Holy Sin, Shuji Hanma

Morangos e cigarros

Suri

Suri significa "princesa". Shotoku significa "santo ensinamento" ou "benevolência sagrada". Suri Shotoku significa "princesa da benevolência e dos ensinamentos sagrados". Foi esse o nome que meus pais escolheram para mim, a primeira filha, pois era essa a personalidade que eles acreditavam que eu teria.

-Senhorita Shotoku? -A professora chamou minha atenção mais uma vez, me tirando de meus devaneios enquanto rabiscava meu próprio nome no caderno.

-Perdão, poderia repetir, por favor? -Pedi assim que me levantei e fiz uma reverência como desculpa.

-Poderia traduzir o terceiro parágrafo, por favor? -Ela falou enquanto o resto da turma me observava.

-Claro. -Peguei o livro em minhas mãos e li as palavras em inglês. Nunca tive dificuldades com outros idiomas, então iniciei uma leitura limpa e sem dificuldades. - "Quando acreditamos apaixonadamente em algo que ainda não existe, nós o criamos. O inexistente é o que não desejamos o suficiente."

-Perfeito como sempre. -Ela sorriu e indicou para que eu me sentasse.

As aulas de literatura naquele colégio eram muito mais puxadas que qualquer outra e sempre exigiam muito dos alunos, incluindo textos complexos em outros idiomas, mas eu gostava de tudo aquilo. Amava livros e interpretar as mil e uma formas diferentes de ler uma mesma frase.

Entretanto, aquele dia estava cansativo e entediante. A professora do dia me adorava, mas infelizmente a didática dela não conseguia me prender, e eu me sentia presa num limbo literário do qual não podia sair até o sinal bater. Felizmente, não demorou tanto para que isso acontecesse.

-Que chuvão! -Maki falou abrindo o guarda-chuvas enquanto caminhava para fora da escola. O cabelo na altura do queixo era perfeitamente cortado num Chanel de bico, dando uma aparência fofa à ela. -Quer ir comigo até metade do caminho?

-Não, minha mãe vem me buscar. Obrigada. -Sorri e acenei para ela enquanto partia, e continuei esperando na área coberta vendo os alunos irem embora.

O uniforme do colégio era um dos mais bonitos da cidade. O blazer azul escuro, a camisa branca, garotos com gravatas num tom cinza e as garotas com os laços de cetim bem feitos. As calças levavam a mesma cor do blazer, e as saias tinham uma estampa xadrez delicada com cinza e um tom de azul mais claro. Todas usavam meias brancas até os joelhos e os sapatos fechados.

Encarei minha própria aparência no espelho que ficava na entrada. Sempre fui a típica garota bonita e inteligente. A vida toda meu cabelo preto foi longo, com corte reto e franjinha na testa. Minha pele nunca foi tão clara e pálida como a das minhas amigas, mas minha mãe fazia questão de cuidar dela com todo carinho. Sempre a boa menina, a aluna brilhante e de boa família. Eu não odiava minha vida, gostava de tudo aquilo, mas de certa forma... tinha minhas curiosidades sobre como o mundo fora dessa bolha era.

-Suri, vem logo! -Minha mãe acenou abaixando o vidro do carro.

Coloquei a bolsa sobre a cabeça e atravessei o portão debaixo da chuva, entrando no carro com a roupa marcada pelos pingos que caíram diretamente sobre o tecido. Minha mãe subiu o vidro rapidamente e logo deu partida. Os para-brisas jogavam a água para os lados enquanto ela dirigia pela cidade.

-Como foi a aula hoje? -Ela perguntou sorridente.

-Foi legal. -Falei sem muito ânimo.

-Seu aniversário está chegando! Não está animada? -Minha mãe segurou no volante com empolgação, dando tapinhas com os dedos.

-Eu ainda não sei o que vou fazer. Tem um mês ainda. -Suspirei.

-Hoje é oito de Abril, tenta decidir até dia trinta, pode ser? Aí a gente consegue se planejar.