O Rei sem Coração

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O tecido do dossel balançava lentamente com a pouca ventilação que entrava na suíte real do castelo de Rosário de pedra. A formosa cama real era iluminada pela a luz amarelada do início da manhã e refletia no encerado piso, pegadas de uma bota que marcava todo o redor da cama. Entre os lençóis de seda, o Rei em definhamento Anthony Woul, ainda relutava em deixar a vida. Uma chaga corroía seu corpo e vermes começaram a aparecer.

O julgo popular do reino, acreditava que o rei foi tão ruim, que daria trabalho a morrer e que apodreceria vivo como recompensa de suas ações. Na luz amarelada do quarto, o dossel formoso amarrados a cada canto das bases de ouro, era branco e caía em cascata como um véu de noiva, mas todo esse deleite aos olhos, era contrastado com a miséria do Rei acamado.

A pele enrugada parecia desenhar sua caveira, a chaga de seu corpo manchava o lençol com um amarelo doente, enquanto o quarto já emitia um odor. O fim da vida fez do Rei uma ralé, e ele parecia querer morrer logo, pois era única certeza perante a condição que estava. E como todo monarca do reino, o rei tinha em mãos o Rosário de pedras raras, as quais ele passava entre os dedos ao fim de cada oração.

A única pessoa que podia entrar na suíte, já tinha marcado o chão com passos de preocupação. O Recém coroado, Rei de Rosário de pedras. Ramaan não poupava seu pai nem no leito de morte das ações de seu irmão.

— Kranavan está destruindo nosso reino, meu pai. Ele enlouqueceu! Juntou forças com os magos, desrespeitando nossas regras — disse o Arqueiro Real lançando um olhar vago para o pai.

— E-eu mereço... — disse o acamado com um sussurro.

Anthony sabia do preço que estava pagando em vida, ver o seu reino cair pelas mãos do próprio filho, doía mais que a chaga, a qual sentia os vermes roerem.

— E ele está vindo meu pai. Estou preparando a defesa, vou prendê-lo.

— M-ma-mate-o — pediu o Rei com os olhos lavados de lágrimas, amargando ser esse, seu último pedido — mate-o!

Não muito distante do castelo Woul, o Príncipe sem coração passava as últimas coordenadas para os guerreiros que juraram lealdade ao herdeiro por direito à coroa. Uma loucura o havia dominado, e morte é o que ele oferecia aos que não juraram lealdade. Kranavan era imponente, um homem grande, forte e carregava consigo o título de conquistador pelas façanhas em missões de seu país.

O Príncipe sem coração segurava o elmo apoiado no braço equilibrando-o na costela, este que chamava a atenção pelas três coroas soldadas grosseiramente, que simbolizava a reconquista de seu reino.

— Vocês vão. Saqueiem todas as pedras que os magos pediram, e levem os minerais para o local acertado ao amanhecer de dois sóis.

Ordenou Kranavan para um grupo. Ele sabia de todas as proteções do castelo, sabia que não poderiam vencer por combate, então articulou com o mago, um assalto avassalador. O êxito para a retomada, estava posto sobre o poder da magia. Assim, ordenou que um grupo minerasse e saqueasse o máximo de pedras de conjuração possíveis, e retornassem ao amanhecer para o acabamento do povo que recusaram o Rei sem coração.

Após a partida do grupo saqueador, Kranavan foi até a tenda onde alguns magos repousavam. Assim que cruzou a cortina pendurada que substituía a porta, todos os jovens envelhecidos saíram, deixando o general com seu amigo necromante.

— Sente-se general — falou o mago se colocando de pé, segurando o tufo de cabelo grisalho que perdera no último feitiço.

— Kranvan, você viu quando meu cabelo caiu? — disse, segurando os fios estendidos no campo de visão do Príncipe.

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora