Festival de Despedida

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Eram mais de cinquenta jardas, a altura da ponte de luz que Ravih cruzava. Ele não sabia se estava andando, pois não sentia suas pernas, mas, de alguma forma, avançava pela passarela. Um grande som vinha dos céus, harpas dedilhadas e instrumentos de corda pacificavam o momento. Ele não se lembrava como chegou na ponte, só andava ou flutuava em direção a uma escadaria, com degraus que circulavam a imensa torre suspensa no ar, à sua frente. Depois de um clarão preencher os limites de sua visão, se via agora acima das nuvens, flutuando num lugar que conhecia. As árvores jimbo sempre floridas, entregaram, estava em Cravo e Rosa.

Deitado na singela cama de seu quarto, Ravih abriu seus olhos, ainda imóvel encarava o telhado, enquanto pensava nas responsabilidades que foram atribuídas a ele.

— Que sonho estranho — pensou. — Estou me sentindo estranho, meu corpo dói.

— Mãe? — disse, se levantando e se sentando na beirada da cama. Repetiu — Mãe?

Tania estava sentada à mesa da cozinha, com a cabeça entre os braços. Não conseguiu dormir, passou a noite em claro, em prantos. Na última noite, o Barão Leonard sentenciou Ravih ao exílio. Depois do festival de celebração da colheita, Ravih deveria partir, a fim de descobrir seu papel, segundo as visões dos monges.

"— Uma criança, Ravih é uma criança! Não me peça isso meu barão, eu imploro não me peça isso..." foram as palavras de desespero e preocupação de uma mãe, ao Barão.

— Venha aqui Ravih, me dê um abraço — disse, abrindo os braços em arco, para receber o amparo do filho. Ravih tentou disfarçar o medo e dúvidas que sentia, para acalmar a mãe.

— Tá tudo bem mãe, eu vou, mas eu volto. Eu vou voltar pra casa.

— Não está tudo bem Ravih! Você é só uma criança —retrucou.

— Eu vou estar com um adulto, mãe, você não ouviu o barão?

— Não importa quem ele determine pra te acompanhar, você é só uma criança.

— Mãe, eu vou voltar e quando eu voltar, vamos ao Rio Ambrósia juntos, eu prometo — disse, se afastando do abraço. —Posso ir me despedir dos meus amigos?

— Vou te preparar o desjejum.

— Não precisa, eu não tenho fome. Quero aproveitar meu último dia aqui — disse, com aparente tristeza.

— Raviiih! — soou a voz de fora da casa.

— Vai filho, vai... — disse Tania, com um sorriso mais triste que um choro.

— Raviiih!! — gritava Hanna.

Ravih antes de sair, pega seu canivete e uma fruta para quebrar o jejum e sai com um sorriso no rosto, como sempre fazia.

— Caramba, seus olhos... eles não voltaram ao normal mesmo?!

— Eles combinam com seus cabelos, Hanna, não acha?

— Talvez você devesse pintar seus cabelos, então!

— Ou você, seus olhos — disseram, em tom de brincadeira.

— Vamos. Onde estão Celsius e Mako?

— Eles não apareceram ainda, mas devem estar na Praça Vilarejo das Flores, estão fazendo os preparativos para a celebração de hoje à noite.

A caminho da praça, Ravih percebe que os aldeões o seguem com os olhos, disfarçadamente.

"— Será que já estão sabendo?" — perguntou a si mesmo. Bom, ao menos Hanna ainda não tinha falado nada sobre a visita do barão, então, ela certamente não sabia. — Imaginou, então, que estivesse vendo coisas.

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora