uma dedicatória: eu de sangue te encho

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A Ilha era uma paisagem sem consistência, uma porção de terra flutuando no nada, que revelou o pior dos seus habitantes. Com brutal violência, ela foi a única identidade na pele salgada, nos corpos bem vestidos. Este livro é um cofre estourado daquele tempo, na ordem que eu escolhi dar aos fatos. Os personagens principais já não podem falar pela própria voz e algumas confissões foram arrancadas à força. A ilha era uma reunião de destroços. Eu sou quem restaura os detritos, até a volta de uma forma capturável aos olhos de estranhos, que não conheceram o lugar. Este livro é sobre deixar de estar vivo e, mesmo assim, continuar respirando, também o jeito que encontrei de nomear minha relação com a morte, com o mundo ao redor e, por fim, voltar a humanizar os mortos, torná-los objeto de estudo e do meu amor; explicar o que foi feito daquela mulher, daquela criança e, sobretudo, daqueles garotos que perderam a vida inteira em uma ilha monstruosa de Nápoles, antes das doenças mentais incentivadas, da infância cheia de gritos e da masculinidade pautada em ritos de violência. Por Enzo, Andrei e Jim, incluindo os anteriores, os anônimos de famílias "sem sobrenome". Por toda a vida pacífica e humanidade aniquiladas. Estas páginas estão cheias de sangue, mas são também uma litania de redenção escrita e lida em nome das três almas perdidas. (CONTINI, Beatrice, 2018, p. 6).



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