É natal!

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Suri

O natal finalmente tinha chegado, mas a tristeza dominava o coração de todos os membros da família. Eu estava sentada na cama, e até Dante, deitado aos meus pés com suas orelhas enormes e seus olhos fofinhos, parecia mais cabisbaixo que o normal.

Pela janela eu podia ver os flocos de neve se acumulando no beiral, criando pequenos montes branquinhos e fofinhos, do tipo que, em outras circunstâncias, eu estaria agarrando com as mãos para fazer bolinhas de neve e arremessar em Shiro. Ah, como eu sentia saudade daqueles momentos tranquilos e cheios de felicidade.

— Filha? — Kiyoko me chamou, entrando no quarto devagarinho enquanto eu esticava as pernas.

— Já está na hora do jantar?

— Não, ainda não. Só vim ver como você estava — ela se sentou ao meu lado e acariciou a minha barriga com os dedos. Eu sequer tinha uma pequena protuberância, ainda continuava com a barriga tão reta quanto sempre, mas era especial saber que ali crescia um bebezinho. — Olha só como o céu está cheio de estrelas hoje!

Minha mãe se levantou e foi até a janela. Tomada pela curiosidade, eu a segui, ajeitando o vestido de cetim cor-de-rosa ao me levantar. Parei ao lado dela e minha mãe abriu a janela, permitindo que o ar frio da noite nos tocasse. Era congelante, mas era gostoso sentir o frio direto na pele.

Nós duas olhamos para o alto e observamos o céu cheio de estrelas. Estava bonito e muito brilhante. Desejei profundamente que Shuji pudesse ter a mesma vista que nós, pelo menos para acalmar o coração dele.

— Olhando aquela escada eu só me lembro de quando o Shuji pulava a janela para vir te ver — minha mãe falou, arrancando uma risadinha minha. Era uma lembrança realmente muito gostosa.

— Você sempre soube? — Perguntei com sinceridade, virando a cabeça para o lado e vendo-a umedecer os lábios enquanto pensava.

— Comecei a desconfiar por conta dos pratos a mais que você pegava todo jantar. Depois comecei a sempre fazer uma porção a mais, ou você achou que as sobras eram coincidência?! — Ela tocou com o indicador na ponta do meu nariz e me fez dar risada. — Tive a certeza quando senti o cheiro do perfume dele na sua roupa de cama.

— Por que nunca brigou comigo?

— Porque... tá tudo bem aprontar às vezes. Você é uma filha incrível e eu jamais vou te cobrar a perfeição — ela passou o braço por meus ombros e esfregou a mão, num carinho materno que só ela sabia fazer. Deitei a cabeça para o lado e apoiei no ombro dela.

— Eu te amo, mamãe.

— Também te amo, minha princesa!

Virei a cabeça para o lado e coloquei meu nariz perto do pescoço dela. Minha mãe exalava um cheiro muito gostoso, mas não era cheiro de perfume, nem de banho e nem de qualquer outra coisa palpável. Era um cheirinho de mãe! Eu me sentia imensamente acolhida e amada sempre que sentia.

Fiquei pensando se algum dia eu teria aquele cheiro também. Se a minha filha olharia para mim da mesma forma que eu olhava para a minha mãe. Encarando as estrelas, respirei fundo e fiz uma prece aos céus, desejando que um dia eu fosse pelo menos metade do que minha mãe era.

— Olha, uma estrela cadente, Suri! Faz um pedido! — Ela disse com empolgação assim que a estrela cortou o céu.

Fechei os olhos e pedi a única coisa que ardia em meu coração acima de todas as outras.

— Fiz — respondi.

— O que pediu?

— Você sabe...

Holy Sin, Shuji HanmaOnde histórias criam vida. Descubra agora