O canto dos galos anunciava a chegada de um novo dia em Cravo e Rosa. E alguns trabalhadores já estavam a postos, retirando as bandeirolas que haviam quebrado as linhas e sacudiam como a rabiola de uma pipa presa aos postes. O vento ainda espalhava o cheiro de bebidas e urinas dos becos que foliões usaram para se aliviar. Era comum ao chão, muitas garrafas de bebidas misturadas, espalhadas por toda a cidade junto as folhas e lixos que predicava os sinais de dias de muita comemoração.
Hanna saiu pela porta dos fundos de uma estalagem, tentando não chamar muita atenção, empunhada com um arco grade, com duas flechas à mão, andava apressada e cautelosa. Se dirigindo a área dos estábulos atrás da estalagem de seu tio. Tinha a expressão em seu rosto de zangada e conversava consigo mesmo.
— Idiotas! não, a boba sou eu... — dizia balançando a cabeça em sinal de negação. Andou até um poste da cerca de madeira e amarrou um lenço branco na altura de seus olhos.
— O que me dá mais raiva é que foram sem nem se despedir de mim, mas melhor assim — disse, com poucas verdades.
— É melhor, porque eu nem tinha o que falar com eles mesmo... bando de idiotas! — continuou Hanna resmungando.
Hanna dá alguns passos se distanciando do lenço que se move com o vento e levanta com a mão direita uma das flechas apontado a ponta para o alvo, alinhando a visão com um dos olhos fechado.
— Perto demais — disse, se afastando ainda mais do lenço, chegando quase do outro lado do terreiro. Ela posicionou a flecha acima da empunhadura, e puxa suavemente o cabo do arco até sentir seus músculos do braço vibrarem com a tensão e então desferiu um disparo, que fez um som do corte do ar junto com o ruir do cabo do arco. A flecha percorreu rapidamente a distância, cravando-se no lenço na madeira.
Posicionou a segunda flecha e puxou o cabo agora com mais rapidez, nem ajustou os olhos para alvo, disparou a segunda flecha certeira na parte de baixo do lenço. Ficou encarando as flechas no lenço com o olhar vago, ainda chateada com os amigos que partiram sem uma despedida adequada.
— Porque Ravih não veio me ver? — disse em voz alta.
— Bela pontaria — soou uma voz masculina atrás dela, que a fez se assustar e responder com o movimento do corpo virando em direção do homem.
— Poderia devolver meu arco agora? — disse o homem apoiado com o ombro num encosto de uma das vigas da hospedaria.
— Aqui em Cravo e Rosa é comum roubar armamentos dos hospedes? — perguntou a voz com deboche.
— Não, não senhor, eu só queria... treinar um pouco, não queria roubá-lo — disse Hanna, indo em direção ao lenço preso por flechas.
— Tem uma bela pontaria dama, treina a quanto tempo?
— Dama? Pareço uma dama? — disse, removendo as flechas presas na madeira.
— Quantos anos a senhorita tem então?
— Quinze — respondeu, dando pouca importância para o cavaleiro — seu arco é diferente de qualquer outro soldado que já tenha se hospedado aqui, de onde você é?
O soldado mediu a garota com um olhar, Hanna não aparentava ter disciplina militar, nem parecia uma caçadora — Onde aprendeu a atirar flechas? — tornou perguntar.
— De onde você é? — insistiu Hanna.
— Ah! não reconhece os símbolos de meu arco? — disse estendendo o indicador para a empunhadura cravada com um símbolo.
Hanna prestou um pouco mais atenção na empunhadura agora, e viu a caveira com as duas facas na mandíbula, um pouco desgastada, e com algumas marcas de tempo, mas logo entendeu o emblema.
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Aspirante à Obliteração
FantasyUm jovem de uma pequena cidade chamada Cravo e Rosa, tem um encontro com uma entidade que o marca e o cerca de mistérios. Um ancião da cidade identifica que ele é provavelmente, o ser que fora professado há cem anos, e o exila, forçando-o viajar o m...