Encontros na Estrada do Grão

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Os cavalos dos que fugiam de Cravo e Rosa golpeavam o chão num galope apressado deixando a cidade para trás. Seguiam a rota do grão, para o sentido Nordeste para o lado Leste das terras conhecidas, região de menos domínio dos elos, região onde a magia ainda é popular. Com a pressa que saíram não tiveram tempo para se preparar além de vestirem uma armadura e pendurar água e comida em suas celas. Dário e Ravih Haviam acreditado que os elos ainda levariam dias para chegar, mas foram levianamente enganados pela falsa carta que haviam recebido.

No fim de tarde daquele dia a estrada estava deserta, o tempo anunciava chuva e pouco se via se não as árvores altas escurecendo ainda mais o caminho com suas copas.

— Fugir? Irei fugir? — pensava Ravih no galope de seu cavalo. Desde que tomou a decisão impulsionada pela gravidade da situação e deixou tudo e todos para trás, estava afogado em pensamentos e questionamentos impresumíveis. Preocupou-se com a possibilidade de falhar em sua missão, ou de não estar a expectativa que lhe foi posta e ainda sentia culpa por deixar a cidade à sorte.

Sentia que havia rompido uma barreira em sua aventura em Sanud, mas ali estava de volta com seus medos dúvidas e sem saber o que fazer. Deixando-se levar pelas decisões que o cerca. Esse ciclo de pensamentos o afligiu, transformando as injurias em reações físicas.

O jovem foi tomado por uma ansiedade e começou a sentir-se acelerado, tomado por um tremor com um aperto no peito, todos os pensamentos fizeram-se tão grande em sua mente que o faltou oxigenação. Por um segundo pareceu não estar mais em cima do cavalo e essa apreensão o levou ao chão como uma carga mal amarrada que se solta da cela e rola na poeira da estrada. A queda o deixou no chão por um momento não por dor, para se recompor.

Logo à frente, Dário puxou as rédeas e cavalgou até o garoto.

— Ravih, está tudo bem? — disse desmontando da montaria, tocando no ombro do garoto cabisbaixo.

— Preciso respirar — respondeu sem levantar a cabeça massageando o peito — estou aflito.

— Não podemos parar aqui, o exército deve mandar abatedores para os que fugirem do ataque — disse levando a visão.

— Ataque? Você disse que os barões tentariam fazer o acordo da graça.

— Mesmo assim, alguns não aceitarão e certamente fugirão.

Ravih levanta do chão e anda até seu cavalo. De um recipiente pendurado em sua cela tomou um gole de água.

— Eu sinto uma forte dor em meu peito. Tenho tanta coisa em mente, não sei se aguentarei esse fardo, por mais forte que eu tente me projetar, e-eu... eu... — hesitou um pouco em continuar aproveitando mais um gole da água de seu cantil para cortar sua fala.

— Você o quê?

— Eu não sei, tudo tem acontecido tão rápido, meus sonhos, meu treinamento... o que vi no deserto... parece que estamos realmente no caminho do fim. Há tanto sobre mim que eu ainda não disse...

Dário voltou a atenção ao garoto sentado no chão.

— Não é hora pra reflexões, vamos! temos que sair da estrada.

— Não faz sentido deixar todos para trás.

— Mas e o que você quer fazer? Olha, eu acompanhei sua jornada, eu vi tudo que fez, eu acredito em você, mas você não é um exército de um homem só.

— Nem nunca serei — respondeu.

— Shish... — Dário finalizou a conversa de Ravih com um sussurro preocupado — Olha...

Vindo do rumo em que cavalgavam, uma carruagem se aproximava balançando na estrada. A carruagem se destacava abaixo de grandes nuvens negras que vinham mudando o tempo, como se junto viesse a precipitação de mal presságio.

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora