Aguente firme

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Suri

Eu levei alguns dias para conseguir voltar para a escola.

Parecia que todo mundo sabia e me olhava, pronto para apontarem os dedos e dizerem que sabiam que Shuji estava preso, embora Minako tenha entrado com o pedido de transferência dele.

Além disso, ninguém sabia que eu estava grávida. Nem mesmo Maki e Aoi. Nós tínhamos planejado contar para nossos amigos em breve, mas eu não conseguia fazer aquilo sem Shuji ao meu lado. Era difícil demais.

Suri Shotoku, a aluna brilhante, está grávida de um presidiário.

Eu já conseguia ver Hitoshi espalhando a fofoca pelo colégio e todo mundo falando pelas minhas costas.

— Ei, tá na Terra? — Maki estalou os dedos na frente do meu rosto e eu pisquei algumas vezes.

— Ah, sim, desculpa — respondi, balançando a cabeça e focando no meu almoço.

— Ainda tá triste porque o Shuji se transferiu?

— É, é isso — menti. Pegando o sanduíche e dando uma mordida grande.

— Ah, eu vou sentir falta dele. Ele bem que podia ter esperado, né, a gente ia se formar junto — a fala de Ichiro fez um bolo enorme se formar na minha garganta.

Desviei o olhar e encarei a árvore do lado de fora do refeitório. A cerejeira estava seca e escura, e o frio começava a criar pequenas crostas de gelo na grama ao redor dela. Eu só conseguia me lembrar de todas as vezes em que eu e Shuji nos beijamos debaixo daquela árvore. Inclusive, fora ali nosso primeiro beijo público, onde assumimos que estávamos juntos, sob as flores de cerejeira.

Imediatamente, senti que o bebê não tinha gostado tanto assim do sanduíche. Por sorte, minha barriga não tinha mudado nada. Ainda levaria algumas várias semanas até começar a aparecer alguma coisa, mas os vômitos constantes me denunciavam. Bebezinho enjoado!

— Eu já venho — falei discretamente e me levantei sem esperar respostas.

Tentei caminhar da forma mais natural possível, sentindo o suor frio percorrer todo o meu corpo. Eu podia sentir o enjoo crescente subindo pela garganta, e sabia que eu não teria tempo de chegar até o banheiro, portanto, sem que ninguém notasse, abri a porta pequena que dava para a área externa e fui até o gramado, bem no cantinho, onde não dava para ver por janela nenhuma.

Vomitei até minha alma naquele canto, sentindo o alívio de me livrar do sanduíche.

— Você tem que começar a aceitar algumas coisas, meu amor. Desse jeito a mamãe desmaia — falei baixinho, passando a mão na minha barriga.

O calafrio ainda percorria meu corpo, principalmente por estar do lado de fora, recebendo todo o vento gelado em mim. Por mais que o uniforme segurasse o frio, ainda não era o suficiente.

— Vai pegar um resfriado — a voz de Ichiro soou logo atrás de mim. Me virei de imediato e senti minhas bochechas corarem.

— Ichiro?

Meu coração batia forte no peito. Seria possível que ele tivesse escutado o que eu tinha falado? Céus!

Ele me olhava com cautela. Por trás dos óculos, ele me analisava, como se buscasse alguma coisa fora dos conformes no meu rosto ou na minha aparência, mas era muito mais do que o normal. Ichiro coçou a cabeça, bagunçando os curtos fios loiros e suspirou.

— Você não devia ficar aqui fora. Vai ficar doente — ele falou. Soava quase como um robô, o que era estranho, já que ele costumava ser espontâneo.

Holy Sin, Shuji HanmaOnde histórias criam vida. Descubra agora