Entre Letras e Cartas

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O som de latarias tirava a concentração de Ravih, que transpirava molhando os revestimentos internos da pesada armadura que vestia. O barulho era superado apenas pela sua respiração que ecoava dentro do capacete. Ele tentava levar a atenção para ouvir os comandos que Berik berrava, andando em volta dele, mas o elmo o incomodava. Ergueu uma das mãos pedindo pra que suspendesse o treino, e apoiou as duas mãos aos joelhos, dobrando sua postura no limite permitido pelas placas de metais. Puxou o ar de forma que inchou o tronco, finalmente oxigenando o cérebro.

— Quer desistir garoto? — disse Berik, empurrando o aluno com um chute que o levou ao chão. Ravih se enfureceu, levantou-se retirando o elmo. Seu rosto estava lavado e os fios de seus cabelos escuros estavam grudados na testa suja de suor e areia.

— Vou treinar sem capacete! — disse jogando o elmo para a direita.

— As espadas estão afiadas, vai se ferir, não vou pegar leve com você.

— Se eu não sobreviver aos treinos, não sobreviverei a combate nenhum. Além do mais... — pensou em dizer sobre as coisas estranhas que o cercava, mas lembrou que Dário recomendou não se expor.

— Além do mais o que? — perguntou Berik.

— Além do mais, eu sou um guerreiro ágil, essas armaduras me limitam, tenho que usar algo mais leve, é um desperdício de energia.

— Elas valem a pena se elas manterem sua cabeça no seu pescoço — disse o treinador, indo até uma estante de armamento, revirando algumas peças — toma, use essa cota de malha, não oferece a mesma proteção do elmo, mas pode evitar algum dano.

Ravih pegou a peça que trincou como um saco de moedas ao bater nos seus pés, sacudiu a poeira e pôs cobrindo a cabeça e parte do torso.

— Vamos do básico — disse o Treinador — Apoie seu pé traseiro e incline levemente sua coluna para criar uma base sólida. Veja o peito de seu inimigo como uma estrela, e trace os golpes de uma ponta a outra, em ordens variantes. Tente surpreender os inimigos. Vamos lá? Um, dois e três...

Ambos mantinham um ritmo leve, como uma dança ensaiada, e Ravih performava os movimentos com facilidade, sua mente jovem facilitava a absorção de informações.

— Agora tente um corte alto, corte de colisão e depois o corte da fúria. Pronto? — ainda em ritmo ensaiado Ravih os fez. Passando a espada num corte acima do ombro, depois horizontalmente e finalizando com uma enfincada com a ponta da espada. Todos os ataques defendidos facilmente por Berik.

— Vejamos sua defesa agora. Defenda meus ataques, lembre-se, faça força contra o impacto da espada ou você vai quebrar sua postura. E não mova a ponta da espada, mova toda a lâmina, defenda com o corpo da lâmina para conter a força do inimigo — Berik avançou em três ataques, todos defendidos com o trincar das lâminas.

— Muito bem! treinaremos essas técnicas por um tempo.

Depois de um tempo, Ravih estava contente com seu treinamento. Não demonstrava em palavras, mas os dentes à amostra mensuravam a satisfação.

Era só mais um dia comum, antes do amanhecer. Ravih como já de costume, levantou bem cedo. Andava sonolento de um lado para o outro, seu corpo pedia um pouco mais de descanso, mas sua mente mantinha o foco de sua obrigação.

Como lição de disciplina, Berik determinou para que ele acordasse diariamente, antes do amanhecer, e zelasse dos estábulos. Ravih, trocava a água, ajuntava as ervas para os camelos e limpava as celas, as vezes antes mesmo do amanhecer, havia começado a ter dificuldades para dormir, principalmente quando pensava sobre os rumos de sua vida.

— Eu preferia estar roubando frutas, ou vendo as moças banhar-se nos rios — dizia a si mesmo, quando cansado das obrigações.

Andou até uma cerca e pegou uma cela que secava pendurada, jogou em suas costas e retornava aos estábulos quando ouviu o som de um galope se aproximar nas sombras. Ainda estava escuro, mas a luz prateada da lua borrava nas areias três soldados que vinha em sua direção. Esses vinham quase pendurados nos camelos. Ravih sabia que eram os Capitães de Areia, o grupo prestigiado que vaga pelo deserto em busca das riquezas enterradas.

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora