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(ATENÇÃO: Este capítulo contém uma cena de violência explícita)
O patriarca da família, acamado e trancafiado no quarto mais confortável do casarão, não teve forças para ver de perto as etapas do ritual de iniciação dos garotos de Nápoles, miei bambini*, como costumava dizer.
No estágio mais avançado da doença, para a qual as notas eternamente frias, do dinheiro que por anos esquentou, não compraram a cura, sua neta foi a única a chorar por antecipação aqueles meses de enfermidade que lhe custariam a vida. A morte, pela primeira vez, entrava pela porta, pendurando-se como obra de arte nas paredes rochosas e o celeste do mar, no revérbero das estrelas, não foi capaz de expulsá-la como inquilina indesejada. A morte não pediria licença aos Salvatore, nem iria embora depois de se apossar do corpo magro e terrivelmente inchado de Jimitri, teria uma estadia não paga por mais alguns anos antes de dizer adeus e, ainda assim, deixando claro que voltaria de tempos em tempos para assombrar a vida daquelas pessoas: dos moradores aos mesmo os hóspedes transitórios.
O velho Salvatore não estava lá para observar orgulhoso o primeiro escolhido, seu favorito: Enzo Scano. Dentre os três, a pequena equipe que se formava com o crivo do homem quase morto, mas sob os olhos julgadores de Matteo, seu herdeiro, não possuía outro integrante apto o suficiente para ocupar a temida posição de carrasco. Não era algo que covardes fariam, matar exigia esforço, preparo físico, emocional e, sobretudo, um dom natural para se esquivar da consciência no meio daquele caminho. Qualquer ser humano é capaz de tirar uma vida se levado a situações extremas, o instinto homicida se manifesta por uma série de fatores, suscetíveis até o mais pacifico dos homens, mas a morte organizada, estruturada, a morte quase como profissão, exige mais do que impulso, é o oposto, a imperturbável calma para lidar com o que será feito e quando estiver feito, não permitindo que aquilo delimite ou defina o resto de sua vida.
Ninguém é um ser racional ao tomar a existência de outra pessoa, é um fato. No entanto, o que acontece depois, e a forma como o ato de matar é encarado, dita a aptidão para voltar a repeti-lo sem deixar rastros e, principalmente, sem deixar cicatrizes feias na mente do homicida. Se as marcas forem profundas, você será pego, se forem desagradáveis aos olhos, todos a sua volta notarão ao olhar mais de perto e, então, você não será mais você, mas apenas um complexo de feridas provocadas pelas mortes as quais deu causa.
"Apenas faça e no final, não importa, ainda poderá ser outra pessoa". Foi o que gritou Francesco Barbieri a cada um dos garotos, ao entregar-lhes facas afiadas de cabo curto e corte aguçado.
* Três cachorros de pelo escuro e idade adulta foram predispostos, amarrados a coleiras apertadas e reprimidos por correntes, envoltas na mão protegida de um dos seguranças, o maior de todos. Ao ver a extensão da proteção de couro pelo braço do homem gigantesco, Jimin entendeu quem eram aquelas pessoas cercando o casarão durante todas as horas do dia, entendeu do que se tratavam as festas, que sempre contemplavam reuniões fechadas no escritório do velho Jimitri, entendeu o porquê de tanto dinheiro e de tanto sigilo.
Matar, roubar, ocultar e dissimular não deveria definir o que seriam no segundo imediato após o fim do ato. A vida ainda seria a mesma, quando se encarassem no espelho ou se deitassem todas as noites, o que foi feito estaria soterrado em algum canto do subconsciente, de onde nada sobreviria para assombrá-los.
Nunca houve segurança, só a violência disfarçada de proteção e ele temeu por sua vida, temeu pela vida de Andrei, pálido como um papel parado ao seu lado, com os joelhos bambos fingindo não se importar com a faca amolada em seus dedos desajeitados.
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Mi Frantumi
Romance"Enquanto as mãos dele permaneciam sujas do mesmo dinheiro que me enriquecia, eu só rogava aos céus para que continuassem a me tomar como propriedade e me estilhaçar em ínfimas partículas de amor e dor. Eu o amei e não me arrependo." [...] Garoto en...