irmão mais velho

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Cesar balançava pra frente e pra traz enquanto se envolvia em um abraço, os dentes batiam, Chris passava a mão nas suas costas tentando acalmar o filho, sabia que o menino não queria realmente fazer mal a ninguém mas quando se tratava de Alex ele mudava de postura completamente.
Alex subiu as escadas cantarolando a abertura de Power Rangers, olhou o mar de quartos e teve que ir verificando para encontrar o pai e o irmão.
A cabeça do mais novo apareceu pela porta timidamente, olhos castanhos se encontraram com o preto dos olhos do pai e do irmão, entrou meio desengonçado no quarto indo em direção a cama mais não conseguiu chegar nela.
Assim que o irmãozinho entrou no quarto Cesar pulou da cama e correu na sua direção o abraçando o mais forte que podia sendo correspondido logo em seguida, Chris olhou pro dois rapazes e sorriu indo em direção a eles e envolvendo ambos naquele abraço.
- Father, i need to talk to my brother alone.
Chris concordou e saiu do quarto deixando os dois rapazes sozinhos e abraçados.
- Cesar você tá bem?
- Não....eu machuquei você...
- Eu aguento tomar porrada Cesar, o Daniel não.
- Foda-se o Daniel, eu tô falando de você.
Alex suspirou fundo, o irmão não queria muito papo pelo visto, separou o abraço e foi andando até a cama sendo seguido por Cesar ainda meio tremendo e se deitando nela, fez uma caretinha de dor quando as costas encostaram no colchão, a mão estava enfaixada, o cabeludo olhava cada machucado, cada pequeno detalhe lhe trazia uma dor terrível.
Alex era muito maior, não tinha nem comparação, ambos já tinham aceitado aquele fato a alguns anos, mais ali na cama ele parecia tão pequeno no abraço do irmão, era nesses momentos que Cesar se sentia um gigante.
O cigarro barato do Thiago, o perfume também do Thiago, o amaciante de roupas azul que ele sempre gostava de usar, o hálito de maçã verde e cheiro de condicionador de côco, cheiro de Cesar, cheiro de segurança, cheiro de família, cheiro de amor.
Cada beijinho na testa e nas bochechas parecia ser uma injeção sonífera para o mais novo, estava difícil manter os olhos abertos, ouvia Cesar murmurar uma música, não sabia se era pra si mesmo ou para o irmãozinho mas as palavras baixinhas que se espalhavam pelo quarto o fazia ter certeza de que ele já tinha cantando aquela música antes.
- You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are grey
You'll never know, dear, how much I love you
Please, don't take my sunshine away.
Cada palavra cai no ouvido de Alex mais pesada que a outra, sentia um carinho na sua orelha, se sentia tão seguro ali, tinha perdido sangue então estava fraco, a música cada vez mais longe, os olhos fechando....
Deve ter cantado por pelo menos mais dois minutos antes de perceber que Alex tinha dormido em seus braços, a cabeça doía bastante teria que enfrentar todos os olhares e perguntas quando fosse ver o pessoal, mas no momento apenas encarava o mais novo e desejava do fundo do coração que ele tivesse os sonhos mas lindos e doces do mundo, sempre se assustava quando via o quão lindo e inteligente o irmão tinha se tornado, muito distante do garotinho que conheceu a 14 anos atrás.

💜☣️🍎🐍flashback - visão do Cesar 💜☣️🍎🐍

A morte da mãe deixou um buraco no seu coração, ficou com ela até o último minuto no hospital, tudo branco, pálido, sem vida e muito frio, frio de mais, tudo era frio, o ar condicionado do quarto do hospital, o clima naquele dia, a mão da mãe quando segurou a última vez, não gostava de frio.
Os gritos de desespero de seu pai por um médico ainda o assombravam, o velório e o enterro pareciam um grande borrão na sua memória, não lembrava de muita coisa, só de estar frio no dia que colocaram terra sobre o caixão da sua mãe, não gostava de frio.
Ficou com os Fritz por um ano inteiro, adorava Thiago, seu parceiro de crime, sempre o protegia, era seu melhor amigo e também seu amante, gostava da adrenalina de se esconder para poderem se pegar, antes não tinha tanto problema eram jovens, mais agora Thiago já era maior de idade, enquanto ele aí fazer  15 anos, então deu uma grande diminuída nas brincadeiras, prometendo voltar com tudo assim que ele completasse 18.
Quando viu o pai no aeroporto seu coração se encheu de felicidade, mais estava óbvio que tinha algo errado, a grande queimadura no olho e a aparecia cansada denunciavam o que tinha acontecido, não era necessário ligar os pontos, se a queimadura não estivesse ali, talvez Cesar não tivesse mais pai.
As coisas estavam relativamente bem, vez ou outra Chris sumia, mais sempre voltava, ficava puto, mas entendia, porém a solidão era amarga e fria, não gostava de frio, queria um sol só para si, assim não passaria mais frio.
- Não!
- Filho....
- Eu não aceito isso pai!
- Sempre foi um dos sonhos da sua mãe Cesar.
Cesar encolheu na cadeira, esse realmente sempre foi um assusto recorrente, mas nunca tinham ido com ele até o fim.
- Nós vamos ajudar uma criança a ter uma vida melhor filho, adotar sempre foi um desejo da sua mãe e meu também.
- Mais a mamãe não tá aqui agora papaizinho
Chris pareceu terrivelmente triste ouvindo aquilo.
- Cesar, se algo acontecer comigo, eu quero que você tenha alguém pra continuar chamando de família, os Fritz sempre vão estar aqui por você os Verissimos vão te apoiar sem dúvidas também, mas eu quero que você tenha uma família pra conseguir voltar pra casa.
Engolindo a saliva o garoto entendeu perfeitamente o que o pai queria dizer, mais ainda tinha um pouco de birra, gostava de ser filho único, mas agora tinha medo de ficar sozinho no mundo, respirou fundo e olhou para o pai com cara de cachorro perdido.
- A gente vai adotar um menino ou uma menina?
Durante aqueles meses foi uma correria pra arrumar papelada e os caralhos, foram em psicólogos, Chris teve que ir atrás de um documentos nós Estados Unidos, foi com toda certeza uma das experiências mais estressantes da sua juventude, e tudo isso em vão, tinham sido negados para entrar na fila de adoção, Cesar conseguia ver a tristeza do pai, enquanto ele lia a notificação, mas conforme ele lia os olhos de ambos se encontravam em uma esperança bastante confusa.
- "Embora sua família tenha sido rejeitada para uma adoção, reconhecemos que o Senhor Christopher Cohen atende os requisitos para dar lar temporário ou apadrinhamento para crianças mais velhas, caso o coração de vocês estejam abertos para receber uma criança nessas condições favor enviar novamente os documentos necessários marcando a opção de "lar temporário" desde já agradecemos por seu interesse em fazer a vida de uma criança mais feliz"
- O que isso quer dizer Cesar "Lar temporário"???
- "temporary home", "host family" isso quer dizer que a criança ainda teria contato com os pais biológicos.
- Isso ser ruim?
- Não, mais pode confundir a criança, mas eae, o senhor quer tentar?
Novamente o estresse se abateu no adolescente por causa de documentos, porém dessa vez, a resposta veio positiva, não apenas isso como também veio com uma data para conhecer as crianças que poderiam vir a morar com os Cohen.
Chris foi reclamando da roupa de Cesar a viagem toda, tudo bem que ele exagerou, mas essa criança iria viver com ele, tinha que se acostumar com sua aparência.
Tinham outras famílias lá também, cerca de umas 14, 15 com os Cohen, uma assistente social esperava e observava os possíveis padrinhos e madrinhas entrando no abrigo, Cesar ficou muito triste, tinham muitas crianças e adolescentes ali, no mínimo 100 e pensar que dessas 100 nem a metade teria um bom lar pra ir, e o restante voltaria pro sistema e talvez nunca conheceria o amor de uma família era uma das poucas coisas que já sentiu o afetar emocionalmente.
- Família Cohen?
A mulher loira de meia idade e um pouco gordinha vinha sorrindo, parou olhou seu pai dos pés a cabeça e olhou pra Cesar dos pés a cabeça sorrindo.
- O senhor deve ser o Senhor Christopher Cohen correto? Essa é sua filha?
- Na verdade....
- Na verdade eu sou um menino.
Cesar abaixou o capuz, o rosto fino e o cabelo cumprido e por parecer muito mais jovem o faziam parecer uma garota, o delineador perfeitamente aplicado, as unhas pintadas e o corpo magro também não colaboravam, a imagem perfeita de um Emo do começo dos anos 2000.
- A...ok, bem senhor Cohen eu vou fazer umas perguntas, enquanto isso se o seu filho quiser ele pode conversar com as outras crianças, ou aguardar nas cadeiras aqui.
O pai entrou numa salinha o deixando sozinho, olhando em volta viu algumas crianças mais novas brincando do lado de um parquinho, não tinha nada pra fazer, saiu para observar, não estava afim de falar com ninguém.
Definitivamente não queria uma criança pequena já bastava suas primas de segunda grau nos Estados Unidos e os primos de Thiago as duas ruivas teimosas, nos cinco minutos que viu aquelas crianças eles fizeram uma zona tão grande que lhe deu agonia, implorava para que o pai fosse selecionado para abrigar uma criança de no máximo 12 anos, seria mais fácil se relacionar com alguém mais próximo da sua idade.
- O Senhor tem preferência por sexo?
- Gênero? A senhora diz gênero?
- Isso....
- Conversei bastante com meu Cesar, ele queria uma irmã, mas não estamos muito ligados a isso, só queremos dar um lar a uma criança.
- Eu vi que o senhor ficou viúvo a pouco tempo...dois anos se não me engano?
- Isso, minha esposa era brasileira, o sonho dela era adotar uma criança.
- Sinto muito que ela não tenha visto o sonho se realizar, eu acho que podemos ver as fichas das crianças adequadas para seu caso é.....
Olhando pela janela a assistente social parecia incrédula com algo que via através do vidro.
No meio daquele mar de crianças correndo e gritando Cesar se sentia numa feira, muito barulho e animação de mais pro seu gosto, estava quase voltando pra dentro pra sentar no banquinho e esperar o pai quando algo, ou melhor, alguém chamou sua atenção.
Um garotinho negro com o tom de pele bastante bonito, lembrando bastante chocolate amargo bem escuro juntava as folhas de uma árvore e as separava em algum tipo de ordem que só deveria fazer sentido na cabecinha dele, e falando em cabeça era impossível não notar a cicatriz tão horrível quanto a do pai na têmpora.
Não sabe quantos minutos olhou aquele garotinho até que ele percebeu sua presença olhando pra trás e apertando muito os olhos como se não conseguisse enxergar mais de um palmo a sua frente.
- Oi.
A voz dele era fofinha, ele era muito, muito magro, provavelmente não tinha recebido alimentação correta durante seus primeiros anos de vida, os bracinhos tinham terríveis marcas e machucados, Cesar não conseguia imaginar pelo que aquele garotinho tão pequeno já tinha vivido.
- Oi garotinho, o que está fazendo?
- Guardando folhas.
Estava de cócoras encarava o menino curioso agora.
- Guardado folhas?
- Quando o sol bate nas folhas elas mudam de cor, eu quero ver o que acontece com cada uma.
Ok isso era um pensamento muito estranho vindo de uma criança pequena.
- Qual seu nome?
Cesar piscou algumas vezes olhando o garotinho se aproximar cautelosamente, agora assim de perto podia ver algumas cicatrizes e queimaduras em suas perninhas também, sentiu o estômago embrulhado, quem poderia fazer isso com uma criança.
- Eu sou o Cabeludo.
O menininho pareceu analisar a frase como se fosse um enigma, ainda apertava os olhos, definitivamente ele devia ter algum problema nas vistas.
- Seu nome não pode ser cabeludo
- Pode sim! Como que é seu nome então?
- Alexander
- Minha nossa que nome difícil!!!!! Não dá nem pra falar.
A risadinha dele era uma gracinha, uma preciosidade fazia tempo que não apreciava tanto um som assim.
O menino estava cara a cara com ele, as mãozinhas foram direto no seu cabelo, analisava tão fascinado que por um momento Cesar esqueceu até onde estava, estava totalmente perdido de amor naquele garoto que conhecia a menos de 5 minutos, não entendia o porquê, só queria pegar o menino e fugir dali.
Colocando sua mãos por baixo do braço da criança era fácil ergue-la, sabia muito bem usar a força que herdou do pai, nunca tinha pego uma criança daquele tamanho no colo, mais assim que as perninhas dele se encaixaram na sua cintura pareceu que tudo no mundo fazia finalmente algum sentido.
- Alexander???
A assistente social olha espantada pela janela, observava Cesar colocar Alexander no colo enquanto ele ria de alguma coisa.
- Meu filho fez algo errado?
- Não senhor, é só que o menino que ele tá no colo tem medo de todo mundo, não deixa ninguém chega perto.
Chris olhou pela janela e achou os dois juntos uma graça e Cesar parecia feliz.
- Eu quero levar esse menino, olha pra eles, olha como estão sorrindo.
A moça olhou triste pra Christopher e imediatamente pegou alguns papéis entregando pro americano.
As palavras no papel fizeram o estômago de Chris revirar, se sentia quebrado aos poucos a cada palavra que lia e se enfurecida todas as vezes que a palavra "abuso" se repetia, vezes de mais pro seu gosto.
- Senhor Christopher, com todo respeito, o Alexander e uma das crianças mais problemáticas que temos, seria muita irresponsabilidade da minha parte deixar não só o senhor, mais qualquer outra família tutorar ele.
- Então vai deixar ele ficar aqui sem conhecer uma família de verdade por ele ser difícil? Nós podemos ser a única chance desse menino.
A mulher olhou novamente pela janela mas as duas crianças não estavam mais lá, sabia que as chances de Alexander ser adotado eram basicamente nulas, e achar uma família para tutelar seu desenvolvimento também seria difícil, mas aquele homem realmente parecia determinado a dar um bom lar para o menino, seu trabalho era tentar melhorar a vida daquelas crianças pelo menos um pouco, e Alexander estava tendo finalmente essa chance, suspirando e pegando os papéis entregando para Christopher assinar, faria um teste e se tudo desse certo talvez aquele menino tão inocente finalmente pudesse ter um pouco de amor e felicidade.
Christopher é a atendente saíram da salinha e ficaram chocados com a cena, nós banquinhos de espera que ela havia indicado para Cesar esperar estavam sendo ocupados por ele, porém tinha outro ocupante no seu colo.
Parecia um bebê coala, estava grudado nele e em particular Cesar estava adorando isso, a pele dele era tão macia e ele era tão levinho, iria falar com o pai se era possível levar o garotinho pra casa já naquele instante.
Assim que Alexander viu a mulher loira ele grudou mais ainda no adolescente, olhos dilatados e uma expressão de completo pânico, atitude não passou despercebida por pai e filho.
- Tá tudo bem garotinho?
Alexander escondeu o rosto na curva do pescoço do cabeludo apertado o mais forte que conseguia, estava com medo de ser tirado do colo mais acolhedor que já esteve na sua pequena vida.
A mulher suspirou triste, mas o jeito que ele estava grudado no garoto emo lhe dava esperanças de que sua decisão tivesse sido certa.
Cesar instintivamente balançou a perna fazendo o garotinho encarar o grande homem a sua frente, ele era assustador, mas não um assustador ruim, via a cicatriz no seu rosto e derepente na sua cabecinha infantil pensou que ele fosse personagem de alguma série de TV ficando totalmente fascinado.
- Uau, um gigante.
Cesar tapou a boca para não cair na gargalhada, Chris deixou uma risadinha escapar pelo nariz e a assistente social também deu uma risadinha.
A mulher se aproximou cautelosamente do menino para que ele não ficasse mais ainda na defensiva.
- Alexander, esse são os Cohen, eles estão procurando uma criança especial para completar a família deles, e parece que eles querem descobrir se você pode ser essa criança, você aceita tentar?
Alexander olhou pro gigante sorridente a sua frente e também se virou pro adolescente estranho porém legal que o segurava no colo, sua cabecinha rodava mil ideias, e vários pensamentos inundaram sua imaginação, balançando a cabeça timidamente em afirmação os Cohen tinham acabado de entrar na fase de teste.
Foram 6 meses, os piores meses da sua vida, só podiam ver Alex três vezes por semana e eram monitorados a todo instante, algo que deixava Cesar puto, queria poder brincar direito com o menino mas parecia que as assistentes sociais queriam a todo custo fazer da sua vida um inferno.
O 6 meses de teste foram horríveis para todos, agora vinha a fase de adaptação, Alex poderia dormir na casa dos Cohen aos finais de semana, é uma das primeiras coisas que ambos notaram era que Alex fazia xixi na cama, não era muita coisa, afinal ele tinha só 7 anos, outra coisa bastante presente era que seus desenhos nunca tinham uma forma definida, ele sempre entrava em alerta quando estava sozinho em algum lugar e estava constantemente assustado, tinha algo de muito errado ali, algo bom entretanto tinha acontecido, tanto Chris quanto Cesar estavam cismados com a visão do menino, então na primeira oportunidade que tiveram levaram ele no oftalmologista, e sem nenhuma surpresa o garoto era basicamente cego, tinha astigmatismo, hipermetropia e miopia, ficavam se perguntando como ninguém tinha notado a dificuldade do menino antes, o óculos que fizeram era tão grosso que chegava a ser ridículo, embora ele ficasse uma gracinha com ele.
A mãozinha era tão pequenininha perto da do pai que era ridículo! Cesar ria sozinho vendo a diferença de tamanho entre eles e no dia mãos seriam muito importantes para o seu garotinho, iria finalmente conhecer Thiago.
Estava novamente em estado de alerta olhava para todos os lados assustado, conversar com novas pessoas não era seu forte.
Casar ensinou alguns sinais pra ele durante alguns finais de semana, e ele aprendia numa velocidade surpreendente.
Os Fritz apareceram e automaticamente Alex grudou em Chris como se sua vida dependesse disso, Thiago sinalizou um "Oi" sorrindo lindamente, que foi respondido timidamente com um sinal também de "Oi"  uma carinha vermelha e olhos vermelhos que procuravam uma aprovação, Thiago sorriu mais.

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