O Casamento da Fé

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Os céus pareciam ter presenteado a cidade de Elosfouth com um belo fim de tarde, o clima estava agradável para o evento ao ar livre. O cerimonialista Micha, andava de um lado para o outro dando ordens aos vassalos para que revisasse com perfeição cada detalhe, cada posição, e cada canto da imensa praça da igreja de Aphanael.

A mais de noventa sóis, Micha tem preparado e arranjado todos os aparatos para o grande casamento, o que viria ser pra ele o maior feito de sua vida.

— Tudo tem que estar perfeito! — disse Micha, passando os olhos na já lotada praça apreciando o fruto da ornamentação. Enquanto os populares de Elosfouth, se espremiam fora da entrada da praça, pois o evento principal era prestigiado apenas pelos mais altos clérigos, chefes de guerra, soldados condecorados, sobrenomes de legados e os sábios mais estudados de todo o país, mas, como manda a tradição os fiéis que vieram prestigiar o casamento, fazem uma grande multidão de oradores que vem trazer seus presentes de boa temperança para a Fé, e criam um caminho de oferendas pelo longo tapete vermelho que se estende pelas ruelas até a entrada da praça de Aphanael.

— Nunca vi tanta devoção — disse Micha ao analisar o mar de fiéis na área exterior.

A praça de Aphanael estava devidamente decorada para a ocasião. Um tapete cor de areia, grosso e felpudo percorria toda a entrada até o centro da praça, onde havia uma grande tenda montada com todo o capricho.

Um canteiro de flores brancas desenhava o caminho do tapete, e o volume de flores aumentava conforme mais próximo da tenda, criando uma verdadeira nuvem de flores. Candelabros de ouro com velas que perfumavam os ares e lutavam contra o vento para se manterem acesas, intercalavam suas alturas no caminho até a nuvem de flores. Bancos de madeira grossa com entalhes finos foram colocados devidamente alinhados dos dois lados da entrada e cada um deles tinha preso aos braços um véu de renda, bordados nas pontas e se ondulavam acima do nó, caindo em cascata pelo chão.

Micha andava entre os primeiros convidados, que já procuravam seus assentos, com sorriso simpáticos e poucos sinceros. A preocupação da cerimônia não o permitia sair de seu papel de preparador, como se fosse o seu próprio casamento.

— Se algo estivesse fora do lugar, tudo estaria fora do lugar — pensava Micha, encarando a orquestra com espanto.

— Não, não, não, não é assim que vocês devem se sentar — disse Micha para um músico na primeira fila.

— Com licença, e quem é o senhor?

— Ora quem sou? Sou o responsável por tudo, até por seus assentos — disse em retruque — vocês não são meros tocadores...

— Claro que não! Somos os melhores tocadores de todo o país — respondeu o maestro erguendo a batuta dourada como se preparasse um comando.

— Não me importa! você aí da "tromba" seu instrumento é muito grande, deve se sentar na última fila.

— Do que você entende de música? Não é "tromba" é tuba, e sentamos onde bem entendermos — disse o maestro.

Micha respirou fundo soltando os ombros em desgosto e então disse:

— Mestre... Maestro... tanto faz, a ordem dos assentos é; tuba, trompa, trombone e trompete, — disse apontando com os dedos os assentos — veja bem... até a roupa de baixo de suas calças foram escolhidas por mim, quando eu digo que devem se sentar da forma mais harmônica não me preocupo com o som, mas sim, porquê até esses instrumentos de ouro fazem parte da minha decoração. Arrume, e rápido, para que quando a Fé entrar por aquela bela passarela, a boca grande desse instrumento não seja a única coisa que ela vai conseguir enxergar. O casamento da fé é um evento que só acontece uma vez na geração, e não é como a coroação bárbara da força ou chata da justiça, mas é o dia mais sublime para a nossos Anjos, então arrume sua orquestra —ordenou, e saiu curvando seu corpo em retirada para a tenda central.

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora