poder conversar com ele.

Eu ainda estava trancada no banheiro do trabalho e só iria sair dali com todas as informações que eu precisava. Queria ter a certeza de que ele estava bem.

O Shuji perguntou se ele precisa se preocupar — Rei passou o recado e eu ri.

— Não, é claro que não. O Satoshi tem muito a conversar com ele, mas eu prometo que são coisas boas.

Tudo bem, ele disse que pode ser sim. Que dia?

— Eu preciso conversar com o meu marido primeiro, mas eu aviso. Não deve demorar muito.

Tudo bem, Kiyoko.

— Fala pra ele que eu tô muito feliz que ele esteja de volta, tá bom? E que eu também tenho muito a me desculpar.

Ele disse que tá tudo bem e...— Rei deu um longo suspiro. — Ele quer saber se a Suri tá bem.

Fiquei em silêncio e encarei a porta da cabine do banheiro.

Por alguns instantes, pensei em como eles se resolveriam quanto ao fato de Suri estar saindo com outra pessoa, mas logo percebi que aquilo não era da minha conta. Os dois deveriam conversar sozinhos.

— Ela está bem, na medida do possível, mas...— ponderei se eu deveria contar ou não. — Mas a Suri tem sonhado em revê-lo o quanto antes.

Eu sabia que não era mentira, pois minha própria filha havia confessado. Ela ainda o amava, embora estivesse com o coração em conflito. Não era fácil lidar com um abandono, principalmente depois de tanto tempo. E aquela carta... aquela carta de Hanma foi um golpe no coração de Suri que ela não esperava.

Tinha conseguido adormecer os próprios sentimentos por Shuji depois de tantos meses, mas ler as palavras dele... aquilo era doloroso. Eu a vi chorar muitas vezes.

Obrigada, Kiyoko — Rei agradeceu.

Depois de mais um pouco de conversa trivial, finalmente encerramos a ligação. Eu precisava me concentrar e voltar ao trabalho, mas não conseguia tirar aquilo da cabeça.

Shuji Hanma finalmente tinha voltado.

#

Eu esperava do lado de fora de casa, já quase matando as plantas afogadas de tanto que fingia regá-las, mas não podia arriscar que Suri ou Shiro escutassem.

Quando Satoshi finalmente estacionou o carro, eu quase não dei tempo para ele respirar.

— O Hanma voltou — falei sem demora e ele me encarou surpreso.

Holy Sin, Shuji HanmaOnde histórias criam vida. Descubra agora