Reviravoltas e confusões

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Suri

Rei era uma artista e a casa dela expressava isso muito bem.

Apesar das paredes beges e dos móveis de madeira, era notável a bagunça artística presente em todos os cantos. A mesa de centro estava cheia de tubos de tintas coloridas, além de uma grande paleta de madeira bastante usada. Os pincéis estavam de molho num recipiente de vidro e eu aguardava em silêncio, sentada no sofá com manchas de pinceladas e respingos coloridos espalhados.

Os quadros nas paredes eram todos assinados por ela, a maioria de paisagens fantasiosas, cheias de cores e pontos brilhantes, além de árvores e flores bonitas. O que mais me chamou a atenção foi o enorme quadro que ainda estava no cavalete, era uma árvore de cerejeira quase finalizada, faltando apenas alguns pontos brilhantes aqui e ali.

— Prontinho, chá de camomila — ela sorriu e me entregou a xícara de porcelana. Deixou um prato com fatias de bolo já cortadas em cima da mesa de centro, um tanto afastado das tintas.

— Ah, obrigada — agradeci um tanto sem jeito e peguei o objeto em mãos.

Rei sentou-se no outro sofá e quando eu fui bebericar meu chá, notei que a porcelana também estava pintada à mão. Um belo fio de margaridas extremamente delicadas.

Rei colocava os toques artísticos dela em tudo. Era muito bonito de se ver.

— Acho que não tem como enrolar pra entrar no assunto, né? O negócio é falar do Hanma logo — a loira suspirou e deu um longo gole no próprio chá.

— Você sabe alguma coisa? Disseram que ele nem tá morando mais lá — perguntei aflita. Pelo visto, meu namorado guardava mais segredos do que eu imaginava.

— Isso é uma longa história...— Rei suspirou e encarou um abajur no formato de sabre de luz que estava na estante da televisão. Parecia melancólica ao olhar aquilo.

— Eu... não sei de nada — apertei a porcelana entre as mãos e ela deu um sorriso reconfortante, voltando a me olhar.

— O Hanma tem essa mania. Ele não conta as coisas difíceis porque sempre acha que consegue aguentar tudo sozinho e não quer "incomodar" os outros... ou tornar o assunto desconfortável.

— Eu percebi isso.

Depois de algumas situações bastante complicadas, já tinha notado que Shuji não gostava de falar sobre coisas realmente relevantes, porém ruins. Ficava postergando o assunto a fim de evitar o desconforto da conversa. Era um placebo, mas acabava tornando tudo ainda mais difícil.

— Ok, o que eu sei é o seguinte — Rei relaxou um pouco mais no sofá. — O Haru fez um monte de dívidas por aí e a Minako era quem pagava tudo. Ela tava se desdobrando em mil pra dar conta. O Hanma sempre ajudou com as contas de casa, então ela conseguia dar uma respirada, mas o bosta do marido dela só piorou tudo.

Notei que era incrível como todos tratavam Haru feito um grande porco nojento e sanguessuga. Eu mal o conhecia, mas já tinha completa aversão.

— Eu sei que quando vocês voltaram da praia, o Haru tinha feito uma festa na casa dele cheia de... putas — ela pareceu um tanto envergonhada ao dizer aquilo. — E droga, muita droga também. Enfim, o Hanma achou que aquilo era o cúmulo e quis sair de casa. Ele chamou a Minako pra ir junto, mas ela não aceitou.

— O que? — aquele final realmente me surpreendeu. Minako não parecia ser do tipo que abandonava o filho por homem nenhum.

— Olha, quem me contou essa história foi o Tetta Kisaki. Você sabe que eu sou brigada com a irmã dele, então... ele meio que só me contou porque ficou preocupado com o Hanma. Sabe, depois que ele... sumiu — Rei continuou a beber o chá e eu respirei fundo.

Holy Sin, Shuji HanmaOnde histórias criam vida. Descubra agora