meu colo: desonestidade

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Eu tenho medo de como a história termina.

A minha história e a de Salvatore.

Não sei qual dos dois vai estar vivo quando isso tiver fim, se haverá realmente um sobrevivente quando as coisas começarem a degringolar. É questão de tempo. Tudo agora é só questão de tempo, porque o primeiro passo foi concluído e não sei como reagiremos daqui em diante, a máfia e a polícia. Estou no epicentro de dois opostos, o núcleo de uma doença que contamina o país, dois lados dos quais me filio, me reconheço e faço parte da linha que os demarca.

Estou na zona de perigo. Para qualquer lado que eu corra, não importa, ainda estarei correndo riscos. Sou um traidor para máfia, desonrei meu voto de sangue, mas para polícia, apesar disso, não sou confiável o bastante, respeitável o suficiente para ser tratado como um igual. Sou um homicida, um corrupto, um criminoso habitual e, por este motivo, um inimigo. E na posição de bandido arrependido, para a equipe que investiga a Cosa Sacra, sei que não pertenço a lugar algum e talvez seja esse um indício de que no final estarei morto. Porque pessoas vão morrer no meio do caminho, é óbvio que sim. Estou criando um ambiente de guerra e sei que meus companheiros se tornarão sanguinários quando confrontados. Salvatore não vai desistir e talvez nada reste para o julgamento dos homens.

Não tenho medo de perder a vida, deixei de ter desde que sobrevivi a morte no inverno em que Namjoon foi embora e, depois disso, quando matei alguém pela primeira vez. Eu não acho que um assassino tenha o direito de temer algo com o qual se habitua a lidar, mas não gosto da ideia de morrer sem obter êxito, de morrer enquanto eu falho. Tenho medo do fracasso e continuo fracassando.

Aceitar que estou falhando vai fazer parte do processo, admitir que errei ao deixar Beatrice sozinha na esperança de que o policial infiltrado na festa pudesse protegê-la, por exemplo, ou confessar que alimentei suas fantasias erradas. Coisas que só eu sei o quanto começam a pesar em minhas costas.

Aquele menino que trazia orgulhoso um distintivo no peito, brincando de investigar crimes, não se importa tanto assim e nenhuma dessas pessoas vai entender de verdade o quanto essa coisa, essa merda de organização roubou de mim nos últimos anos, a ponto de me fazer acreditar que morrer é uma ideia aceitável desde que eu possa levá-los ao inferno junto comigo.

Mas há pessoas inocentes e elas serão afetadas durante os próximos meses, pessoas como Elena, pessoas como Beatrice, filhas de homens da máfia. Penso em nossos próprios soldados, nos policiais que serão levados no escuro a cada uma das futuras operações sem conhecer direito o inimigo a ser combatido.

Estou mesmo iniciando uma guerra e em estados de exceção como esse, baixas são inevitáveis, atrocidades são toleradas e pecados são facilmente perdoados.

Estou prestes a cometer um erro, mais um erro em uma noite como esta, em que um passo tão importante foi dado e mentalizo que estou apenas fazendo o possível para evitar um estrago maior com o fim de justificá-lo. Porque ainda estou remoendo a mensagem malcriada do investigador coreano e ela ecoa em minha cabeça quando dou voltas e voltas em meu próprio apartamento pensando no que devo fazer em seguida, mas já é tarde demais.

Não tenho interesse, não tanto quanto você está interessado em manter suas mãos nela.

Ela não é relevante no momento.

Então só espere por contato e pense muito bem nas palavras que usa comigo, não sou seu amigo.

Abaixo disso, tenho a conversa não respondida de Beatrice pedindo por ajuda e sei que não posso me isentar de culpa pelo resultado da festa, mas aquele garoto - porque para mim um policial naquele lugar, assumindo aquela postura não passa de um moleque - esteve lá o tempo inteiro, nos observando de algum canto da boate esperando o momento exato para agir, para observar enquanto Elena era levada e a garota que estava em minha companhia ia ao encontro dela.

Mi FrantumiOnde histórias criam vida. Descubra agora