Holy Sin, Shuji Hanma

A doçura do pecador

Hanma

Foi o som do copo de vidro se estourando na parede que me acordou.

Levantei rapidamente da cama e senti minhas vistas escurecerem com a rápida queda de pressão, mas logo voltaram ao normal. Ainda estava um pouco tonto, mas já conhecia bem o caminho do quarto e a sensação de acordar espantado.

Apertei o interruptor e a luz incomodou meus olhos, mas o som da briga que ocorria na sala já tinha me despertado por completo. Atravessei o corredor e vi meu padrasto bêbado gritando com minha mãe, agarrando o braço dela com força.

-SOLTA ELA! -Falei indo pra cima dele e os separando. -QUE PORRA TÁ ACONTECENDO AQUI?

-HARU, EU JÁ FALEI QUE NÃO É ASSIM! -Minha mãe se justificava aos gritos.

-E VAI SER COMO, EIN? VAI DEIXAR ESSE MERDINHA CUIDANDO DAS COISAS?

-QUE FOI, PORRA? -Gritei novamente, mas os dois me ignoraram.

Olhei a mesa de centro e percebi a bolsa de trabalho da minha mãe revirada. Haru provavelmente tinha ido em busca de dinheiro e acabou encontrando a carta de demissão. Respirei fundo e olhei para os dois.

Não era uma cena incomum. Eu cresci com brigas familiares, então não era nada que eu estranhasse. Acordar de madrugada pra separar os dois era algo que eu fazia desde criança.

-EU JÁ TENHO OUTRO EMPREGO, HARU. SE ACALMA. -Minha mãe gritava. Eu sabia que era mentira, mas era uma tentativa de amenizar a situação.

-TEM MESMO? ENTÃO ME PROVA. ME PROVA! -Ele foi na direção dela novamente e eu me coloquei no meio.

-NÃO ENCOSTA NELA NÃO, PORRA! -Falei alto e ele deu um passo pra trás, pegando a cerveja na mesa de centro e bebendo um gole.

-SAI DA FRENTE, SEU LIXO! -Ele disse vindo pra cima de mim e eu o empurrei para trás, fazendo-o cambalear e tropeçar nos próprios pés, quase caindo no chão.

-SHUJI SE ACALMA. -Minha mãe falou ao ver que eu já me preparava para bater no meu padrasto novamente e segurou meu braço. -PARA, SE ACALMA, VOCÊ VAI MACHUCAR ELE.

-ELE TÁ MACHUCANDO VOCÊ! -Gritei e olhei pra ela. -ATÉ QUANDO VOCÊ VAI ACEITAR ESSE BOSTA AQUI? ELE TE EXPLORA, PEGA SEU DINHEIRO, FICA SENTADO AQUI O DIA TODO E NÃO FAZ NADA. A CASA FEDE AO SUOR DELE E VOCÊ CONTINUA SUSTENTANDO ESSE MERDA!

-SHUJI! -Ela tinha lágrimas nos olhos. Eu não gostava de gritar com ela, me sentia fazendo a mesma coisa que ele, mas haviam vezes em que eu não aguentava, e aquela era uma dessas vezes.

-MANDA ELE PRA FORA, FAZ ELE...

No meio da frase, Haru acertou com a garrafa de cerveja com força na lateral da minha cabeça, cortando a pele no couro cabeludo e espalhando o resto do líquido sobre mim, me fazendo cair tonto para o lado.

-HARU! -Minha mãe gritou e ele cuspiu em mim, como se fosse vitorioso.

Levantei sentindo meus sentidos meio bagunçados, mas ainda conseguia brigar. Parti pra cima dele e o acertei com um soco no rosto, mas foi bem mais fraco que o de costume. Estava tonto demais por conta do golpe repentino na cabeça.

-SEU MERDINHA! -Ele gritou e me empurrou com força. Por mais que fosse um bêbado desgraçado, ele sempre soube brigar, principalmente com os golpes sujos que gostava de usar.

Antes que eu me estabilizasse novamente, ele veio na minha direção e me empurrou de novo, mas dessa vez eu o segurei e o empurrei. Minha mãe tentou intervir e Haru a pegou pelo braço e jogou na direção da parede.