Cravo e Rosa

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Os campos de Cravo e Rosa estendem o tom rosado e o amarelado das flores pela região Sudeste, na área central do continente. Ali ficam localizados os vilarejos mais pacíficos do país, banhados pelo Rio Ambrósia. A região tem uma vegetação bem específica, além dos longos campos de flores, as colinas são forradas por árvores jimbo, uma espécie que está sempre florescida e sua rama muda de cor conforme a estação e seu tronco tem um formato que se assemelha à barriga de uma gestante. Dizem que as pessoas da região são tão pacíficas por conta das paisagens deslumbrantes, que lhes purificam o espírito.

Cravo e Rosa é uma pequena cidade conhecida pela arte e artesanato, suas ruas são adornadas de enfeites coloridos e as construções são pintadas de cores diversas. Na cidade parece que sempre acontecerá um festival e, na verdade, há com muita frequência. Durante todo o ano é celebrada a vida com muita música, bebidas e alegria, viver ali é quase como se esquecer do mundo hostil e mórbido que tem aflorado nos últimos tempos.

A cidade recebe pessoas de todo o país, turistas que procuram paz, descanso ou refúgio de um mundo tomado pela morte, ganância e guerra. Cravo e Rosa é cercada de morros e fazendas com seus vastos campos de flores, a cidade não tem um único rei, mas vários barões que asseguram a paz e provisões para a região.

Numa fazenda próxima ao Rio Ambrósia, Ravih está sentado à mesa, esperando sua mãe servir sua refeição da manhã. Da mesa, ele ergue a cabeça e estica o pescoço, vagando o olhar pela janela, procurando seus amigos no quintal lateral. Hoje eles tinham combinado de roubar uma galinha e hortaliças do velho Gimba, para assar às margens do rio Ambrósia. Existia um tempero muito especial no item roubado, o sabor da adrenalina deixaria a carne bem mais saborosa, e esse sabor só iria melhorando, conforme eles recontassem essa história. Roubando do velho Gimba então, esse assado, mesmo preparado por crianças, teria potencial para ser uma refeição a ser lembrada por toda a vida.

À mesa, Tania serve um pedaço de queijo, uma especiaria feita de mandioca e um ovo de ema frito, acompanhado por um copo de leite acrescentado de uma erva comum para mistura, ela parecia ter adivinhado que o filho sairia para uma aventura e preparou uma refeição reforçada.

— Ravih, coma tudo. Hoje vou à cidade e não retornarei a tempo pra segunda refeição — disse a simples camponesa.

Ravih já ia retornar os olhos ao prato à sua frente quando Hanna aparece no seu campo de visão, então ele acelerou a mastigação para se ver logo livre para sair com os amigos.

Lá fora, Hanna se sentou em uma carroça desarmada embaixo de uma árvore. Hanna, Mako e Celsius já se reúnem ali, conversando e gesticulando com as mãos. Celsius parecia estar contando uma história bem engraçada.

Ravih despediu-se de sua mãe e caminhou em direção ao trio, prendendo um canivete à sua cintura, com um sorriso malandro de uma criança que planeja aprontar.

— Ei bichado, por que demorou tanto? — disse Celsius, saltando da carroça, demonstrando sua impaciência, sendo seguido pelos outros dois.

O quarteto caminhou por uma estrada de terra pavimentada pela passagem constante de carroças e pedestres. Ravih perguntou se Mako trouxe tudo, apontando com o queixo para a capanga presa em seus ombros, ele assentiu com a cabeça e respondeu:

— Eu trouxe fósforo, temperos e uma garrafa de suco de uva envelhecido.

— Vamos lá! — gritou Celsius, dando dois pulinhos à frente como se ele se preparasse para uma largada, disparando em direção à porteira de madeira que limitava as propriedades da família de Ravih. Sem retirar a amarra na lateral da porteira, Celsius dá um pulo, saltando a madeira mais alta e caindo do outro lado, enquanto Hanna e Ravih também correm, pegando impulso para alcançar a ripa horizontal mais alta. Mako franze os lábios como quem questionava a astúcia dos amigos.

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora